Che Guevara segue como símbolo de resistência no futebol
Che Guevara teria completado 89 anos de idade no 14 de junho de 2017. Mesmo 50 anos após seu assassinato e a propaganda constante dos grandes meios de comunicação contra o guerrilheiro internacionalista, seu rosto e simbologia ainda são fortes no futebol, principalmente na várzea.
Publicado 08/10/2017 21:38
Che sempre foi sinônimo de rebeldia e resistência, por isso diversas torcidas estampam seu rosto em camisas e bandeirões, mostrando que a várzea é a resistência e rebeldia contra o futebol moderno que fica cada vez mais distante das grandes massas apaixonadas pela bola.
Em destaque algumas torcidas do Grande ABC que ostentam o guerrilheiro, como a Fúria do Morro, do Unidos do Morro de São Bernardo do Campo, a Centerlouco, do Centenário de Mauá e a Alilokos, do Aliados de Ribeirão Pires. Vale ressaltar a figura emblemática do torcedor Che da Fúria que com maestria empunha o bandeirão com o rosto do revolucionário.
“Minha aparência lembra a de Che desde que sou adolescente e naquela época eu já militava em movimentos e partidos de esquerda, coisa que continuo fazendo até hoje”, contou Dom Ernesto Fagundez, o Che da torcida Fúria do Morro.
Madureira é recebido por Che em Cuba
Em maio de 1963, Cuba vivia um momento conturbado. Um ano antes, os Estados Unidos haviam decretado o embargo comercial que até hoje perdura. O Ocidente capitalista virara as costas para a ilha comunista. Menos o time do Madureira, que no dia 11 desembarcou por lá e se tornou o primeiro clube de futebol a pisar no país após a revolução de 1959.
A aventura caribenha teve escalas na Venezuela, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México e El Salvador. Na ilha de Fidel, foram cinco jogos e cinco vitórias contra o Industriales (o campeão nacional), a seleção de Havana e combinados locais formados até por universitários. O último amistoso teve direito a encontro com o líder revolucionário Ernesto Che Guevara.
— Era uma simpatia. Os jogadores gostavam dele “pra burro” — disse Carlinhos Maracanã, presidente do clube na época.
O responsável pela excursão foi o ex-presidente José da Gama. Com o mundo querendo ver de perto o futebol campeão em 1958 e 1962, ele negociou viagens de diversas equipes pelo planeta. O próprio Madureira já havia feito, em 1961, uma volta ao mundo de 144 dias que até hoje é recorde de permanência de um clube fora do Brasil.
— Ele (José da Gama) já tinha uma visão empresarial naquela época. Via mercado onde muita gente não via — disse Ronaldo.
Cinquenta anos depois, o clube guarda escassos registros dessa aventura. Dos jogadores ainda vivos, muito pouco se sabe. Mas a lembrança está lá, como diria o próprio Che, sem perder a ternura.
Uniforme com rosto do Che fez sucesso em 2013
O Madureira resolveu lançar dois modelos especiais para relembrar a data no final de setembro de 2013, mas inicialmente apenas para o time de Futebol Sete. A camisa de goleiro tem as cores da bandeira de Cuba e o rosto do revolucionário argentino, enquanto o uniforme de linha é todo grená, mas também conta com a face de Che. O sucesso expandiu os horizontes da grama sintética e empolgou dirigentes.
“A gente foi pego de surpresa. A ideia foi do Carlos Gandola (vice-presidente de marketing), mas não sabíamos que teria essa repercussão toda. O estatuto do clube não permite que o time use em competições oficiais, mas queremos realizar um amistoso para que a camisa seja utilizada ao menos uma vez pelo time de futebol profissional. É um fato que merece ficar marcado, até pelo acolhimento da torcida”, disse o presidente do Madureira, Elias Duba.
Se normalmente pede cerca de 50 camisas por mês, o presidente do clube diz que somadas todas as remessas até agora, cerca de 2 mil modelos foram encomendados para a fornecedora de material esportivo. Na loja oficial, localizada dentro do clube, uma lista de torcedores esperam por uma ligação para poderem adquirir o manto por R$ 80.
Na análise de Carlos Estevão Soares, proprietário da WA Sports, responsável pela confecção dos uniformes, até mesmo o clima de manifestações populares teve impacto na popularização da camisa do ‘Tricolor Suburbano’.
“Você vê pessoas usando camisas com o rosto do Che Guevara nas ruas, então acho que essa homenagem caiu no gosto dos torcedores. Até a questão das manifestações pelo país ajudou. Estamos tendo uma procura grande, mas dentro da quantidade que conseguimos produzir normalmente. O clube também não quer fazer um lote muito grande e depois ficar com peças encalhadas”, disse Estevão.
Palmeiras e equipes cubanas de futebol revivem sonho de Guevara
Em setembro de 2013, o então ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) viu os primeiros resultados do intercâmbio que o Brasil e Cuba acordaram durante a última visita do ministro ao país, que é um expoente mundial nos esportes olímpicos. O que começou a vigorar está no campo de futebol, com o apoio do Palmeiras, que receberá o primeiro grupo de técnicos e jogadores cubanos, revivendo uma antiga parceria da ilha comunista com o Brasil, iniciada pelo lendário guerrilheiro Che Guevara
“Firmamos um convênio com a Federação Cubana de Futebol para facilitar o acesso do país a treinamento e preparação de equipes técnicas e jogadores no Brasil não apenas via entidades e federações, mas também via clubes”, explicou Aldo Rebelo, que presenteou René Perez Hernandez, do Comissionado Nacional do Futebol, com uma camisa do Palmeiras durante sua visita à pátria de Fidel Castro.