Temer chama Alckmin para conter ala tucana insatisfeita

Para garantir a rejeição da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República, por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, na Câmara dos Deputados, Michel Temer decidiu entrar na queda de braço interna do PSDB para tentar pelo menos neutralizar a ação da ala que defende o desembarque da sigla do seu governo.

Alckmin e Temer - DIVULGAÇÃO/PLANALTO

Após manobrar para indicar o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) na relatoria da denúncia contra ele na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, Temer tenta garantir a sua permanência na função, contrariando parte da bancada de parlamentares tucanos que defende a sua saída.

Temer utiliza todas as armas, inclusive o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Nesta segunda-feira (2), Alckmin disse à imprensa que a denúncia contra Temer não deve prosperar. A afirmação foi feita após encontro com Temer no Planalto que supostamente tratou de obras com recursos do governo federal em São Paulo.

“[Temer] Não pediu [ajuda] e eu reiterei a mesma postura que tive na primeira votação terei agora. Não vou interferir. Esse é um assunto dos deputados, cada um analisar o processo, verificar. Eu acho pouco provável que prospere porque já na primeira denúncia não prosperou”, declarou Alckmin.

Apesar de dizer que é um assunto dos deputados, o governador afirmou que é contrário à tramitação da atual denúncia contra Temer. Disse que o processo deveria “ser revisto”, pois “não é razoável afastar seis meses por uma denúncia”, mas não tratou do crime a ser investigado nem das provas.

“Depois de seis meses se você chegar à conclusão que é inepta, como é que você repara o prejuízo causado à pessoa e ao país? Então o modelo institucional nosso precisa ser revisto. Isso é coisa do Império”, argumentou.

Ao que tudo indica, Temer busca Alckmin na tentativa frear os ímpetos pela saída de Bonifácio da relatoria. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli, que é de São Paulo, defende a saída do correligionário da relatoria. A bancada tem reunião marcada para esta terça-feira (3).

A indicação de Bonifácio, que é ligado ao senador Aécio Neves (MG), foi interpretada como uma provocação de Temer contra a ala dos tucanos contrários ao governo.

Durante todo o fim de semana, Temer se reuniu com lideranças e seus advogados para discutir a situação da relatoria da denúncia. A estratégia é garantir um relatório favorável já na CCJ, mas dessa vez, sem que um relatório paralelo, como ocorreu na primeira denúncia contra ele.

O objetivo é evitar ao máximo o constrangimento de aliados que terão que fazer a defesa pública do governo, às véspera de um ano eleitoral. Para alguns deputados, ter que enterrar a denúncia é uma coisa bem diferente do que ter que defender Temer, votando favoravelmente a ele em um segundo relatório.