PIB de sete estados ainda deve encolher este ano
No início do mês, o IBGE anunciou que a economia brasileira teve uma alta de 0,2% no segundo trimestre deste ano em comparação com os primeiros três meses de 2017. No resultado acumulado de 12 meses, contudo, os números continuam negativos, somando um recuo de 1,4%. E não é só isso. A discreta retomada, embora tão alardeada, não é realidade para todos. É lenta, causada por fatores pontuais e desigual. Das 27 unidades da federação, sete devem ter queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017.
Publicado 11/09/2017 18:31
De acordo com levantamento divulgado nesta segunda (11) pelo jornal Valor Econômico, puxados pelo agronegócio, estados do Centro-Oeste e Sul crescem mais rapidamente. Na outra ponta, a maioria dos Estados do Nordeste deve seguir em crise, reforçando o fosso das desigualdades regionais.
O estudo "Mapa da recuperação econômica", dos economistas Everton Gomes e Rodolfo Margato, do banco Santander, busca antecipar o desempenho do PIB por unidades da federação.
O relatório estima que, na média nacional, o PIB deve crescer 0,5% neste ano. Mas, quando se analisa por unidade da federação, é fácil perceber que essa eventual discreta alta tem muito a ver com um bom resultado do agronegócio, e não com qualquer medida econômica levada adiante pelo governo, como a gestão Temer quer fazer crer.
A safra nacional recorde de grãos – que nada tem a ver com teto de gastos, ajuste fiscal, reforma trabalhista ou privatizações – é que deve puxar o crescimento das economias de Mato Grosso (5,1%), Maranhão (3,1%), Mato Grosso do Sul (2,4%), Goiás (2,2%), Santa Catarina (2%), Tocantins (1,9%), Piauí (1,7%), Paraná (1,7%) e Rio Grande do Sul (1,5%).
De acordo com o Valor, Rodolfo Magato explicou que o bom resultado do campo tem impacto direto sobre a economia desses estados, com crescimento do PIB agropecuário, mas também gera um efeito indireto, por meio do avanço das agroindústrias e das atividades de serviços.
“Na média nacional, o banco prevê que o PIB agropecuário vai crescer 8,5% este ano, acima do desempenho previsto para a indústria (+0,6%) e para os serviços (-0,1%)”, diz a reportagem.
Por outro lado, a situação é difícil para estados em que o agronegócio tem pouco peso e com setores industriais que não mostraram sinal de recuperação. O Rio de Janeiro, por exemplo, deverá ter seu PIB encolhido em 1,4% este ano. O setor de serviços, que representa dois terços da economia do estado, deve cair 2,3%, segundo o relatório.
“Os economistas preveem que o PIB de nove estados brasileiros terá desempenho abaixo da média nacional. Desses, cinco são da região Nordeste: Alagoas (-1%), Pernambuco (-0,6%), Bahia (-0,3%), Paraíba (0,1%) e Sergipe (0,1%). Outros dois estão localizados na região Norte: Acre (-0,3%) e Pará (-0,2%). Além do Rio de Janeiro, completa a lista o Distrito Federal, com queda do PIB prevista em 0,2%”, escreve o Valor.
Segundo Magato, o Nordeste, cuja economia foi impulsionada por grandes obras públicas de infraestrutura, sofre agora os efeitos da tesoura sobre o Orçamento. Com o discurso de que é preciso promover um ajuste fiscal, o governo reduziu drasticamente os investimentos, mas o déficit fiscal só faz aumentar.
O relatório do Santander aponta que, em Pernambuco e Bahia, a queda prevista do PIB tem relação também com o fraco desempenho de atividades industriais, sobretudo nos ramos metalúrgico e químico/petroquímico. Já o Ceará deve se destacar dos demais Estados da região Nordeste e crescer 0,5%, puxada exatamente pela melhora de atividades industriais, como a têxtil.
"A indústria também vai contribuir positivamente para o aumento do PIB dos Estados de Minas Gerais (1,2%), Espírito Santo (0,7%), São Paulo (0,5%) e Amazonas (0,5%). Nos casos de Minas Gerais e São Paulo, o aumento tem forte influência da produção de veículos. Espírito Santo deve ser puxado pela indústria extrativa. Amazonas, pela produção da Zona Franca de Manaus", diz a matéria.
Em crise, estados cortam programas sociais
Em meio à crise, os governos estaduais também miram na austeridade, em detrimento das políticas de combate à pobreza, justamente em um momento no qual o desemprego está em alta e a renda em queda. Segundo outra reportagem do Valor, de 2014 para cá, oito Estados acabaram com programas próprios de transferência direta de renda. Os outros, reduziram o número de beneficiários.
Segundo levantamento do jornal, mais de 400 mil famílias de baixa renda, ou em situação de extrema pobreza, foram afetadas pelo fim de benefícios ou pelo enxugamento de orçamentos estaduais. A estratégia é casada com a do governo federal, que já retirou 1,3 milhão de famílias dos cadastros do Bolsa Família, entre 2014 e 2017.
No Rio de Janeiro, estado em pior situação fiscal, o Renda Melhor, criado em 2011 para combater a pobreza extrema de forma integrada ao Bolsa Família, foi suspenso em junho de 2016. Assim, 122,5 mil famílias deixaram de receber o benefício.