FMU reduz grade e demite professores em massa, mas aumenta mensalidade
Durante sessão plenária da Câmara, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) manifestou rechaço às demissões em massa de 327 professores da FMU (Faculdade Metropolitanas Unidas). "Há um risco iminente de prejuízo aos estudantes, porque haverá uma sobrecarga de trabalho para os professores que continuam na instituição", disse o parlamentar.
Por Dayane Santos
Publicado 06/07/2017 13:41
Sob a justificativa de uma readequação na grade curricular do curso, a instituição de ensino superior demitiu professores , antes mesmo de concluírem o final do semestre, no final de junho. Alunos foram pegos de surpresa em meio as provas finais, que foram aplicadas por professores substitutos. A mudança atinge os principais cursos da universidade, como direito, enfermagem e administração.
Em seu pronunciamento na Câmara, Orlando Silva – que foi presidente da UNE – destacou que a FMU foi fundada pelo advogado Edvaldo Alves da Silva, mas foi comprada recentemente por um fundo de investimentos americano, a Laureate.
"Esse grupo só visa o lucro. E essa turma só vê a planilha na frente, não vê gente, não vê educação, não vê professor, não vê estudante. É uma lógica de tratar a educação como mercadoria", salientou o parlamentar, o que classifica com grave ataque à educação. E completou: "Faço um apelo para que a direção da FMU que recontrate cada um desses 327 professores, me somando à luta dos sindicatos que estão tentando reverter essa situação".
Assista o pronunciamento na Câmara dos Deputados
Como disse o parlamentar, para os alunos a perda é evidente. A universidade tem aplicado aumento das mensalidades a cada semestre. O último aumento aplicado para o próximo semestre, segundo os alunos, foi de 15%. No entanto, os cursos terão a carga horária reduzida ao mínimo exigido pelo MEC, com apenas três horas.
Outra reclamação dos alunos é o aumento de aulas à distância, apesar de terem escolhido um curso presencial. Isso porque, 20% do curso – já enxugado – passa de aulas presenciais para atividades a distância, com uma redução de 25%, passando de 4 para 3 aulas. Um grupo de alunos ingressou com ação na Justiça por considerar que se trata de uma quebra unilateral de contrato, com repercussão na qualidade de ensino.
Os estudantes também prometem se mobilizar. Além de ações na Justiça e o apoio à greve dos professores, os estudantes preparam uma série de protestos e reivindicam uma audiência com a direção da universidade.
"Nossa educação, em vez de ser tratada como direito fundamental, está sendo tratada como mera mercadoria em um utilitarismo que visa apenas ao lucro desenfreado", diz um trecho do abaixo-assinado organizado por estudantes da universidade na internet, intitulado "Contra o novo modelo acadêmico e precarização dos cursos da FMU", que já conta com quase 7 mil assinaturas.
De acordo com o estudante de Direito, Roberto Montanari, a indignação é porque "bons e experientes professores, com pós-doutorado, doutorado e mestrado, foram mandados embora numa clara manobra para reduzir custos".
"Não há por parte da Laurete uma preocupação em manter o corpo docente de qualidade que sempre foi o carro chefe da FMU. As mudanças na grade reduzem a carga horária do curso para o mínimo exigido pelo MEC, mas o mínimo não é suficiente", enfatiza o estudante.
O deputado Orlando Silva também manifestou a preocupação com a questão durante sessão da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (CTASP), do qual é presidente, nesta quarta-feira (5). Orlando apresentou um requerimento, que foi aprovado na comissão, para a constituição de uma Comissão Externa com o objetivo de realizar Diligência Emergencial por Violação dos Direitos dos Trabalhadores.
A comissão será composta por ele e os deputados Vicentinho (PT-SP) e Roberto de Lucena (PV, além de outros parlamentares que integram a comissão. O objetivo é mediar uma mesa de negociações entre a FMU e os representantes dos professores, para encontrar uma saída para a crise na instituição.
Assista à aprovação na Comissão
Professores
De acordo com informações do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), a mudança curricular resultaria no corte de 25% das aulas a partir de agosto. Ao demitir os professores, a instituição passou a exigir dos demais docentes a concordância com a redução de aulas, que de 4 horas passará a três, o que implicaria numa redução salarial dos profissionais, além de prejuízo para os alunos.
Na semana passada, em assembleia no Sinpro, os professores da FMU decidiram por unanimidade entrar em greve. A categoria reivindica o cancelamento das demissões e a suspensão da mudança curricular.
Para o sindicato, o corte linear da grade curricular fere a Convenção Coletiva de Trabalho. “A instituição está tentando praticar um verdadeiro estelionato curricular”, afirmou Celso Napolitano, diretor do Sinpro-SP. “A FMU vendeu cursos com 4 aulas por período e quer agora reduzir o número de aulas para três por turno, pelo mesmo preço cobrado do estudante e com prejuízo aos professores”, disse.