“Só viram a minha roupa”, diz a mulher da foto do atentado de Londres
Uma das fotografias do atentado de Londres foi usada nas redes sociais como argumento islamofóbico. Na imagem, captada pelo fotógrafo Jamie Lorriman, uma mulher caminha ao lado de um grupo de pessoas que estão socorrendo uma das vítimas.
Publicado 26/03/2017 00:44
Muitas pessoas disseram que ela estava passando ali com indiferença, sem se importar com o que havia à sua volta. A mulher da foto reagiu por meio de uma nota divulgada pelo coletivo britânico Tell Mama, que registra e denuncia os ataques contra a comunidade muçulmana no Reino Unido. “Há pessoas que só viram a minha roupa”, disse a mulher, que estava falando com a família no momento em que a fotografia foi tirada.
A mulher, que não revelou sua identidade, afirma que se sente “chocada e totalmente consternada” com a maneira com que sua fotografia circulou nas redes sociais. Um dos tuítes islamofóbicos mais divulgados foi o do tuiteiro norte-americano Texas Lone Star, que se define na rede social como partidário de Donald Trump e patriota. Ele a compartilhou em dois tuítes distintos. Primeiramente, afirmou que a mulher estava andando “tranquilamente, olhando para o seu celular, enquanto ao lado havia um homem agonizando”. Depois, ele fez uma montagem com duas fotos, comparando a atitude “deles” com a “nossa”. Outros tuiteiros imitaram a fórmula, assim como alguns veículos de comunicação.
“Para as pessoas que interpretaram e comentaram os meus pensamentos naquele momento terrível, eu gostaria de dizer que não só me sentia devastada ao ver as sequelas de um ataque terrorista tão chocante. Mas também tive de lidar com o choque de ver a minha imagem sendo utilizada em todas as redes sociais por pessoas que não conseguiram ver mais do que a minha roupa e que tiram conclusões baseadas no ódio e na xenofobia”, acrescenta a mulher.
Na nota, ela afirma que os seus sentimentos naquela hora eram de “tristeza, medo e preocupação”. “O que a imagem não mostra é que eu já havia conversado com outras testemunhas para saber o que tinha acontecido, para saber se podia ajudar alguém, mesmo que várias outras pessoas já estivessem socorrendo as vítimas”, observa.
“No momento que a fotografia foi feita eu estava falando com a minha família para dizer que estava bem e que estava voltando do trabalho para casa. No caminho, ajudei uma mulher a chegar até a estação de Waterloo. Naquele momento, eu pensava nas vítimas e seus familiares”, afirma.
O melhor testemunho em relação à reação dessa mulher diante do atentado é do próprio autor da imagem, Jamie Lorriman. Ele afirmou ao The Guardian que ela “parecia muito preocupada”. Estava no meio de uma cena terrível. Sua expressão (na foto) me diz que estava horrorizada com o que via e simplesmente precisava sair daquela situação. Todos nós que estávamos ali fomos alertados para que deixássemos a ponte (de Westminster)”, comentou o fotógrafo. Ao final de sua nota, a mulher agradece a Lorriman por tê-la defendido nos meios de comunicação.
O coletivo Tell Mama é uma das instituições mais importantes de defesa dos direitos dos muçulmanos no Reino Unido. Mama é a sigla para Measuring Anti-Muslim Attacks (Registrando ataques a muçulmanos) e Tell se refere a uma de suas prioridades, que é de não deixar que episódios como este passem despercebidos.