Luciana: “O PCdoB foi moldado no calor das batalhas do povo”
A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, abriu o ato político-cultural de celebração dos 95 anos do partido, realizado em Niterói, neste sábado (25), com um vibrante pronunciamento no qual destacou a trajetória quase secular dos comunistas e a posição do partido no atual momento de grave crise. Luciana ressaltou ainda a resistência dos comunistas ao golpe e à agenda antinacional, antidemocrática e antipopular e propôs a formação de uma ampla frente em defesa da democracia.
Publicado 25/03/2017 18:44
A história do partido, segundo Luciana Santos, se confunde com momentos decisivos do país, suas origens estão enraizadas nas lutas dos trabalhadores brasileiros por soberania, desenvolvimento e justiça social. Luciana, que também é deputada federal por Pernambuco, afirmou que “o PCdoB é contemporâneo da Semana de Arte Moderna de São Paulo, que colocou em outro patamar a cultura brasileira; é resultado da formação da nossa classe trabalhadora, da industrialização do país; e do impacto internacional dos ideais da Revolução Russa de 1917 que neste ano completa cem anos”. A dirigente comunista citou diversos militantes de grande destaque político e cultural e afirmou que eles “contribuíram com o patrimônio cultural e imaterial de nosso povo, bem como na formação da nossa identidade, projetando ideias, pensando o país e seus desafios”.
Sobre a conjuntura atual, Luciana definiu “um momento de gravidade singular na história política do país”, fruto de “um golpe de novo tipo (…) com o único intuito de produzir um atalho para chegar ao poder, agravou o contexto político, econômico e institucional”. Os comunistas, segundo sua presidenta, fazem “firme e consequente oposição à agenda antinacional, antidemocrática e antipopular em curso no país”.
Luciana Santos considera “imperiosa a tarefa de conformar uma frente ampla em defesa da democracia” e, para tanto, “o PCdoB faz um chamado para se construir uma convergência de forças em defesa da democracia, do Estado Democrático de Direito e do fortalecimento da política como legítimo instrumento de mediação dos conflitos e diferenças existentes na sociedade”. Fiel à sua trajetória de amplitude e defesa da unidade, os comunistas, segundo sua principal dirigente, consideram que “somente com a união de vastas forças – comprometidas com a democracia e com os avanços sociais, com clareza de objetivos, de rumos em torno da questão nacional – é que iremos superar a grave encruzilhada na qual o Brasil se encontra”.
Ao final, Luciana afirmou que “o PCdoB foi moldado no calor das batalhas do povo brasileiro. Trazemos conosco os sonhos, a esperança de quem não se cansa de lutar para ver um mundo melhor. Os motivos que inspiraram aqueles onze delegados presentes no Congresso de fundação do Partido Comunista do Brasil, há 95 anos, continuam os mesmos. Nossa luta é por emancipação nacional, por desenvolvimento e progresso social. Nosso porta-estandarte é a defesa do socialismo”.
Foto: Vitor Vogel
Leia a íntegra do pronunciamento:
Ilustríssimo prefeito de Niterói, Rodrigo Neves,
Estimadas autoridades, parlamentares, lideranças políticas e sociais presentes,
Aguerrida militância do glorioso Partido Comunista do Brasil,
Foi aqui, na cidade de Niterói, há exatos 95 anos, que 11 bravos lutadores, delegados em representação de outros espalhados pelo país, fundaram o Partido Comunista do Brasil. Sua história se confunde com momentos decisivos do país, suas origens estão enraizadas nas lutas dos trabalhadores brasileiros por soberania, desenvolvimento e justiça social. É o partido mais antigo do Brasil, e o com mais ideias novas para superarmos os desafios do presente.
Seu surgimento é resultado de uma conjugação de fatores internos e externos. O PCdoB é contemporâneo da Semana de Arte Moderna de São Paulo, que colocou em outro patamar a cultura brasileira; é resultado da formação da nossa classe trabalhadora, da industrialização do país; e do impacto internacional dos ideais da Revolução Russa de 1917 que neste ano completa cem anos.
Estimados companheiros presentes neste simbólico e caloroso ato, um povo sem memória é um povo sem história.
É neste sentido que desejamos realizar um reconhecimento especial à cidade de Niterói e a seu povo. A antiga Aldeia de São Lourenço dos Índios, a atual Niterói – fundada pelo cacique Arariboia, líder da luta contra os invasores franceses – é um lugar de gente avançada, com anseios dos mais elevados na defesa da soberania, democracia e justiça social.
O ato realizado hoje, de desapropriação da casa na qual foi fundado o PC do Brasil, é uma demonstração de compromisso em valorizar o resgate à memória política e cultural de Niterói, e do papel dos trabalhadores na construção do nosso país. Ao nosso prefeito Rodrigo Neves, forjado nas lutas sociais, o nosso reconhecimento e agradecimento.
Estimados convidados presentes neste histórico e combativo ato, os comunistas contribuíram de forma decisiva para a construção do Brasil. A atuação de suas lideranças na luta pela paz e contra o fascismo, na criação da Petrobras, no combate à ditadura e nas Diretas Já, produziu grande simpatia em grandes parcelas da intelectualidade brasileira.
Nomes como o dos escritores Graciliano Ramos, Jorge Amado, da modernista Patrícia Galvão, a Pagu; de artistas plásticos como Cândido Portinari, Tarsila do Amaral; do físico Mário Schenberg; de artistas como Francisco Milani, compuseram as fileiras do PC do Brasil. Destaque especial merece o mestre da arquitetura brasileira, Oscar Niemeyer, que fez das curvas sinuosas de nossos rios, o traço marcante de sua arquitetura.
É grande também o elenco de lideranças de nosso Partido que integra a galeria dos heróis e heroínas de nosso povo, que tombaram em nome dos interesses da Nação e dos trabalhadores. Chegamos aos 95 anos e já miramos o centenário, graças ao trabalho de várias gerações de revolucionários, de revolucionárias. Homenageio essas gerações citando quatro grandes lideranças: Astrojildo Pereira, Luiz Carlos Prestes, João Amazonas e Renato Rabelo.
Estes e tantos outros contribuíram com o patrimônio cultural e imaterial de nosso povo, bem como na formação da nossa identidade, projetando ideias, pensando o país e seus desafios.
Estimadas autoridades presentes, combativa militância comunista,
Os 95 anos do PCdoB ocorrem em um momento de gravidade singular na história política do país. Vivemos um golpe de novo tipo. A realização de um processo de impeachment, sem base legal, e com o único intuito de produzir um atalho para chegar ao poder, agravou o contexto político, econômico e institucional. Dita crise colocou o país em uma encruzilhada histórica que põe em risco a própria Nação.
Fazemos firme e consequente oposição à agenda antinacional, antidemocrática e antipopular em curso no país. O governo ilegítimo de Temer busca impulsionar uma agenda de redução de direitos, de desmonte do Estado, de abertura indiscriminada ao capital externo, que trará consequências gravíssimas para o Brasil.
Sempre defendemos o combate implacável à corrupção, sem seletividade, sem desvirtuação de objetivos. O combate à corrupção não deve servir para desconstruir o ordenamento institucional democrático, não deve incidir para tencionar ou mesmo quebrar o equilíbrio entre os Poderes. Não deve servir para destruir ativos econômicos estratégicos e empresas competitivas no mercado global, pois as consequências são mais desemprego e mais recessão.
É necessário que se respeite o poder soberano do povo, expresso no voto, nos fundamentos democráticos da Constituição, bem como as garantias legais, os direitos sociais e civis e os interesses nacionais.
Na história política do nosso país, sempre que a democracia foi maculada, o Brasil sofreu graves consequências; sempre que a democracia foi ferida o PCdoB pagou um alto preço.
A saída para a crise política e institucional não é a restrição à democracia. Não é a negação da política e da pluralidade de opiniões. O Brasil precisa ampliar a representação e a participação política do povo. A proposta de reforma política aprovada no Senado põe em risco o princípio do pluralismo político assegurado na Constituição, exclui legendas democráticas e progressistas, entre elas o PCdoB.
Se torna imperiosa a tarefa de conformar uma frente ampla em defesa da democracia.
O PCdoB faz um chamado para se construir uma convergência de forças em defesa da democracia, do Estado Democrático de Direito e do fortalecimento da política como legítimo instrumento de mediação dos conflitos e diferenças existentes na sociedade.
Somente com a união de vastas forças – comprometidas com a democracia e com os avanços sociais, com clareza de objetivos, de rumos em torno da questão nacional – é que iremos superar a grave encruzilhada na qual o Brasil se encontra.
Esta é a mensagem principal que o Partido Comunista do Brasil deseja deixar registrada neste ato que homenageia seus 95 anos de existência.
O povo tem ânsia de esperanças por saídas para a crise.
Acreditamos que, diante do desmonte do Estado nacional, da desindustrialização, bem como da quebra de setores estratégicos de nossa economia, se faz necessário renovar um projeto de país, que tenha como base a convergência entre as forças do trabalho, da produção e da indústria nacional.
Está na ordem do dia a formação de uma plataforma que estabeleça indicações para o enfrentamento da crise, que contribua para renovar os caminhos da construção de uma nação soberana, desenvolvida econômica e socialmente, plural e democrática.
Estimados companheiros, a cultura política do povo brasileiro é de lutas.
Vivemos tempos que não ocultam os desafios que temos pela frente. Mas a fibra e a capacidade de transformação do povo mobilizado pode mudar esta situação. Devemos conjugar as mais variadas formas de luta, inovar nas ações, ganhar as das ruas, disputando as ideias, e resistindo no Parlamento.
Não devemos nos intimidar, pois temos um legado a disputar! Foi decisão e prioridade política que permitiu o “sertão virar mar”, no milagre do São Francisco. Não é pouco o que nosso projeto fez pelo Brasil, suas repercussões estão guardadas no imaginário do nosso povo.
É por isso buscam desconstruí-lo diariamente, que insistem em jogar para baixo a autoestima do povo brasileiro, de pôr em dúvida sua capacidade de realização. É isto que busca a elite rentista, cosmopolita, sem compromissos com a Nação, e que possui aversão à presença do povo no centro das decisões políticas.
O PCdoB tem propostas para a saída da crise. E está disposto a debatê-las com outras forças políticas e outros setores vitais da sociedade, buscando caminhos para a instituição de um novo ciclo de desenvolvimento e progresso social, com democracia e soberania.
Somos um partido que, ao longo dos anos, construiu uma visão abrangente e madura sobre o Brasil, sintetizada em seu programa, que aponta para a necessidade de constituirmos um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, rumo estratégico para a construção de um socialismo de feições contemporâneas no Brasil.
Pode-se discordar do PCdoB, mas não se pode negar que se trata de um partido que, com sua visão, contribuiu para o enriquecimento do debate sobre os rumos do país.
Estimados amigos, companheiros de lutas e de sonhos por um novo Brasil,
O PCdoB foi moldado no calor das batalhas do povo brasileiro. Trazemos conosco os sonhos, a esperança de quem não se cansa de lutar para ver um mundo melhor.
Os motivos que inspiraram aqueles onze delegados presentes no Congresso de fundação do Partido Comunista do Brasil, há 95 anos, continuam os mesmos. Nossa luta é por emancipação nacional, por desenvolvimento e progresso social. Nosso porta-estandarte é a defesa do socialismo.
A democracia é imprescindível para o Brasil!
O PCdoB é imprescindível para a democracia brasileira!
Viva o PCdoB e seus 95 anos em defesa do socialismo, do Brasil e de sua gente!
Firme na Luta!
Foto: Vitor Vogel