Dia nacional do forró
A história do Dia Nacional do Forró surgiu a partir do Projeto de Lei (PL) nº 4265/2001, de autoria da deputada federal Luiza Erundina, na ocasião no PSB de São Paulo. A parlamentar é natural do Estado da Paraíba onde começou a militância nas ligas camponesas combatendo a ditadura. No dia 6 de setembro de 2005, Erundina viu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionar a lei 11.176/2005 que promovia por todo o Brasil a cultura nordestina.
Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeon e Sivuca são pedras fundamentais do que ficou conhecido como forró. A sanfona que traz o timbre característico ao ritmo é o ponto de união dos artistas. Este instrumento faz parte da santíssima trindade do forró tradicional que completa o trio com triângulo e zabumba.
“Muita gente pergunta o que é o forró. O forro na realidade é toda música tocada a fole. Por exemplo, a sanfona é um fole. E o forró, na realidade, quando começou não era um gênero musical. Forró era a casa onde se cantava e dançava a música nordestina”, explicou Reginaldo Silva, produtor e amigo de Luiz Gonzaga.
No ano passado, ele coordenou a exposição “Vida e Obra de Luiz Gonzaga”, iniciativa que percorreu vários estados do país.“Vejo grande interesse da juventude e dos estudantes de mestrado e doutorado que chegam com o caderninho na mão para registrar fatos sobre a vida do Gonzagão”, afirmou Reginaldo ao Diário do Nordeste.
De acordo com ele, a memória de Gonzaga está entre os três principais ícones que representam o Nordeste. “Enquanto Padre Cícero é lembrado na religiosidade e Lampião no cangaço, a obra de Gonzaga é imortalizada nas famílias, na religiosidade, na educação e no social”, ressaltou.
Legado musical
A cultura nordestina e a música de Luiz Gonzaga levaram o menino Gilberto Gil a tocar sanfona. A intimidade com o repertório de Gonzaga e também de Jackson do Pandeiro (um pouco menos) estão em gravações de Gil desde o ano de 1969 (17 léguas e Meia) passando pelos anos 70, 80 e desaguando nos 90 com o álbum Quanta. No ano 2000 Gil estourou com o forró Esperando na Janela (Raimundinho do Acordeon / Targino Gondim / Manuca Almeida), tema do filme “Eu, Tu, Eles” (Andrucha Waddington).
Em entrevista ao Estadão à época da divulgação do filme, Gil declarou sobre Gonzagão:"Ele foi meu padrinho musical. Minha primeira referência, primeiro ídolo, primeiro ícone – talvez o principal de todos", afirmou. Um ídolo que ainda “dá no coro”, como diz a letra de Óia eu aqui de novo (Antonio Barros) de uma fase em que Gonzaga andava esquecido.
A expressão paulista do forró
O sucesso de Esperando na Janela coincidiu com o boom do forró em São Paulo, que teve o seu reduto no bairro de Pinheiros. O produtor paulista Paulinho Rosa relembrou em entrevista à Folha de S.Paulo que foi um período de alta do forró. Apresentador do programa Vira e Mexe na rádio USP e proprietário há 15 anos da casa dedicada ao forró Canto da Ema, Paulinho respira forró.
“O Falamansa tinha acabado de explodir, a música "Esperando na Janela" tinha explodido com Gilberto Gil. Então o forró tava muito em alta. Tinha 300 casas na cidade. Dali em diante, conseguimos nos manter. A casa tem uma média boa, de 500 pessoas por dia em média, cinco dias por semana. São 2.500 pessoas por semana na casa. é um número muito significativo. Agora com a lei seca e a crise financeira, caiu um pouco. Estamos com 2.200 por semana”, afirmou o produtor, que articula a mudança do nome do largo da Batata para praça Dominguinhos.
“Ali (o largo da Batata) é um reduto onde há muita passagem de nordestinos, e Dominguinhos é um dos personagens culturais mais importantes do Nordeste e que escolheu São Paulo para morar”, disse Paulinho na entrevista de 2015. Nesta terça-feira, o Canto da Ema comemora o Dia Nacional do forró em grande estilo com a cantora Elba Ramalho, mestrinho e participação de Mariana Aydar.
Segundo Paulinho, forró ao estilo Luiz Gonzaga são poucos em São Paulo. Na opinião dele, a galeria Olido no centro de São Paulo tem uma programação consistente. Paulinho também falou à folha sobre a relação entre o forró considerado tradicional e outros estilos como por exemplo o grupo Falamansa, criada em São Paulo no final dos anos 90.
“Também é forró. A diferença está na temática das letras. Não dá para alguém que nasceu em São Paulo ficar falando de seca do Nordeste. Eles falam de amor, de relações, praia, outras coisas que tem a ver com a realidade dele. O xote do Falamansa é o mesmo de Luiz Gonzaga. A versão clássica do forró era o trio, com sanfona, zabumba e triangulo. Mas pode ser tocado com qualquer instrumento. Dominguinhos gravava com baixo e guitarra. Ele começou com cavaco, pandeiro e bandolim”, explicou Paulinho.
Apesar da música dos mestres trazerem predominantemente o aspecto cultural e cotidiano da região nordeste, o amor também é tema recorrente nos forrós nordestinos. Aliás, foi por causa de um amor que Luiz Gonzaga, ainda moço, teve que deixar o nordeste e acabou vindo para o sul do país. No matulão trouxe “xote, maracatu e baião”. Obrigada, mestre Lua!