Moro demora um ano e meio para abrir ação sobre propina ao PSDB
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância, recebeu nesta terça-feira (18) a denúncia do Ministério Público Federal contra os executivos Ildefonso Colares Filho, ex-diretor do grupo Queiroz Galvão, e Erton Medeiros, empresário ligado à Galvão Engenharia, na Operação Lava Jato.
Publicado 19/10/2016 12:32
Os empreiteiros são acusados por corrupção ativa pelo oferecimento de R$ 10 milhões em propina, em 21 de outubro de 2009, ao então presidente do PSDB Sérgio Guerra (falecido em 2014).
Segundo o MPF do Paraná, Sérgio Guerra e o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) teriam recebido o valor para barrar a CPI da Petrobras daquele ano. A denúncia sustenta que teriam participado dos acertos o então diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, e os intermediadores de pagamento de propinas Alberto Youssef e Fernando Antônio Falcão Soares.
Em depoimento em abril do ano passado, portanto um ano e meio atrás, Costa disse ao próprio Moro em depoimento que parte da propina recebida na sua diretoria foi repassada para integrantes do PSDB, PMDB e PP, além do PT.
Diferentemente do que afirmam os procuradores que apontam o PT como principal responsável pelo esquema da Petrobras, Costa disse que foi indicado para ocupar o cargo pelo PP em troca do compromisso de arrecadar para o partido 1% dos contratos das empresas que faziam parte do cartel, criado para combinar quais seriam as vencedoras das licitações.
No mesmo depoimento, Costa disse que Sérgio Guerra, ex-presidente do partido, morto em 2014, recebera propina para que não houvesse CPI da Petrobras, em 2009. Afirmou ainda que os R$ 10 milhões recebidos por Guerra foram pagos pela empreiteira Queiroz Galvão. O acerto teria sido negociado em um encontro entre Costa e Guerra em um hotel na Barra da Tijuca, no Rio. Na reunião, marcada pelo deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), Guerra teria determinado o valor da propina que gostaria de receber para impedir as investigações no Congresso.
"Fui procurado em 2009 ou 2010 pelo senador Sérgio Guerra, numa reunião no Rio, marcada pelo deputado Eduardo da Fonte. Para minha surpresa, quando cheguei lá, estava o senador. Do encontro resultaram duas ou três reuniões num hotel na Barra da Tijuca. O senador pediu que se repassasse para ele um valor de R$ 10 milhões para que não ocorresse CPI da Petrobras nesse período. Depois da terceira reunião fiz contato com a Queiroz Galvão, que honrou o compromisso. Foi pago R$ 10 milhões para o senador nesse período", afirmou Costa.
Em junho deste ano, foi vazado um vídeo que faz parte das investigações da Lava Jato mostrando uma reunião realizada em 21 de outubro de 2009, no Rio de Janeiro, que tratou do apoio do então presidente do PSDB, Sérgio Guerra. O encontro teria acontecido dois meses antes do encerramento dos trabalhos da CPI contou com a participação de Costa, Eduardo, empreiteiros e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano.
Na decisão desta terça, Moro ainda deu prazo de cinco dias para o Ministério Público Federal ‘esclarecer sua posição em relação a Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Fernando Antônio Falcão Soares, denúncia, arquivamento ou suspensão’.
“Quanto a Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Fernando Antônio Falcão Soares, provavelmente não foram denunciados por conta dos acordos de colaboração e das prévias condenações. Mas o Ministério Público Federal não explicitou os motivos”, disse Moro na decisão que recebeu a denúncia, tetando justificar a falha do MPF.