Do jeito que está, delação de Odebrecht não prende Serra nem Temer
A colunista Mônica Bergamo (Folha) divulgou nesta quinta (11) que apesar de render manchetes em muitos jornais, a delação de Odebrecht citando pagamentos milionários a José Serra e Michel Temer via caixa 2 foram recebidas com "alívio" por seus aliados. Isso porque, do jeito que foi feita, a delação não tem potencial para terminar em cadeira nem para o tucano ou para o presidente interino.
Publicado 11/08/2016 16:30
Esse argumento é de advogados de Serra. A delação de Odrebrecht diz que o tucano recebeu R$ 23 milhões para sua campanha de 2010, mas os recursos foram pagos no exterior. No Tribunal Superior Eleitoral, a doação registrada pela empreiteira representa apenas 10% desse valor. E, conforme o GGN já informou, há menção de pelo menos um depósito em conta de Veronica Serra.
"Como estão, os relatos poupam os personagens de serem enquadrados em acusações mais graves, como corrupção e formação de quadrilha. Contribuição não contabilizada [caixa 2] pode ser enquadrada como crime eleitoral, de punição branda e chance mínima de resultar em prisão", reportou Bergamo.
Depósitos em conta no exterior, assim como pagamento em dinheiro vivo, contudo, podem indicar enriquecimento pessoal. Na delação, Temer teria promovido um jantar com Marcelo Odebrecht e Eliseu Padilha, em 2014, ocasião em que pediu e recebeu R$ 10 milhões, em dinheiro vivo.
Bergamo escreveu que dependerá da força-tarefa da Lava Jato escolher se vai se comportar ou não como uma "pedra no caminho" de Serra e Temer. Em outros casos, os procuradores não aceitaram a simples versão de caixa 2, e insistiram na revelação das "contrapartidas", "o que enquadraria a doação dos recursos em propina pura e simples."
"Por isso, a delação que envolve Temer e Serra pode ainda sofrer alterações", acredita.
Essa estratégia de investigação vem sendo aplicada no caso do ex-presidente Lula, por exemplo. A grande mídia já divulgou, em mais de uma ocasião, depoimentos do executivo Leo Pinheiro (OAS) à Lava Jato admitindo ter feito benfeitorias ao ex-presidente, mas nunca em troca de favores. Os procuradores simplesmente não acreditam na tese de que Lula não teria feito nada em favor das empreiteiras.
No caso do sítio de Atibaia, há o esforço de provar que o ex-presidente é dono oculto da prioriedade registrada em nome dos empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar. Dessa forma, as reformas feitas com ajuda da OAS e Odebrecht no espaço caracterizariam lavagem de dinheiro.
Para Temer, contudo, há um fator determinante às investigações: se o impeachment de Dilma Rousseff se consolidar no final de agosto, o interino ganhará imunidade processual.
Outro ponto levantado pelo jornalista Janio de Freitas, na Folha desta quarta, aponta para o tratamento dado à Lava Jato pela força-tarefa nessa nova fase, em que as delações de Odebrecht atingem um arco maior de lideranças, extrapolando a barreira de denúncias feitas apenas para atingir politicamente o PT.
Janio apontou que o volume de vazamentos vem caindo e mesmo as poucas notícias que atingiram gente graúda, como Temer ou Serra, foram sumindo do noticiário nos dias seguintes.
Dessa forma, ele disse, a Lava Jato mostra uma contradição: vive pressionando por delações premiadas que entregam novidades quentinhas, mas quando as obtém, parecem insatisfeitos ou infelizes com o que ouviram.