Florianópolis tem pior mobilidade urbana do Brasil
Florianópolis tem o segundo pior índice de mobilidade do mundo e o deslocamento mais complicado entre 21 das principais capitais brasileiras. A conclusão está em estudo desenvolvido pelo pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Valério Medeiros.
Publicado 30/06/2016 10:30 | Editado 04/03/2020 17:13
Medeiros avaliou como a forma das cidades condiciona a mobilidade. A partir da identificação de rotas em que é possível a passagem de veículos, o pesquisador calculou o chamado "valor de integração" de cada cidade, com o auxílio de um software. Foram levadas em consideração a organização e a conexão das ruas.
No primeiro momento, os dados levantados foram das cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes. Na sequência, os dados foram confrontados com os obtidos em 164 cidades do mundo. A comparação foi feita na Universidade de Londres, onde a forma de abordagem do estudo foi criada.
— As cidades brasileiras foram as piores no contexto mundial. Uma das grandes contribuições para isso foi o processo de crescimento urbano sem planejamento global das cidades nas décadas de 1960 e 1970. Isso criou uma "colcha de retalhos", com desenhos diferentes entre os bairros. Ao longo do tempo, os pedaços não foram costurados, causando segregação espacial e perda de área nos deslocamentos — ressaltou o autor da pesquisa.
Quanto menor o valor do índice de mobilidade, mais labiríntica a cidade e, consequentemente, mais difícil o deslocamento de carro. Com a pontuação de 0,199, Florianópolis ficou bem à frente da segunda colocada, Rio de Janeiro, com 0,303. Porto Velho foi considerada a capital do Brasil com melhor mobilidade, com índice 1,458. No mundo, Florianópolis só perde para a cidade de Phuket, na Tailândia.
Explicações
Para o autor do estudo, o principal motivo das dificuldades em ir e vir de carro em Florianópolis é a geografia. O espaço em que a cidade cresceu tem muitos morros, montanhas, lagoas e dunas, o que causou a não-continuidade da malha viária. A falta de conexões entre os bairros gerou um mapa fragmentado.
O pesquisador sugere duas estratégias para amenizar o problema. A primeira seria criar novas ligações entre o Continente e a Ilha. A segunda é promover a integração entre vários meios de transportes.
Além disso, o estudioso avalia ser importante que as pessoas utilizem ciclovias para pequenos trajetos.
Ipuf destaca necessidade de planejamento
O presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Átila Rocha, ainda não conheceu detalhes da pesquisa, mas acredita que as conclusões tenham que ser analisadas com cuidado.
— A princípio me parece exagerado. A gente sabe que tem cidades do mundo e do Brasil com sistema de tráfego bastante complicado. Mas não resta dúvida de que temos sérios problemas de mobilidade urbana, que exigem planejamento e obras para que se consiga dar vazão ao fluxo que já temos.
Rocha também critica a falta de investimentos no planejamento da cidade desde a década de 70, destacando que as discussões sobre o novo plano diretor começaram somente em 2006.
— Estamos também discutindo o plano de gerenciamento costeiro, o plano municipal de saneamento básico e o plano habitacional. Florianópolis não tinha planejamento. Uma cidade com essas características, se não investir em planejamento, vamos ter um índice de qualidade de vida menor do que temos hoje.
Índice de mobilidade — ranking das capitais brasileiras (quanto menor o número, mais difícil a locomoção):
Florianópolis — 0,199
Rio de Janeiro (RJ) — 0,303
Salvador (BA) — 0,326
Porto Alegre (RS) — 0,350
São Paulo (SP) — 0,373
Vitória (ES) — 0,433
Manaus (AM) — 0,500
Aracaju (SE) — 0,512
São Luís (MA) — 0,586
João Pessoa (PB) — 0,597
Goiânia (GO) — 0,607
Natal (RN) — 0,640
Recife (PE) — 0,650
Belém (PA) — 0,651
Brasília (DF) — 0,656
Maceió (AL) — 0,788
Fortaleza (CE) — 0,811
Cuiabá (MT) — 0,836
Teresina (PI) — 0,861
Palmas (TO) — 0,963
Porto Velho (RO) — 1,458
Fonte Diário Catarinense