Arruda Bastos: O governo “Curupira” de Temer

Curupira, para os que não sabem, é uma figura do folclore brasileiro. Ele é uma entidade das matas, um moleque de cabelos compridos e vermelhos cuja característica principal é ter os pés virados para trás. Assim, ele engana caçadores e viajantes, fazendo-os perder o rumo certo. O governo interino do Temer tem, em todos os aspectos, se comportado como um Curupira: estamos sendo enganados e sem rumo.

Mesmo antes de assumir, Temer já estava “curupirando”: falou que ia reduzir drasticamente os ministérios, entretanto voltou atrás; ia nomear ministros de alto nível, todavia recuou para um fajuto time de investigados da pior espécie; falou em reduzir despesas e cargos, contudo só os aumenta, com a criação de mais de quatorze mil cargos e reajustes de salários de diversas categorias, inclusive do Judiciário, que já é privilegiada, elevando as despesas em aproximadamente 54 bilhões de reais.

Com relação às ações administrativas, extingui o Ministério da Cultura e depois o recriou; descontratou quatorze mil imóveis do programa Minha Casa Minha Vida e, agora, fala em contratar; afirmou que não voltaria com a CPMF e agora deseja ressuscitar este debate; acabou com a Controladoria Geral da República (CGU), a qual, por pressão, deve voltar… Só não cito outros vacilos do Curupira por falta de espaço neste artigo.

Na nomeação do seu Ministério, o Temer Curupira anda a uma velocidade de Fórmula 1. Em poucos dias, nomeou Romero Jucá para o planejamento e o exonerou; o segundo foi o Ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que exerceu por poucos dias a função e já deixou o cargo; o último que se fala é o Ministro da Advocacia Geral da união (AGU), Fábio Medina, o qual teve anunciada sua exoneração e agora o Curupira não sabe o que fazer. É mesmo um governo biruta de avião, tapioca e tudo de vacilante que existe.

Meus leitores podem até perguntar se algumas das exonerações ou medidas de recuo foram justas, e eu me apresso em responder que sim. Agora sou eu que pergunto: e as outras medidas tomadas contra a democracia, o povo, e o naipe de Ministros, também corruptos, citados na Lava Jato e em outras operações e listas como Furnas e Odebrecht, que continuam nas suas funções, por que não são substituídos e a “curupiragem” também não acontece? A resposta é clara: não é palatável para os patrocinadores do Golpe, políticos corruptos, grande mídia e o empresariado.

Quando chegamos na área econômica, o Curupira Temer vira os pés e parte célere para pagar os empresários, FIESP, bancos e o grande capital nacional e internacional, que financiaram o golpe no Brasil. O pagamento vem através das privatizações a toque de caixa, e a preço de banana, retirada de direitos trabalhistas e sociais, uma reforma na previdência contra os trabalhadores, e tudo o mais voltado para financiar o pagamento de juros e beneficiar a burguesia. O Curupira vira, então, uma fada madrinha a distribuir benefícios aos borbotões. O governo terceirizou a economia aos empresários e ao grande capital, como descrevo em artigo anterior Por Que Dilma deve voltar.

Como sempre, termino meu artigo com uma conclamação de luta e engajamento do nosso povo em prol da nossa democracia, haja vista que só assim vamos continuar trilhando os caminhos da distribuição de renda, ampliação dos programas sociais e manutenção de todas as conquistas dos nossos trabalhadores. Fora, Temer! Queremos nosso caminho de volta.

*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos Coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.