Umberto Martins: A grande vítima das crises do capitalismo
As crises do capitalismo decorrem de contradições inerentes ao sistema. São, por definição, perturbações cíclicas do capital provocadas pelos próprios capitalistas. Todavia, quem mais sofre seus efeitos são os trabalhadores e trabalhadoras.
Por Umberto Martins, especial para o Portal Vermelho
Publicado 29/04/2016 15:19
Recente estudo da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) comprova esta verdade ao indicar que 60% das negociações salariais foram concluídas em março com reajustes inferiores à inflação acumulada nos 12 meses anteriores (11,1%), o que significa rebaixamento dos salários reais.
O primeiro trimestre foi marcado pelo arrocho. Em média os acordos e convenções coletivas homologados no período consagram queda de 0,8% em janeiro, 0,3% em fevereiro e 0,1% em março. Dois fatores foram determinantes para este resultado: o crescimento do desemprego e a inflação também em alta, que tem o dom de corroer diariamente o poder de compra dos salários, operando uma perversa e furtiva transferência de renda do trabalho para o capital.
As estatísticas da fundação revelam ainda que o número de negociações coletivas concluídas com redução da jornada e redução dos salários subiu a 92 nos três primeiros meses deste ano, cerca de 35% do total computado nos 12 meses do ano passado. É outra consequência da crise, que deixa os sindicatos fragilizados e propensos a engolir sapos, fechando acordos que, em outras circunstâncias, seriam considerados inaceitáveis.
A redução da jornada sem redução de salários, além de conter o desemprego, teria outros reflexos positivos sobre a macroeconomia, uma vez que a preservação do poder de compra dos trabalhadores evitaria a contração do consumo, dificultando a transmissão da recessão para o setor de comércio e serviços. A contrapartida, neste caso, seria a redução dos lucros, coisa com a qual o patronato não concorda e as categorias, fragilizadas pelo desemprego, não têm força para impor. O capital não mede esforço para impor à classe trabalhadora o ônus da crise que ele próprio engendra.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) estima que até o final deste ano o exército de desocupados terá um acréscimo de 700 mil novas pessoas por aqui. Trata-se de um flagelo para milhões de seres humanos, que não castiga apenas os pobres e despossuídos do Brasil. A OIT prevê que o desemprego mundial, que não para de crescer e afetava 197,1 milhões no ano passado (cerca de um milhão a mais do que em 2014 e 27 milhões a mais do que nos anos anteriores à crise iniciada no final de 2007) deve ultrapassar a casa dos 200 milhões pela primeira vez em 2017.
Por estas e outras razões faz todo o sentido que a classe trabalhadora e o movimento sindical lutem também pelo desenvolvimento e defendam políticas públicas que promovem o crescimento econômico e a valorização do trabalho. Mas é preciso ter consciência de que as crises são inevitáveis sob o capitalismo e, além disto, o sistema de produção liderado pela burguesia, na medida em que amadurece, torna-se a cada dia mais hostil ao desenvolvimento das forças produtivas. Para solucionar o dilema será preciso superar o capitalismo e abrir caminho ao socialismo, o que de resto (a julgar pela história) não se faz sem revolução.