Golpe institucional e resistência popular no Brasil
A essência do golpe liderado por Michel Temer, Eduardo Cunha, José Serra, Gilmar Mendes, Nelson Jobim, entre outros, é a tomada do principal centro de decisões do Estado, o governo federal, por meio de um golpe via impeachment, com aparência de continuísmo, legalidade e legitimidade.
Por Fernando Marcelino*
Publicado 26/04/2016 16:54
A crise econômica e a instabilidade política crônica do sistema multipartidário durante o governo Dilma foram precondições para o golpe. Mais especificamente, após as manifestações de junho de 2013, fracassara o diálogo entre governo e povo, tornando o Brasil cada vez mais maduro para um golpe institucional.
Desde então os golpistas intensificaram a partidarização das instituições de Estado para desfechar um golpe Dilma num processo totalmente maculado pela fraude e pela manipulação. Mesmo assim os golpistas articulados por Michel Temer e um conjunto com outros atores no Congresso, Judiciário, Ministério Público, Polícia Federal, STF, TCU, ONG’s e entidades empresariais tiveram a mão amiga de diversos órgãos de mídia – sob o comando da Globo, Estadão, Folha de São Paulo e outros jornais, revistas e mídias digitais – em construir uma narrativa de normalidade do funcionamento das instituições.
Esta empreitada se ampliou visando reverter o desgaste da imagem e a erosão da legitimidade golpista depois do show de horrores na votação do impeachment pela Câmara dia 17 de abril. E agora é provável que a grande mídia participe de uma ampla campanha de informação que assentará as bases da autoridade do novo governo Temer.
Construir a legitimidade do governo golpista é crucial para o período de transição, quando Temer será presidente interino até o julgamento de Dilma pelo Senado. Trata-se da fase mais crítica do golpe. Neste momento estará colocado de maneira aguda o impasse entre a força dos golpistas e sua ilegitimidade democrática.
Nesta transição, o governo Temer precisa avançar com máxima velocidade para legitimar-se e neutralizar as forças que podem ser opor ao governo. Por isso, o governo Temer fará de tudo para impedir a reunião de forças políticas e das massas, ou parte delas, contra o novo governo.
A falta de reação é a chave da vitória do golpe. Tudo que se exige a fim de apoiar o golpe é simplesmente não fazer nada. Somente uma reação popular em cadeia pode fazer o golpe fracassar, o que exige mais comando, organização e unidade programática do que dispomos. Entretanto, o povo brasileiro já passou por desafios dramáticos e superou-os. Ôxalá que consiga se unir na luta contra a farsa do impeachment e vencer as batalhas ainda imprevisíveis em defesa da legalidade e da nação.
*Fernando Marcelino é militante do MTST-Paraná