Vanessa Grazziotin: O alvo é a democracia e a Constituição
Sem dúvidas foram grandes as manifestações desse domingo, 13 de março de 2016. Não pretendo discutir os meios de mobilização, a quantidade de dinheiro gasto pelos seus organizadores, que parece foi grande, ou o fato de o governo do Estado de São Paulo ter disponibilizado o metrô gratuitamente, ou seja recursos públicos foram utilizados.
Por Vanessa Grazziotin*
Publicado 15/03/2016 10:08
Também é desnecessário fazer qualquer análise sobre quem foi para as ruas (apesar de necessária), se 76% votaram em Aécio, 40% ganham mais de 10 salários mínimos, ou 91% eram brancos, mas somente sobre as razões que levaram tanta gente às ruas.
Essa é uma questão central e premente, o que mobilizou essa parcela da sociedade?
Alguns foram porque de fato desde sempre discordaram das mudanças efetivadas pelos governos Lula/Dilma, esses compõem a oposição ideológica;
Como bem destacou o advogado Werner Becker em entrevista ao site Sul 21, “Os quatrocentões paulistas e a nossa elite nunca aceitaram um metalúrgico, um retirante do Nordeste, no governo, com uma linguagem política, social que eles não toleram. Se fizermos um levantamento do governo do Lula, ele não fez nada de revolucionário, mas como não é um deles, eles têm medo de perder seus privilégios e poderes. ”
Muitos foram protestar contra a corrupção, e esses, quando viram Aécio, Alkmin e cia, logo vaiaram, xingaram e os expulsaram da manifestação; numa clara demonstração de que sabem que estes também estão envolvidos em graves esquemas de corrupção.
Sabem de que além de 5 citações em delações, existem fortes indícios do envolvimento do senador mineiro com o escândalo da lista de Furnas.
Alckmin também é identificado com o escândalo da Alstom e a recente denúncia de desvio da merenda escolar.
A corrupção, é de fato um cancro que deve ser diuturnamente combatida. Mas é fato, ela está sendo investigada só passou a ser combatida a partir dos Governos de Lula e Dilma, a partir da aprovação de leis da transparência, da autonomia e independência de fato do Ministério Público e da Polícia Federal.
Não podemos nos esquecer: que no governo FHC, quando foram privatizadas muitas de nossas estatais, provas não faltavam, mas as CPI’s foram barradas e as investigações. Da mesma forma, no caso da reeleição de FHC, os deputados que foram comprados por R$ 200 mil para aprovar a reeleição tiveram seus nomes publicados em jornais. Muitos pegos em gravações. O atual líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino, era peça chave. E que se fez? Exatamente nada.
Uns tantos pediam "fora Dilma"! Por quê? Esses pediam certamente por causa da corrupção, da crise econômica, do desemprego, da carestia, que todos os dias, todas as horas a mídia, as elites dizem que são coisas provocadas por Dilma, porque acham que a Dilma é culpada de tudo! Mas ninguém até agora apontou um fato sequer que possa se caracterizar crime de responsabilidade.
E a elite econômica e política do Brasil. Por que se empenhou tanto nas manifestações?
Porque fabricaram tantos bonecos infláveis para vender nas ruas? Porque enfeitaram a Fiesp com tantos patos?
Certamente não é para acabar com a corrupção, aliás é o próprio Moro, em nota publicada ontem, quem diz que a corrupção se manifesta tanto nas instituições como no mercado, basta ver quantas empresas nacionais e multinacionais estão também citadas na Lava Jato.
Vejamos o que diz a presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, Rosângela Lyra: “Se encontrarem crimes, queremos que os responsáveis sejam punidos, não importa de que partido sejam. Não buscamos a destituição do poder, e sim o fim da corrupção."
Portanto não é pela causa nobre do combate à corrupção que eles tanto querem apear Dilma do poder.
Isso tudo está divulgado, publicado, mas neste domingo, exatamente o dia das manifestações o jornal Estado de São Paulo publica o mais escancarado e desrespeitoso de todos os seus editoriais, com o título "chegou a hora de dizer: basta!", determinando o fim do governo Dilma, afirmando que "as manifestações devem impulsionar a máquina institucional pela destituição da presidenta" deixando claro que o fato jurídico, legal é o que menos importa. E a isso não se dá outra denominação, isso é golpe!!
Diz que "a presidenta não honra o cargo", mas não aponta qual crime ela cometeu. Diz que "ela é o principal entrave para a recuperação nacional". Mas qual recuperação? Para quem? Com que propostas?
O editorial fala também da indignação popular com a crise moral, mas jogam toda a culpa para o PT, como se as elites empresariais e os políticos do PSDB e DEM, parlamentares, governadores, prefeitos não estivessem também atolados nas denúncias e investigações. Mas contra isso nenhuma palavra!
Há sim, a tentativa de destruir direitos e garantias consolidados na nossa Constituição, como se fossem eles os responsáveis pela crise econômica.
Não por coincidência esses termos e propostas estão presentes em muitas análises de economistas neoliberais, como o Senhor Armínio Fraga, em propostas de muitos empresários e de alguns parlamentares, como por exemplo do senador Blairo Maggi, que deixou patente essas posições em um discurso proferido no último dia sete de março, no plenário do Senado Federal, onde ele se posicionou nos seguintes termos:
“Vamos falar claro: para o País sair desta crise é […] preciso fazer mudanças no atual quadro legal. Na Constituição de 1988 a palavra direito aparece 76 vezes; dever, 4 vezes; produtividade, 2 [vezes]; e eficiência, [apenas] 1 vez. Como governar um país que tem 76 direitos, 4 deveres, 2 produtividades e [apenas] 1 eficiência?
Não há escapatória. A saída da crise exigirá uma reavaliação dos sonhos criados por nossa Constituição”.
Se ligarmos o conteúdo do editorial do jornal e o discurso do senador Maggi, vemos que estamos diante de uma grande armação não para acabar com a corrupção, não para destruir e destituir pessoas, como Lula e Dilma. Mas para destruir um projeto, uma nação, um povo.
Nossa responsabilidade é procurar uma saída, mais do que uma para o governo e sim uma saída para o Brasil, nos marcos da Constituição e da legalidade.