Aécio foi citado na suposta delação de Delcídio, mas mídia esconde

A central de vazamentos da Lava Jato já deu demonstrações que a grande mídia atua seletivamente e publica versões para criar uma cortina de fumaça e esconder nomes graúdos da oposição. Na semana passada, a suposta delação do senador Delcídio do Amaral ocupou as manchetes destacando o nome do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma. Agora, em notas de rodapé, a imprensa diz que lideranças da oposição, como o senador e presidente nacional do PSDB Aécio Neves (MG), também aparecem no depoimento.

Furnas Aécio Neves e delator Youssef

Citado por vários delatores da Lava Jato como o doleiro Alberto Yousseff e Carlos Alexandre Rocha (Ceará), apontado como responsável por um esquema de propinas em Furnas, Aécio encabeçou as ações da oposição para tentar utilizar as matérias dos jornais como provas e correr com umprocesso de impeachmet no Congresso Nacional. Vários parlamentares tucanos e aliados da oposição subinaram à tribuna da Câmara e do Senado para dizer que esse seria o fim do governo.

Mas além da ganância pelo poder, a pressa da oposição demonstrou outro interesse: camuflar outros os nomes envolvidos nesse depoimento. Uma demonstração disso é o discurso do tucano. Na semana passada era de incluir a suposta delação de Delcídio no pedido de impeachment. Agora, diz que só vai incluir se vier a ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Nesta quarta (9), Aécio voltou a desqualificar a suposta deleção ao publicar um vídeo nas redes sociais em que diz que o depoimento é "mais uma tentativa de vincular a oposição, e claro, sempre, o meu nome, à Operação Lava Jato".

"Outras tentativas já ocorreram e foram arquivadas porque foram desmascaradas, porque eram falsas. Esse escândalo tem DNA: é do PT e de seus aliados", diz ele. Antes, a delação era verdadeira contra Dilma. Agora, é falsa quando é contra ele. "Nada, nada disso me intimida. Pelo contrário, aumenta minha determinação de continuar combatendo este governo", completou o tucano, que aproveitou para convocar para o ato golpista de domingo.

De acordo com matéria publicada na Folha de S. Paulo, no depoimento Delcídio fez referências a integrantes das cúpulas do PMDB e PSDB, além do PT. No entanto, diferentemente dos acessos que têm quando se trata de nome ligados ao PT, o jornal informa que "a reportagem não teve acesso ao contexto do suposto envolvimento desses políticos".

Mas não foi só isso. A Folha fez questão de dizer que Delcídio também fez referências ao senador Aécio, e enfatizou: "A simples menção feita pelo senador petista não indica que os citados cometeram crimes ou que serão investigados". O jornal informa que o nome de Aécio aparece tratando de sua atuação numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que permanece em sigilo.

Tucano blindado

Apesar das várias citações por parte de delatores que chegaram a dizer que ele era o "mais chato" cobrador de recursos da UTC, o grupo de procuradores da Lava Jato em Curitiba parece não se preocupar com isso. O Ministério Público chegou a arquivar uma acusação contra Aécio sem ouvir a principal testemunha.

Por outro lado, a principal justificativa para conduzir coercitivamente o ex-presidente Lula e apontá-lo como "beneficiário" do esquema da Petrobras são as palestras pagas por empresas investigadas na Lava Jato. Vale ressaltar que essa suspeita também é controversa, já que outro ex-presidente, o FHC, também recebeu pagamento por palestras de empresas investigadas. E mais, outros partidos também receberam doações equivalentes as recebidas pelo PT de empresas investigadas pela Lava Jato. Por que só as doações feitas ao PT são suspeitas?

O advogado de Delcídio, Antonio Figueiredo Basto, afirma que não reconhece os documento divulgados na semana passada: “Nego o conteúdo e a origem da delação. Estão divulgando documentos falsos, de origem desconhecida e manipularora”, disse ele.

Suspeita

De acordo com matéria da Revista Forum, parlamentares do PT no Congresso Nacional indicam que há fortes indícios de que a fonte das informações da revista IstoÉ, que deu origem à capa com a delação de Delcídio, teria sido um senador tucano citado na delação e que é amigo do diretor executivo da Editora 3, Carlos Alzugaray, filho de Domingos Alzugaray, fundador da empresa.

A operação da publicação da reportagem teria sido definida em reunião entre ambos, onde também ficou acertado que só seriam publicados os trechos que atingiram integrantes do PT, Lula e Dilma em especial.

A revista também teria chegado a Brasília na quinta a partir de uma operação especial que envolveu um esquema heterodoxo de envio do material. Se as investigações vierem a se confirmar, integrantes da bancada do PT já cogitam solicitar a cassação do mandato do senador por quebra de decoro parlamentar.