Clube alemão cria camiseta com lema "Não há futebol para fascistas"
O F.C. St.Pauli confeccionou uma camiseta para enfrentar um dos times da cidade de leipzig, o Red Bull, em um encontro que coloca frente a frente não só duas das melhores equipes da segunda divisão alemã, mas duas concepções opostas de futebol, dentro e fora do campo de jogo.
Por Miguel A. Conejos, no Fútbol Rebelde
Publicado 11/02/2016 15:29
O clube antifascista de futebol, situado no bairro de Sankt Pauli na cidade alemã de Hamburgo, F.C. St.Pauli, utilizará uma camisa diferente na partida desta quinta-feira (11) contra o Red Bull Leipzig. No peito da camiseta será exposto o lema "Não há futebol para fascistas".
O clube, que joga na Bundesliga II – a segunda divisão – e a sua torcida decidiram modificar a camisa, que foi apresentada na tarde de quarta-feira (10), como último ato de uma série de reivindicações que se sucederam no clube em relação ao Dia Internacional da Memória do Holocausto.
A torcida do St. Pauli mostrará, por sua vez, um grande mosaico com o mesmo lema no início do encontro, que colocará o clube contra o atual líder da competição.
Um encontro marcado por dois fatos alheios ao esporte
Apesar da importância desportiva do prélio, que enfrenta dois conceitos antagônicos de compreensão do futebol e de funcionamento de um clube, com as duas equipes situadas na parte de cima da classificação, a partida está marcada por assuntos alheios ao esporte e que são de transcendência especial.
De um lado, as declarações dadas pelo treinador do St. Pauli, Ewald Lienen, comparando o RBL com o fascismo. Em resposta a uma pergunta feita por um jornalista numa coletiva de imprensa, em que foi perguntado que achava da possibilidade de treinar um clube com um orçamento qualificado com paradisíaco como o do Red Bull, Lienen respondeu que "se a alternativa é deixar o futebol nas mãos do fascismo e do comércio, eu renuncio a essas possibilidades". Lienen se referia à torcida e ao patrocinado do clube, a empresa de bebidas Red Bull, que modificou o nem e o escudo do clube de Leipzig.
Pogrom nazista em 2016
Mais importantes foram as ocorrências que derivaram em uma grande violência no bairro de ConneWitz em Leipzig, uma região alternativa, muito semelhante a Sankt Pauli em Hamburgo.
Há um mês, a cidade de Leipzig, na antiga Alemanha Democrática, vivia um dos fatos mais lamentáveis da sua história recente. Centenas de neonazistas vinculados ao movimento de extrema direita Pegida, depois de uma manifestação convocada em seguida aos acontecimentos de Natal em Colônia, semearam o caos em ConneWitz.
Os fatos foram de tal gravidade que dezenas de casas, estabelecimentos comerciais e pessoas foram golpeados pelos neonazis, no que a polícia e os meios de comunicação qualificaram de ataque planejado. De fato, o ataque havia sido anunciado nas redes sociais por simpatizantes da ultradireita, como o “Storm on Leipzig” (tempestade sobre Leipzig).
O historiador Sascha Lange advertiu que este assalto era histórico, e não duvidou em assegurar que se devia “assumir como o maior ataque realizado por extremistas de ultradireita em lojas e moradias de Leipzig desde o pogrom de novembro de 1938".
Esperamos que a violência lançada por torcedores do Red Bull Leipzig em Connewitz não volte a acontecer; que a reivindicação da camiseta do St. Pauli, vá muito além de ser vestida só por um dia; e que o futebol, definitivamente, não tenha espaço para fascistas.