Oito detentos garantem vagas no Ensino Superior por meio do Sisu

Da CPPL II (Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto) foram aprovados dois internos. O primeiro obteve a média de 686,24 pontos e alcançou uma vaga no curso de Administração na Universidade Federal do Ceará (UFC). O segundo aprovado, por seu turno, foi aprovado em Matemática pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com a média de 626,12 pontos.

Advindos da CPPL III (Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto), dois detentos também obtiveram êxito no Sisu, sendo um aprovado para o curso de Serviço Social da UFC, com a nota 657,70, e outro, para o curso de Matemática da mesma universidade, com um total de 642,96 pontos. No ano de 2014, esses dois internos foram aprovados nos cursos de Matemática (IFCE) e Administração Pública (Unilab) por meio do Sisu e estão aguardando até hoje por uma autorização judicial para estudar.

Do IPPOO II (Instituto Penal Professor Olavo Oliveira) também foi aprovado um interno para o curso de Educação Física na UFC, com uma pontuação de 620,56 no Enem. Vale ressaltar que esse mesmo aluno, no ano passado, obteve aprovação no curso de Administração através do Prouni. No entanto, por falta de recursos financeiros para pagar o advogado que acompanhava seu processo, não conseguiu autorização judicial para ingressar no curso.

Uma detenta do IPF (Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura Costa) também obteve êxito no Sisu, com a média de 606,82 pontos, garantindo uma vaga no curso de Pedagogia da Uece.

Dois reeducandos da PFHVA (Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo) também se saíram bem no Enem 2015. O primeiro, com 626,22 pontos, foi aprovado no curso de Ciências Sociais da Uece, e o segundo, com a média de 604,50, poderá cursar Pedagogia na mesma universidade.

Os internos aprovados na UFC se destacaram no grupo de mais de 160 mil candidatos do Brasil que se postularam aos cursos dessa instituição. Os aprovados na Uece, por sua vez, concorreram com mais de 42 mil inscritos.

Um interno aprovado, que terá a identidade preservada para não influenciar no processo, resume a experiência da aprovação dizendo: “É muito melhor ser reconhecido como alguém que está buscando uma segunda chance do que como alguém que cometeu um delito. Todos merecem uma oportunidade de refazerem suas vidas dignamente. Sei que o preconceito é muito grande, mas isso não diminui as minhas forças. Eu vou mostrar que as pessoas mudam quando realmente desejam essa mudança. Nunca me senti tão feliz”.

O diretor da escola, Raimundo Nonato, atribui o êxito dos alunos ao trabalho realizado pelos professores da EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider. “Nossos docentes não se limitam apenas aos conteúdos pragmáticos do currículo, mas se preocupam, principalmente, em motivar esses alunos, mostrando que eles são capazes”. Além disso, o diretor lembra que os docentes do Ensino Médio realizaram aulões preparatórios durante todo o mês de novembro, com o apoio da Secretaria da Justiça do Estado.

Para Poennia Gadelha, coordenadora escolar, “essas aprovações marcam a história da educação no sistema penitenciário cearense. Estamos entendendo a prisão não somente como um espaço que priva o homem de liberdade, conforme preconiza a legislação, mas que oferece oportunidades concretas para aqueles que pretendem refazer suas vidas. O ensino superior, nesse sentido, poderá ser o início de uma nova história, uma história de superação e de sucesso”.

Os aprovados agora dependem da autorização judicial para ingressarem nos cursos. Caso sejam autorizados, poderão ser acompanhados às aulas por escoltas policiais ou monitorados por meio da tornozeleira eletrônica.

Saiba sobre o Enem PPL

O Enem PPL é uma versão especial do exame dedicada exclusivamente a adultos privados de liberdade e jovens sob medida socioeducativa que também inclui privação de liberdade. Para garantir a participação destas pessoas, as unidades prisionais e socioeducativas firmaram termo de adesão com o Inep, indicando um responsável pela inscrição e acompanhamento de cada candidato. No caso da região metropolitana de Fortaleza, esse acompanhamento é realizado pelos membros do núcleo gestor da EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, a saber: Raimundo Nonato, diretor, e as três coordenadoras escolares, Maria Aparecida, Poennia Gadelha e Sirlandia Dantas.

As provas utilizam o mesmo modelo e tem o mesmo nível de dificuldade do Enem tradicional, sendo composto por 180 questões, subdividas em quatro grandes áreas do conhecimento: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática e Linguagens e Códigos e Redação.

O Enem PPL ocorreu nos dias 1 e 2 de dezembro nas unidades prisionais que firmaram o Termo de Adesão com o Inep. No Brasil, o governo registrou a inscrição de 45,5 mil candidatos em privação de liberdade, o que representa um crescimento de 19% com relação ao número de inscritos em 2014, que contou com 38,1 mil participantes.

O boletim individual dos participantes do Enem PPL só foi divulgado às 0h do dia 14 de janeiro, último dia das inscrições no Sisu. Esse fato, segundo Poennia Gadelha, coordenadora escolar, “gerou um desconforto nos alunos, que se sentiram prejudicados por não poderem acompanhar diariamente a sua colocação nos cursos pretendidos, como ocorre com os demais candidatos”. Esse acompanhamento, conforme foi mencionado, é realizado pelo núcleo gestor da escola e divulgado diariamente pelos professores em cada unidade prisional.

Certificação

Os resultados do Enem PPL também podem ser utilizados para fins de Certificação de Conclusão do Ensino Médio pelas Instituições autorizadas pelo Inep. Para tanto, o candidato deve atingir o atingir o mínimo de 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento do exame e o mínimo de 500 pontos na redação.

Ao todo, 30 internos da região metropolitana de Fortaleza alcançaram a pontuação mínima para obter o certificado do Ensino Médio. Nesses casos, o detento poderá remir parte de sua pena em virtude da conclusão da Educação Básica, conforme garantem a Lei Nº 7.210, que altera a Lei de Execução Penal, e a Recomendação de Nº 44, do Conselho Nacional de Justiça.

Dos detentos certificados, a maior parte deles estuda regularmente na EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, o que é motivo de orgulho para os professores da unidade escolar, conforme destaca o docente José Wilson da Costa. “É muito gratificante fazer parte dessa caminhada de superação. Nós, professores, investimos em nossos alunos e acreditamos na capacidade de cada um deles. Não estamos surpresos com os resultados, mas estamos felizes. As aprovações motivam outros internos a buscarem a escola e a visualizarem novas perspectivas para suas vidas”.