Fórum Social debate resistência e alternativas na América Latina
Um rico debate marcou a programação do Fórum Social Mundial Temático na tarde desta quarta-feira (21). O teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul ficou lotado para discutir “América Latina, resistências e alternativas”.
Publicado 22/01/2016 10:26
Ao abrir o evento, Alfredo Peres Alemany, representante de Cuba, lembrou que o embargo ao país foi responsável pela retirada de 85% de seus recursos, mas que, apesar disso, “foi possível conservar as conquistas socialistas. Cuba resistiu e seguiu adiante”, o que ele atribuiu especialmente à consciência do povo em defesa de seu país.
Sobre a retomada de relações entre Cuba e Estados Unidos, destacou: “Não faremos nenhuma concessão. As relações com o Estados Unidos se darão sobre nossas bases e em condições de igualdade. O povo cubano tem resistido há mais de 50 anos; não vai claudicar e saberá resistir, se for necessário”.
O ativista recordou como era o país antes da Revolução Cubana e as profundas transformações que o governo de Fidel implementou. “O analfabetismo era altíssimo e ainda assim aquele povo foi capaz de compreender a revolução e fazer de Cuba o primeiro território livre da América.”
Aos poucos, a realidade foi sendo mudada: “Superamos o analfabetismo, conseguimos fazer uma das melhores medicinas do mundo e ajudar povos-irmãos que necessitem de nossa colaboração. Hoje, 85% dos cubanos têm a propriedade de sua casa. Portanto, asseguramos ao povo cubano o direito de viver com dignidade. E o nosso povo tem orgulho disso e está disposto a defender a revolução até as últimas consequências”.
Alemany destacou o apoio de Cuba ao Brasil na luta contra o golpe, bem como às demais nações latino-americanas que enfrentam ofensivas da direita, como Argentina e Venezuela, por exemplo. “Temos de construir uma América Latina cada vez mais unida contra o imperialismo, como sonhava Bolívar.” Ele lembrou que o povo latino-americano sempre esteve em luta e sempre houve movimentos de retrocesso, “mas temos a certeza de que são momentâneos e serão superados em nosso continente”.
Somos todos companheiros
A vereadora de Porto Alegre Jussara Cony (PCdoB) iniciou sua fala citando Che Guevara: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça, então somos companheiros”. Para ela, a frase representa o sentimento de todos aqueles que estão indignados “com as injustiças as mais violentas e criminosas da atual etapa da luta de classes”.
Jussara resgatou parte da história da colonização do continente latino-americano e enfatizou que não existe América portuguesa e espanhola, “somos todos uma só América”. Para ela, “a terra, a natureza e as nossas origens têm que contribuir para ultrapassarmos essa demarcação para forjar unidade para o enfrentamento dos dominadores de hoje”.
No caso do Brasil, disse, trata-se da “oposição de direita, neoliberal e conservadora, expressão política e ideológica da dominação e do atraso, buscando abrir caminhos e acumular forças para um prolongado processo de emancipação de classe”.
Jussara também destacou a Primavera das Mulheres e a Marcha das Margaridas como expressão da resistência e luta femininas como parte da emancipação da sociedade. “São estas mulheres que representam o povo brasileiro.”
A vereadora colocou ainda que “temos de enfrentar essa direita com reformas estruturantes. Não vamos admitir retrocessos, nem golpes, contra aquilo que construímos. Queremos uma sociedade em que nossas diferenças e diversidades possam viver na igualdade e na solidariedade”.
Terminando sua intervenção, citou o compositor argentino Atahualpa Yupanqui, interpretado por Mercedes Sosa e Elis Regina: “Yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar y una hermana mui hermosa que se lhama liberdad” .
Extermínio negro
Reginaldo Bispo, do Movimento Negro Unificado, falou sobre o extermínio do povo negro, especialmente da juventude e citou o Mapa da Violência. O levantamento mostra que de um total de mais de 36 mil vítimas de armas de fogo em 2012, mais de 28 mil eram negros. “Vivemos em um Estado genocida do povo negro. E o genocídio não se dá apenas pela violência, mas também pela pobreza, pela desigualdade, pela falta de atendimento em saúde, pela insalubridade, pela desnutrição”.
Para ele, “nós, negros, somos eliminados como mão de obra reserva que não será usada no projeto imperialista”. Bispo também criticou a PEC 2015, que altera a demarcação de terras indígenas, quilombolas e de unidades de conservação, estabelecendo que a decisão final a respeito passe a ser do Legislativo. Por fim, destacou que “nossas bandeiras são pontos de unidade na luta antifascista”.
Cidadão protagonista
A última intervenção coube ao ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra. “No mundo novo que queremos construir, cada ser humano deve ser sujeito e não objeto da política.” Olívio lembrou que, “na América Latina, temos uma rica história de resistência”.
Além disso, explicou que o pensamento humanista, da esquerda, precisa se definir como estratégico, de transformação e que a esquerda é um espaço que precisa ter contornos “claros para não se tornar porta de entrada para o oportunismo político”.
Olívio também destacou as dificuldades dos governos de esquerda uma vez que a estrutura do Estado foi pensada para beneficiar a elite econômica. “Vivemos uma contradição permanente no sentido de superar o modelo capitalista”, disse. Para o ex-governador, “não há solução mágica, nem meramente eleitoral, muito menos de curto prazo”. Na sua avaliação, é preciso fortalecer o trabalho militante e fazer de cada cidadão protagonista deste processo.
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