Mobilizações pedem libertação de Milagro Sala

A Praça de Maio, em Buenos Aires, voltou a ficar lotada na tarde desta segunda-feira (18) por manifestantes que protestavam contra a prisão arbitrária de Milagro Sala, líder do grupo Tupac Amaru e deputada do Parlasul.

De Buenos Aires, Ana Cristina Santos para o Vermelho

Manifestação pela libertação de Milagro Sala - La Campora

Sala foi detida no último sábado (16), na província de Jujuy, sob acusação de incitar a violência. Ela participava de um acampamento junto a organizações sociais, em frente ao Palácio do Governo de Jujuy, desde 14 de dezembro, em defesa dos postos de trabalho das cooperativas.

“Com isto que se passa em Jujuy querem demonstrar um poder que eles não tem. O povo votou, vamos respeitar a vontade do povo, desde que quem preside nos respeite e não se está respeitando. Está nos insultando. Faz um mês que estamos vivendo um inferno, todos os dias temos que sair em defesa de algo: da justiça, dos despedidos, contra as importações que vão deixar nossas indústrias vazias e agora, o cúmulo dos cúmulos, a prisão de uma mulher, a primeira presa política do nosso país”, denuncia Estela de Carlloto, da Associação Avós da Praça de Maio.

A prisão de Milagro Sala é mais um elemento do novo cenário político que a Argentina está vivendo com a posse do presidente Mauricio Macri, em 10 de dezembro último. Uma série de dispensas em massa de funcionários do setor público, que por sua vez contagia o setor privado tem por objetivo desmantelar o processo de distribuição de riqueza desenvolvido pelos governos anteriores de Néstor e Cristina Kirchner, ampliando a desigualdade e as diferenças entre ricos e pobres no país. Outras medidas econômicas estão em curso como a liberalização de importações que afetarão a indústria argentina fortemente.

Ainda nesta segunda, pouco antes do início do ato, o pedido de habeas corpus feito pela defesa de Sala foi negado. Informações do Jornal El Tiempo dão conta que ela iniciou uma greve de fome contra a perseguição política que vem sofrendo.

Durante o ato político líderes de diversas organizações sociais fizeram a denúncia da situação política, repudiaram a prisão e seu caráter político e a perseguição feita pelo governador Gerardo Morales. “Há 35 dias vem nos provocando. Querem que retrocedamos, mas não vão conseguir. Não vamos nos mover da praça porque, na Argentina, o protesto social não é um delito”; disse Marcos, membro da Tupac Amaru.

Entre as lideranças presentes estiveram os deputados Andrés Larroque, Eduardo de Pedro, Marcos Cleri, Gabriela Estévez, Rodrigo Rodriguez, Rodolfo Tailhade, Teresa García, Edgardo Depetri, Leo Grosso e Adrián Grana; os parlamentares do Parlasul Agustin Rossi, Daniel Filmus e Teresa Parodi. Também participaram representantes das Centrais de Trabalhadores Argentinos (CTA), de La Cámpora, Movimento Evita, Peronismo Militante, Novo Encontro, Corrente 26 de Julho, Martin Ferro, Kolina, Esquerda Socialista, MST, Convergência Socialista, PTS e Quebracho, entre outras.

Na semana passada os manifestantes também ocuparam a Praça em apoio ao jornalista Victor Hugo Morales, crítico ao governo Macri, que foi demitido sem causa aparente, mesmo faltando um ano para o fim do seu contrato. O “abraço a Victor Hugo”, além de um ato de apoio ao jornalista se tornou uma grande manifestação em defesa da Ley de Medios, que está sob ataque desde a posse do novo presidente argentino.

Saiba mais

Milagro Sala nasceu em 1954, em São Salvador de Jujuy (Argentina). É dirigente da Organização Tupac Amaru e deputada pelo Parlasul. Na Argentina, assim como no Uruguai, a eleição para o Parlasul acontece pelo voto direto. Em 2014 foi recebida pelo Papa Francisco e ouviu seu apoio a defesa dos direitos dos povos originários.

Ela foi detida em sua casa, na capital da província de Jujuy, por suposta “instigação a cometer delitos e tumultos”. Recentemente o governador Gerardo Morales decretou um reenquadramento das organizações sociais e aquelas que não se encaixem no perfil exigido perderão seus benefícios sociais e pessoa jurídica. Milagro Sala e representantes de outras organizações se opõe a esta disposição e o acampamento é uma das ações em repúdio a essa medida.

O governador de Jujuy tem acusado Sala, em várias ocasiões, de um suposto roubo de dinheiro do Estado mas a dirigente assegura que “eu não toco em nenhum dinheiro das cooperativas como diz Gerardo Morales. A organização tem mais de 100 cooperativas e eu não presido nenhuma delas”. Milagro também tem sido uma lutadora pela democratização da comunicação. Em várias oportunidades tem denunciado que os meios de comunicação tem censurado sua luta. “Há muitos companheiros que estão sofrendo discriminação e há meios escondendo isso.”