Líder curdo revela ‘negócios obscuros’ da Turquia
Um dos vice-presidentes do influente partido de curdos da Síria, União Democrática (PYD), Salih Müslim, comentou à Sputnik a situação na região, que piorou muito depois do abate do bombardeiro Su-24 russo por caças turcos perto da fronteira turco-síria.
Publicado 25/11/2015 13:53
Em primeiro lugar, ele disse que Ancara piorou a sua atitude bruscamente em relação ao seu partido e acabou o diálogo com o PYD.
“O momento de virada foi em Tell Abyad [cidade no norte da Síria libertada por tropas curdas de terroristas do EI em junho de 2015]. A transição desta região para o nosso controle barrou para os turcos um canal importante de comércio com os jihadistas. E, depois de Kobane, tornou-se pública ainda mais informação que mostra os seus negócios escuros”.
Falando da região onde foi abatido o Su-24 russo, Müslim disse o seguinte: “Esta região tornou-se um pântano intransponível de terrorismo. Na altura, o povo sírio tinha esperanças sobre a possibilidade de democratização mas, depois de intervenção de forças externas, estas esperanças foram destruídas. O avião russo foi abatido na fronteira turco-síria, perto de Latakia. Não há povoações turcomenas em massa nesta área [A Turquia declara que quer proteger este povo parente dos turcos]. Há dois anos que a Turquia contribui para afluxo de jihadistas a esta área, faz tudo para que eles se sintam bem ali. Dali foram expulsos tais grupos terroristas como a Frente al-Nusra e o Estado Islâmico. Ontem de manhã, os jihadistas penetraram de novo neste território usando armas pesadas. Os aviões russos atacavam os militantes que tentavam retomar estes territórios”.
O líder curdo disse também que os interesses econômicos e a vontade de controlar a região estão por trás do apoio turco aos terroristas.
Müslim também abordou o assunto das relações com a Rússia e os EUA: “O Estado Islâmico e os seus cúmplices são um inimigo comum para toda a humanidade. Esta ameaça deixou de ser local e tornou-se internacional e global muito rapidamente. Foi mesmo por esta razão que a Rússia iniciou a sua operação aérea e os EUA criaram uma coalizão internacional de luta contra terrorismo. Estamos prontos a apoiar todos que efetuam golpes contra os jihadistas. Não temos contatos políticos oficiais com os EUA. Os Estados Unidos, no quadro de suas ações militares, cooperam só com as Unidades de Proteção Popular curdas (YPG). Até o momento atual, não tínhamos possibilidade de estabelecer colaboração ativa com a Rússia. A Rússia ainda não se havia aproximado de perto à nossa região, ela atua no oeste. Penso que no futuro poderemos estabelecer diálogo sobre a cooperação militar com o lado russo”.
O político curdo também revelou os planos do seu partido: “O nosso objetivo é continuar existindo no quadro da Síria unida, mas com direitos de cantão autônomo. Nós criámos uma nova formação estatal. Este é o modelo da futura Síria. Se na Síria se iniciar o processo de criação de um novo sistema estatal, ele deve acabar na formação de um modelo ampliado que criámos em Rojava [região curda na Síria]. No quadro deste modelo os curdos vivem junto com árabes, turcomanos…”.
Nesta terça-feira (24), um caça russo Su-24 foi abatido na Síria. O presidente Vladimir Putin declarou que o avião foi abatido por um míssil "ar-ar" disparado de um avião turco F-16, tendo o avião caído em território sírio, a quatro quilômetros da fronteira com a Turquia. O presidente russo chamou o abate do avião de "golpe nas costas" por parte dos coniventes com o terrorismo.