Lula rebate especulações da mídia e seletividade da Zelotes
Numa contraofensiva às mentiras e factoides propagados pela grande mídia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem concedido mais entrevistas. Nesta quarta-feira (18) ele participou do programa do jornalista Roberto D’Ávila, na Globonews, em que classifica como “grave” o andamento das investigações da Operação Zelotes, que utiliza um critério seletivo quando se trata de pessoas que têm alguma relação com ele, como seu filho Luís Cláudio.
Publicado 19/11/2015 10:38
O ex-presidente salientou, no entanto, que caberá a ele provar que é inocente, “porque está sob a mesma Constituição” que os demais brasileiros, mas disse que não se pode aceitar o “disse me disse” e o vazamento seletivo de informações.
“No meu governo, começou a se investigar tudo. Acho que as investigações estão fazendo com que a população sonhe que este país será mais sério. Este país está preparado para isso, doa a quem doer. Agora, acho grave o vazamento seletivo de informações. Mesmo assim, avalio que o resultado final de tudo isso será benéfico para o Brasil. Todos os 204 milhões de brasileiros terão que cumprir a lei, fazer as coisas corretamente”, afirmou.
Sobre a polarização política e o clima de ócio, Lula declarou: “A democracia não é um pacto de silêncio. A democracia é uma sociedade em eterna efervescência, se mobilizando, se organizando tentando conquistar coisas. Pobre é o país em que a sociedade não se manifesta. Nós vivemos o mais longo período de democracia da história desses país, portanto, se as pessoas quiserem bater panela, bater cabeça, pode bater tudo”.
E advertiu: “Agora, o importante é que se respeite a democracia e não negue a política porque fora da política não existe saída”.
Seguindo a linha da grande imprensa, o jornalista acusou a esquerda de ter estimulado a atual intolerância política citando como exemplo a campanha eleitoral disputada pelo tucano Mário Covas, em São Paulo, em que, segundo ele, dirigentes do PT diziam: “Temos que bater nas urnas e nas ruas. Muitas vezes o senhor falava também do ‘exército’ do Stédile”
Lula foi enfático: “Por que você lembra disso, mas não lembra que em 1994 eu fui para a rua para defender a eleição de Mário Covas contra o Maluf? Quem em 1998 eu fui para rua para eleger o Mário Covas, quando o Maluf quase ganha as duas no primeiro turno? Quando o PSDB veio apoio a Marta Suplicy aqui em São Paulo em que nós ganhamos as eleições?”.
E acrescentou: “Ao invés de ficar adjetivando a intolerância eu vou dar o meu exemplo de governo. Eu duvido que na história deste país tenha havido um presidente que tenha estabelecido uma relação com a sociedade que eu estabeleci, com empresários, banqueiros, trabalhadores, catadores de papel, as minorias, com negros, com índios, enfim, com todos. Entendo que é necessário governar para todos, mas tendo um olhar para aqueles que mais precisam, ou seja, o Estado tem que tratar melhor aqueles que mais precisam”.
Indagado pelo fato de ter sido responsável pela indicação da presidenta Dilma Rousseff, que não exerceu cargo eletivo antes de ser eleita presidenta, Lula salientou que Dilma “é uma pessoa que tem carácter, compromisso e que tem história”.
“Se uma pessoa para ser presidente da República precisa ter sido vereador ou deputado, o país não teria problema porque sempre foi assim. O que precisamos é de pessoas que tenham compromisso com o Brasil, como a Dilma tem”, frisou.
Lula resgatou os avanços conquistados nos últimos 12 anos. “Se analisarmos todos os números vamos ver que esse país teve um momento exitoso extraordinário. Nunca na história do país tivemos 12 anos de crescimento consecutivo”, lembrou.
Crise econômica
Lula também falou sobre as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo da presidenta Dilma Rousseff. Para ele, o entrave da crise econômica é o Congresso, que ainda não aprovou as medidas.
“A Dilma está certa em fazer o ajuste. O que está errado é que está demorando demais. E não é culpa dela. Nós temos uma crise política muito séria, há uma confrontação de um ano entre Legislativo com o Executivo”, disse Lula.
“Eu acho que tem uma crise política. Me parece que com a Câmara, o Cunha tem um poder muito grande. Os líderes partidários não têm a força que parecem ter. Os presidentes não mandam mais nos partidos, os líderes também não”, enfatizou.
Ainda sobre a política econômica, Lula definiu como “boato” e “bobagem” os rumores que apontam que ele vem defendendo a saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e a nomeação do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles em seu lugar.
“Eu às vezes vejo coisa escrita que fico pasmo. ‘Lula quer tirar Levy’. Eu não quero tirá-lo nem quero colocá-lo. O Levy, o ministro da Fazenda é um problema da presidenta Dilma”, afirmou.
Questionado sobre o que muda em uma eventual nomeação de Meirelles, respondeu: “Somente Dilma sabe. Eu estou vendo muito boato, muita bobagem”.
“Um ex-presidente precisa tomar muito cuidado para não dar palpite. É como se o ex-marido fosse aconselhar o novo marido como ele tem que cuidar da mulher”, brincou Lula.
O ex-presidente afirma estar convicto que a presidenta Dilma chegará ao final do seu mandato “muito bem”. “Qualquer coisa contrária a isso seria pisotear a Constituição. Não existe amparo legal para tirá-la”, afirmou.
Ele também falou de reforma política e o financiamento de campanha. Para Lula, a decisão pelo fim do financiamento empresarial foi positiva.
Segundo o petista, “a reforma política não sairá se a gente depender do Congresso”. “Só haverá reforma política se houver Constituinte exclusiva e proibição dos constituintes se candidatarem nas próximas eleições, para não legislar em causa própria”, explicou.