Para quebrar monopólio da Petrobras, FHC fingiu não saber de esquema
Com a ofensiva da direita conservadora, o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso resolveu botar a cabeça para fora do buraco e lançar o livro Diários da Presidência – volume I, com anotações dos dois primeiros anos de seu governo.
Por Dayane Santos
Publicado 21/10/2015 11:56
É claro que ele selecionou muito bem o que supostamente seria publicável e vendável, mas deixou escapar um fato – por um ato falho ou propositalmente – que confirma mais uma vez que ele sabia do esquema de corrupção na Petrobras.
Segundo o “diário” de FHC, ele teria sido alertado sobre um “escândalo” na Petrobras em 1996. O ex-presidente descreve uma conversa que teve com ninguém menos que Benjamin Steinbruch, o dono da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), a maior companhia siderúrgica da América Latina que foi privatizada em 1993. Steinbruch foi nomeado por FHC para o Conselho da Petrobras.
Relata o tucano: “Eu queria ouví-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a Petrobras é um escândalo. Quem manobra tudo e manda mesmo é o Orlando Galvão Filho, embora Joel Rennó tenha autoridade sobre Orlando Galvão”. FHC está se referindo ao então presidente da BR Distribuidora (Galvão Filho) e ao então presidente da estatal (Joel Rennó).
O que FHC não conta é que foi nesse mesmo ano que o jornalista Paulo Francis fez uma denúncia ao vivo na TV, durante o programa Manhattan Connection, sobre um esquema de corrupção na estatal.
Ainda de acordo com as anotações seletivas de FHC, o que tirava seu sono era que na estatal “todos os diretores da Petrobras são os mesmos do Conselho de Administração”.
E apesar de dizer no livro-diário que se tratava de “uma coisa completamente descabida” e que estava muito indignado, levando até a pensar que o fato necessitava de uma “intervenção”, o ex-presidente tucano admitiu que não fez nada.
“Acho que é preciso intervir na Petrobras. O problema é que eu não quero mexer antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso, e também tenho que ter pessoas competentes para botar lá”, diz.
Enquanto a oposição tucana tenta dar um golpe no mandato da presidenta Dilma Rousseff por atrasar pagamentos aos bancos públicos para assegurar os programas sociais, o seu líder FHC confessa que se omitiu diante de fatos em que ele mesmo admite a necessidade de intervenção, como presidente que era, mas se absteve para servir aos seus interesses e do mercado.
Quebra do monopólio do petróleo
Além dessa anotação do tucano que agora ele decide revelar, a história já mostrou que o verdadeiro interesse de FHC era privatizar a Petrobras e a entregar ao cartel internacional de petróleo.
A lei que FHC se refere é a 9.478/97, de paternidade de David Zylbersztajn – seu genro e diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) durante o seu governo. Ele liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil, realizando o primeiro leilão de áreas de exploração aberto à iniciativa privada, nos dias 15 e 16 de junho de 1999.
Foi justamente essa quebra de monopólio, tão esperada e desejada pelos tucanos, que facilitou os esquemas de corrupção na estatal. Então, apesar de tentar transformar a decisão de não intervir em uma ação cautelosa, os fatos mostram o contrário e mais, revelam que a preocupação não era de proteger e fortalecer a estatal, mas enfraquecê-la para entregá-la aos cartéis.
Esses fatos também são confirmados pelos depoimentos de réus confessos nas investigações da Operação Lava Jato. Embora os tucanos, com apoio da grande mídia, tentem mudar os fatos para favorecer seus interesses golpistas e criminalizar o governo PT, Pedro Barusco, ex-gerente da estatal e funcionário de carreira, confessou que os desmandos em propinas já existiam desde 1997, período citado por FHC.
Facilitou corrupção
Barusco detalhou em depoimento de delação premiada que começou a cobrar propina de empresas que pretendiam firmar contratos com a Petrobras, entre as quais, a empresa holandesa SBM. Na época, Barusco era gerente de Tecnologia de Instalações.
Ainda segundo Barusco, os pagamentos variavam de acordo com o valor do contrato, ou seja, não passava pelos caixas da Petrobras. Os valores dos contratos variam entre U$ 25 milhões e U$ 50 milhões, o que fez Barusco acumular uma verdadeira fortuna num curto espaço de tempo.
Entre as obras que tiveram pagamentos ilegais, o ex-diretor citou um acordo, firmado em 1997 ou 1998, para o fornecimento de um navio para a Transpetro.