Tarifas bancárias cobradas de clientes pagariam toda folha salarial
As tarifas bancárias cobradas pelos oito maiores bancos do país nos últimos três anos subiram 169%, percentual 8,6 vezes superior à inflação para o mesmo período, segundo apontou a associação de consumidores Proteste. Apesar disso, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) apresentou uma contraproposta aos bancários que nem chega a repor as perdas da inflação.
Por Dayane Santos
Publicado 20/10/2015 16:32
Nesta terça-feira (20), representantes dos bancários em greve e dos bancos voltam à mesa de negociações na tentativa de encontrar uma saída para o impasse e pôr fim à greve nacional da categoria, que já está no 15º dia. Esta é a primeira vez que grevistas e bancos se sentarão para negociar desde que a greve foi deflagrada, no dia 6 de outubro.
Em entrevista ao Portal Vermelho, o dirigente nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos, destacou que a greve é uma das mais fortes dos últimos anos.
“São mais de 12 mil agências paradas em todo o Brasil, só aqui na Bahia foram mais de mil agências que aderiram ao movimento, com uma tendência de crescimento da mobilização em razão da revoltante proposta apresentada pela Fenaban, que sequer repõe a inflação do período, além de não tratar dos demais itens da nossa pauta”, enfatiza o sindicalista.
A greve iniciou após quase dois meses de intensas negociações, sem sucesso. Os bancos apresentaram uma proposta de reajuste de apenas 5,5%, quando a inflação do período foi de 9,88%.
A categoria reivindica reajuste salarial de 16%, além de Participação nos Lucros e Resultado (PLR), vale-alimentação e refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá. Além disso, a pauta dos bancários inclui investimentos em segurança, ampliação das contratações, fins das demissões, substituição dos terceirizados, combate ao assédio moral e o fim das metas abusivas.
Mesmo em meio à crise na economia brasileira, os bancos foram o setor que não deixou de crescer este ano. Enquanto a indústria e o comércio, por exemplo, registraram recuo no primeiro semestre, o lucro dos bancos bateu recordes. Somados, os ganhos dos quatro maiores bancos cresceram mais de 40% no primeiro semestre, na comparação com os primeiros seis meses de 2014.
“Não há crise para o setor financeiro. Os bancos lucraram R$ 36 bilhões somente no primeiro semestre”, saliento Augusto. E completa: “Só com recursos arrecadados com tarifas cobradas de clientes, os bancos pagam toda a folha salarial e ainda sobra. De modo que eles podem atender a nossa pauta que visa melhorar as condições de trabalho e atendimento à população. É inadmissível que eles não apresentem uma proposta digna para os seus funcionários, penalizando a população”.
Trabalhadores e população do mesmo lado da corda
Para o sindicalista bancário, os clientes também são vítimas da ganância dos bancos, que usa a grande mídia para jogar a população contra o movimento grevista.
“Os bancos estão entre os maiores patrocinadores da grande mídia brasileira. Não há um telejornal, revista semanal e jornal de grande circulação que não tenha patrocínio de um banco”, lembra.
E acrescenta: “A responsabilidade pelos eventuais transtornos ocasionados pela greve é dos banqueiros, que apesar dos lucros fabulosos negam-se a promover uma negociação séria. Não queremos que a greve se prolongue por muito tempo, mas para isso, nossos patrões devem apresentar uma proposta justa”.
Augusto pediu apoio da população. “Pedimos a compreensão da sociedade porque enfrentamos o setor mais poderoso da economia que desrespeita bancários e clientes. Estamos do mesmo lado”, frisou.
Unidade e mobilização
Sobre a mobilização, Augusto Vasconcelos salientou a unidade da categoria em todo o Brasil e que a campanha salarial começou a ser preparada desde o primeiro semestre deste ano.
“Na Bahia, por exemplo, foram dezenas de encontros regionais, realizamos a maior conferência dos bancários do estado de todos os tempos, além de visitas em mais de mil agências bancárias, 204 manifestações em Salvador e inúmeras assembleias, cuja participação tem revelado um alto grau de envolvimento dos bancários com a nossa luta, superando as ameaças de demissão e descomissionamento utilizadas pela gestão das empresas visando enfraquecer a participação dos trabalhadores”, denunciou.
Ele frisa que a organização uma mobilização como essa em todo o Brasil não é tarefa fácil. “Do Acre ao Rio Grande do Sul as realidades regionais são distintas, com a presença de vários bancos diferentes e a presença de segmentos distintos dentro de cada banco. Apesar disso, temos conseguido uma unidade impressionante que serve de exemplo para outros trabalhadores mostrando que apesar das divergências é possível lutarmos conjuntamente contra a ganância do capital”, afirma.