UOL: O ombro amigo de Josias de Souza
O jornalista Josias de Souza, dizem, já conheceu melhores dias. Atualmente, é um dos exemplos mais comoventes da degeneração de um jornalismo que não ousa dizer seu nome. Um jornalismo despido de isenção, despido da mínima preocupação com aquilo que confere credibilidade à informação: a qualidade da produção jornalística. Um jornalismo que atenderia melhor pelo nome de panfleto. Além de tudo, um panfleto mal construído e de direita.
Publicado 01/09/2015 18:32
Nesta segunda-feira (31), em seu comentário no Jornal da Gazeta, da TV Gazeta, Josias de Souza, a pretexto de falar sobre o anúncio do déficit fiscal previsto para o orçamento de 2016, destila sua bílis contra o governo (veja abaixo).
Nada mais natural do que um comentarista político ter uma avaliação negativa e até mesmo dura, sobre ações do governo. Mas o tipo de tom adotado por Josias, e que hoje é comum (mas que não se conhecia quando o governo era de Sarney ou de FHC) é tristemente revelador. Reparem no vídeo a feição raivosa, um tanto teatral, que o “comentarista” adota em determinados trechos. Pouco ou quase nada de argumentos e muito de adjetivação “indignada”. Para Josias não existe crise internacional, existe apenas a “incompetência” do governo e, garante o jornalista que Dilma não conseguiria hoje “vender um carro usado”, entre outras coisas. Vendo o jornalismo de Josias entendemos porque as corporações midiáticas são contra a exigência de diploma para o exercício da profissão. Muita gente boa é contra, por outros motivos, mas o motivo da mídia hegemônica fica claro: para fazer o que Josias faz, não precisa realmente ser jornalista. Façam um teste. Peguem qualquer um destes alucinados que vão para a passeata golpista pedindo intervenção militar, e gravem um vídeo com ele. Peçam que ele comente sobre o anúncio do déficit fiscal. Se ele souber do que se trata – o que seria surpreendente – vocês irão perceber que a abordagem (talvez com as mesmas palavras) será muito idêntica à de Josias. Pois a opção não é por análises multifacetadas, ou que enriqueçam o raciocínio crítico de quem lê ou ouve comentários. É tudo preto e branco. Profissionais como Josias já escolheram, tendo em vista um determinado projeto político conservador, falar para um tipo de público que parece receptivo como uma esponja a qualquer vitupério contra o governo. E o jornalismo que se dane.
A fonte ministerial de Josias
Josias não merece credibilidade como jornalista, mas deve ter toda a credibilidade como militante político empenhado em derrotar o governo. Isso até o ministro da Justiça, que não é conhecido por sua perspicácia, sabe. Pois não é que este militante travestido de jornalista tem suas “fontes” dentro do Planalto? E não são fontes de pouca importância não. São fontes ministeriais. Em artigo publicado nesta terça-feira (1/9), no site UOL (grupo Folha) Josias garante que um ministro do governo procurou seu ombro amigo para chorar pitangas. Quem é o ministro? Ninguém sabe. Josias diz que sua fonte pediu o anonimato. Até aí nada demais. O recurso do anonimato das fontes é legítimo, mas deve ser usado, de preferência, quando as informações que a “fonte” presta podem ser checadas de forma independente. Quando, como no presente caso, as informações são subjetivas, e coincidentemente, encaixam como uma luva na visão pessoal do jornalista sobre determinado assunto, praticamente não existe informação real. Diz Josias que o ministro amargurado lhe confidenciou que os gestores da crise no governo estão “batendo cabeça”, e lamenta (o alegado ministro): “o desânimo se espraia pelo primeiro escalão do governo. Quando aceitei participar do elenco do segundo mandato da presidenta Dilma, sabia que não seria o protagonista. Mas não imaginei que viraria figurante de um filme sem roteiro, mal dirigido e com orçamento deficitário. Pensei em pedir para sair. Fui aconselhado a ficar. Isso foi há um mês. Desde então, meus dias são feitos de arrependimento”.
Josias: O ombro amigo
Busquemos especular o que levou o suposto ministro a desabafar. Carência? Seria este ministro um homem solitário? Não confia nos assessores, está brigado com a esposa, os filhos não o visitam, restou-lhe o velho e bom Josias. Ou queria o ministro, com esta declaração exclusiva, conquistar a simpatia do Grupo Folha (proprietário do site UOL)? Pensou talvez que, se fosse o alvo do grupo, Josias poderia interferir em seu favor e dizer: “gente, ele está sofrendo”. Pelo menos uma pessoa tem certeza sobre a existência deste ministro e a veracidade do depoimento: a mãe do Josias, pois afinal mães são seres crédulos em relação aos filhos.
Bomba! Bomba!
Termino com uma bomba usando o revolucionário método jornalístico de Josias. Uma fonte do PSDB – que pediu o anonimato – confidenciou que Josias de Souza, com inveja de um colega da Globo, ligou para FHC pedindo uma dica sobre como conseguir uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL). O ex-presidente, com a mesma sinceridade do ministro anônimo, teria dito ao jornalista: “faça como eu, seja medíocre”. Temos que reconhecer: Josias de Souza está se esforçando em seguir o conselho.