Lula diz que voltará a atuar no cenário nacional e que vai incomodar
"Eu agora vou falar, eu agora vou viajar, eu agora vou dar entrevista, eu agora vou incomodar". Este foi o tom do discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste sábado (29), no encerramento do Seminário Internacional “Participação Cidadã, Gestão Democrática e as Cidades no século XXI”, realizado na cidade de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Publicado 29/08/2015 19:11
Lula afirmou que embora um ex-presidente precise saber ficar quieto e deixar os atuais governantes conduzirem o país, este é um momento em que ele irá retornar com mais ênfase ao cenário nacional para ver se deixam a presidenta Dilma Roussef “um pouco em paz”.
"Você tem que aprender a ser ex-presidente”, disse o líder do PT se dirigindo a José Mujica, ex-presidente do Uruguai, que também participou do evento. “Você não pode ficar dando palpite em tudo que o Tabaré (atual presidente uruguaio) vai fazer. Você vai ter que ficar quietinho, muitas vezes angustiado. Esse é o papel de um ex-presidente, permitir que quem foi eleito governe o país”, afirmar. Por isso, “eu resolvi falar um pouco mais, como eu tenho as costas largas, já apanhei demais na minha vida, eu vou ver se eles vão dar sossego para a nossa querida Dilma Rousseff e começam a se incomodar comigo outra vez. Porque eu estou naquela fase de quem está esperando o dia da aposentadoria, mas as pessoas não me deixam em paz. Os adversários, todo santo dia, falam meu nome. Eu aprendi uma coisa. Você só consegue matar um pássaro se ele ficar parado no galho olhando para você, mas se ele ficar voando, pulando de galho em galho, é mais difícil. Então, é o seguinte: eu voltei a voar outra vez", enfatizou Lula.
O ex-presidente demonstrou preocupação com o clima pesado instalado nas discussões políticas no país. Ele lembrou que o debate sempre foi feito, mas que agora não entende porque existe um tom de ódio no discurso de muitas pessoas. Lula ironizou e questionou se esse rancor com o Governo “é porque as empregadas domésticas passaram a ter mais direitos”, ou porque durante sua gestão pobres e negros passaram a fazer curso superior com mais frequência ou ainda porque, atualmente, viajar de avião deixou de ser uma possibilidade para poucos. “Agora tem pobre passando férias em Montevideo Mujica, férias em Bariloche”, ironizou.
Lula lembrou também que desde que assumiu a presidência, os movimentos sociais passaram a ter espaço nas decisões do Estado e a visitar o Palácio do Planalto. “Eu fico imaginando que essas pessoas estão indo na rua para desfazer as melhorias que nós conquistamos estes anos todos. Durante 12 anos o salário mínimo aumentou neste país. Durante 12 anos nós colocamos mais gente nas universidades do que eles colocaram em um século, durante 12 anos, nós tivemos mais ascensão social da população do que eles fizeram em 500 anos”.
Mujica destaca importância dos partidos
Ao longo do seminário, o ex-presidente do Uruguai José Mujica enfatizou a importância da união dos movimentos na América Latina. O líder também valorizou o papel fundamental que os partidos políticos tem no desenvolvimento da democracia.
"Não há democracia sem partidos. Eles são a vontade coletiva dos grupos humanos para construir coisas melhores. Não há homens imprescindíveis, há causas imprescindíveis", disse.
Diante de um auditório lotado, Mujica ressaltou que "não se pode separar a economia da alma, da ética e dos sonhos. Quando deixarmos de sonhar e crer num mundo melhor sobrará o egoísmo e o individualismo".
Além dos ex-presidentes, também estiveram presentes os ministros Arthur Chioro da Saúde, Renato Janine Ribeiro da Educação e Miguel Rossetto da Secretária-geral da Presidência. Além deles, participaram do evento o governador de Santa Fé, na Argentina, Antonio Bonfatti e os professores Yves Cabannnes da Univesity College London e Giovanni Alegretti da Universidade de Coimbra.