André Tokarski: A decisiva batalha das ruas
A semana que se passou foi marcada por mobilizações sociais e por uma intensa agenda de diálogos e de articulação por parte da Presidenta Dilma. A gravidade da crise política é reconhecida abertamente por todos e agravada pela resiliente crise econômica. A novidade positiva é que crescem as vozes a denunciar e rechaçar a tentativa de golpe.
Por André Tokarski*
Publicado 17/08/2015 08:37
Após reunir-se com os 27 governadores Dilma iniciou intensa agenda de articulação para recompor sua base de apoio no parlamento e de diálogo com os movimentos sociais. Em visita ao Maranhão, no último dia 10/8, onde entregou milhares de moradias e anunciou a 3ª fase do programa Minha casa Minha Vida, Dilma ouviu do governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, e de milhares de maranhenses ali presentes, palavras de apoio ao seu governo e defesa da legitimidade popular conferida ao seu mandato de presidenta, conferida por mais de 54 milhões de brasileiros. Do Maranhão ecoou a palavra de ordem que unifica a todos que possuem compromisso com a democracia: “não vai ter golpe!”.
Nos dias 11 e 12 de agosto mais de 70 mil mulheres, vindas de todos os estados brasileiros, ocuparam a Brasília na Marcha das Margaridas. A mobilização organizada pela CONTAG (Confederação National dos Trabalhadores em Agricultura) e por movimentos da luta do campo e das mulheres, foi um vibrante ato em defesa da democracia e da luta por mais avanços. Dilma foi ao encontro da Margaridas onde reafirmou compromissos assumidos com as trabalhadoras do campo e recebeu apoio para enfrentar a onda golpista.
Na quinta (13), Dilma recebeu no Palácio do Planalto centenas de representantes de diversos movimentos sociais brasileiros. UNE, CTB, CUT, MTST, MST e outros movimentos manifestaram à presidenta seu compromisso com a democracia e a disposição para lutar contra o golpe, mas também cobraram medidas efetivas para que os trabalhadores não paguem a conta da crise econômica. Importante destacar a justa cobrança quanto a um posicionamento claro do governo em relação ao PL 2016/15, conhecido como “lei anti-terrorismo”, que abre brecha para a criminalização dos movimentos sociais. Em seu pronunciamento a presidenta pediu apoio e confiança dos movimentos sociais, disse que “não mudou de lado” e justificou a “travessia” que precisa ser feita diante da situação econômica internacional. Dilma destacou ainda sua posição contrária à proposta de redução da maioridade penal, seu forte compromisso com a lei da partilha do pré-sal e defendeu a liberdade de organização e manifestação dos movimentos sociais.
Outra mudança significativa na esfera institucional é deslocamento do centro decisório da pauta do Congresso da Câmara para o Senado. Renan Calheiros, presidente do Senado, se reaproximou do governo e apresentou um conjunto de medidas chamadas de “Agenda Brasil”. Mesmo contendo uma serie de medidas controversas é fato que tal iniciativa retira protagonismo e enfraquece Eduardo Cunha, que reinou soberano no primeiro semestre com seus desmandos à frente da Câmara dos Deputados.
Os próximos dias serão marcados pela expectativa em torno dos atos de rua convocados para os dias 16 e 20 de agosto, onde agendas e interesses opostos rivalizam.
De uma lado estará a marcha da insensatez, alimentada de intolerância, ódio e de uma indignação seletiva, de causar espanto a qualquer plebeu. A pretexto de combater a corrupção, seu programa visa derrubar Dilma e criminalizar Lula, o PT e todos aqueles que os apoiam. Não dizem uma palavra sobre os escândalos que envolvem tucanos graúdos, como as denúncias de corrupção no metrô de São Paulo, nos governos de Geraldo Alckmin e José Serra. Também não lhes causa revolta não ter sido julgado até hoje o chamado “mensalão mineiro”, esquema montado por tucanos de bico comprido e aliados de Aécio Neves. Líderes dos tais movimentos, tipo “Movimento Brasil Livre”, “Revoltados on line” posaram sorridentes ao lado de Eduardo Cunha (PMDB/RJ), calam-se diante das denúncias de que este teria recebido dinheiro fruto de propinas em contratos da Petrobras.
De outro lado cresce o apoio e a adesão às mobilizações do dia 20/8. A convocatória nacional assinada por um conjunto de movimentos, entidades e centrais sindicais clama por “direitos, democracia e liberdade” e traz uma mensagem clara contra ofensiva golpista da direita. Ao lado do rechaço ao golpe, as mobilizações do 20/8 também repudiam o ajuste fiscal e pedem mudanças na orientação econômica do governo federal. O momento exige um grande esforço para construir a unidade das forças progressistas, democráticas e populares. Uma frente ampla, nucleada pela esquerda, é o caminho que melhor pode reunir forças para enfrentar a crise política e superar o impasse atual com reformas estruturais e democráticas.
As mobilizações de junho de 2013 devolveram às ruas o protagonismo nos rumos da luta política, mas trouxeram junto uma expressão de força e capacidade de mobilização em torno de ideias reacionárias que não de via desde o Golpe de 1964. É nas ruas portanto que elas também devem ser derrotadas, por isso a importância vital das mobilizações do dia 20 de agosto.
A crise é, também, uma grande oportunidade para que se tomem decisões que mudem o rumo da história. Pra isso é preciso visão estratégica, persistência e capacidade para construir uma nova maioria política que tenha como objetivo avançar na democratização do país e aprofundar seu desenvolvimento econômico e social.