Kiko Nogueira e a histeria patética em torno do trânsito em São Paulo
A histeria em torno da diminuição da velocidade nas marginais do Tietê e do Pinheiros em São Paulo só pode ser comparada, em matéria de indigência mental, ao “escândalo” do crucifixo comunista dado por Evo Morales ao papa.
Por Kiko Nogueira, no DCM
Publicado 22/07/2015 17:30
Fernando Haddad é um case mundial de prefeito culpado a priori. Se faz alguma coisa, é uma besta. Se não faz, é uma besta também. Uma besta bolivariana. O carro é um objeto intocável, e qualquer medida só pode ser tomada no sentido de santifica-lo – mesmo que seja para tentar proteger o cidadão.
De acordo com dados da CET, Companhia de Engenharia de Tráfego, em 2014, em ambas as vias, ocorreram 1.180 acidentes com vítimas. Houve um aumento de 15% no total de mortes em relação a 2013: 73 contra 63.
O máximo permitido foi de 90 km/h para 70 km/h nas pistas expressas, de 70 km/h para 60 km/h nas centrais; e de 60 km/h para 50 km/h nas locais. Adianta? Ainda segundo a CET, o limite de 40 km/h no centro da capital levou a uma redução de 71% no número de mortes em acidentes e atropelamentos.
Mais uma vez, o Ministério Público abriu inquérito. Uma representação foi protocolada pelo velho e bom Andrea Matarazzo, prefeiturável do PSDB. De novo, acionou-se o fantasma da “indústria de multas”. O ex-comediante Danilo Gentili saiu-se com a acusação de que “não existe (sic) limites para a extorsão que os marginais da prefeitura praticam contra nós”.
Especialistas apontam que o diferença numa situação de, digamos, pista de Fórmula 1, com tudo livre, não chega a 10 minutos. Isso ocorre, com mais frequência, durante a madrugada, o horário mais perigoso.
O trânsito de SP tem três vítimas por hora e as marginais são as campeãs de ocorrência. Se isso não é de responsabilidade do prefeito, o que é? Que tipo de pessoa se sente tão violada ao ter de controlar seu acelerador de modo a não ultrapassar 50 por hora?
Há cinco anos, o então prefeito José Serra completou uma expansão da Marginal Tietê. A lentidão aumentou, desde então, em cerca de 80%. A razão é simples: quanto mais espaço, mais veículos. A obra custou R$ 1,555 bilhão. Em 2009, ao entregar o projeto, Serra disse o seguinte: “Pode anotar. Não vai ter mais engarrafamento aqui”.
Serra jamais será cobrado. Haddad vai na contramão de estimular uma patologia local: a dependência automobilística. Ciclovias são uma solução de mobilidade festejada em qualquer lugar civilizado. Em São Paulo, viram caso de polícia. É um casamento indissolúvel e pobre do alcaide que não construir viadutos, pontes e túneis.
O pedestre – e o motorista – que morram.