Gerações corajosas e uma UNE renovada para combater o retrocesso

A nova diretoria da UNE tomou posse na noite desta terça-feira (14), em Brasília. Muitos dos convidados fizeram referencia ao escritor Guimarães Rosa para saudar a nova equipe: o que a vida quer da gente é coragem. O simbolismo da frase ganha força maior ao se constatar que naquele mesmo local, a Câmara dos Deputados, em Brasília, poucas semanas antes, os estudantes tinham sido expulsos com spray de pimenta, violência e uma palavra antagônica: covardia.

Por Rafael Minoro*, no portal da UNE

Posse da UNE - UNE

Mas não passarão, repetiriam outros tantos presentes à posse dos 85 diretores que assumem os desafios de nos próximos dois anos estarem à frente da UNE, entidade que corre à frente do seu tempo e está perto de completar 80 anos de vida com uma jovialidade positiva para forjar o combate ao discurso do ódio, manobras golpistas e ataques aos movimentos sociais.

“A escolha de realizarmos a posse aqui tem um significado, é um recado para aqueles que não gostam muito de respeitar a democracia. Essa casa é do povo. E, por isso, voltamos aqui e voltaremos quantas vezes forem necessárias para lutar pelos sonhos da juventude, defender a liberdade e usarmos a única arma que temos: nossa voz”, ressaltou a nova presidenta da UNE, Carina Vitral, estudante de economia da PUC-SP que vai dividir a responsabilidade à frente da entidade com a mineira Moara Saboia, que assume a vice-presidência, e o paraense Thiago Ferreira, na secretaria-geral.


Virgínia Barros e Carina Vitral 

Para vencer essa batalha é preciso unidade, característica que ficou clara na manhã do mesmo dia, durante o ato em defesa da Petrobras e da democracia realizado na Câmara. Petroleiros, trabalhadores do campo e da cidade, estudantes, professores e parlamentares se uniram para repudiar o projeto do senador José Serra, que diminui a participação da estatal brasileira na exploração do pré-sal, e também propostas como a que pretende mudar o regime de partilha com objetivo de abrir caminho para uma privatização da empresa.

Ao longo do dia, os estudantes permaneceram no Congresso Nacional em um corpo a corpo com deputados e senadores abrindo diálogo sobre a redução da maioridade penal. Eles distribuíram pelos corredores da casa certificados com o título “amigo da juventude” para parlamentares que votaram contra a redução e uma carta aos demais em que pedem atenção para os pontos negativos da propostas que pode encarcerar os sonhos da juventude brasileira.

Novos diretores tomam posse

A cerimônia de posse começou no fim da tarde. A nova diretoria da União Nacional dos Estudantes, eleita no último dia 7 de junho durante a plenária final do 54º Congresso da entidade, realizado em Goiânia, recebeu a responsabilidade de comandar a maior entidade estudantil da América Latina.

Virgínia Barros se despediu da presidência da UNE, pediu licença para o escritor amazonense Thiago de Melo e adaptou ao momento um de seus poemas. “É preciso que o amor seja a primeira palavra escrita nessa cerimônia”, disse, para depois completar: “Para mim, a União Nacional dos Estudantes é a maior expressão do amor que a juventude brasileira sente pelo seu país”.


Aldo Arantes, ex-presidente da UNE

Quatro outros ex-presidentes prestigiaram a posse. De 1963 para 2015, Aldo Arantes conservou no tempo sua verve combativa e com discurso inflamado convocou os estudantes para a luta. O senador Lindberg Farias veio de 1992 para ressaltar que são em momentos duros que a UNE cresce. Orlando Silva e Wadson Ribeiro, hoje deputados federais pelo PCdoB, lembraram os anos de enfrentamento ao neoliberalismo da década de 1990 e que agora não será diferente cara a cara com o retrocesso. Para vencer, é preciso coragem.

Parlamentares de diversos partidos saudaram a nova diretoria da UNE que, pela primeira vez, tem uma sucessão entre mulheres e a presidência e vice serão ocupadas também por dirigentes femininas. Representantes da ainda pequena bancada feminina também estiveram presentes, entre elas: Jandira Feghali, Erika Kokay, Vanessa Grazziotin, Jô Moraes, Luciana Santos, Alice Portugal e Benedita da Silva. “Junto com a UNE, quero ter a esperança de que a negrinha lá de casa, de apenas 3 anos, vai crescer tendo orgulho de ser mulher e negra nesse país. Sabendo que poderá estudar junto com os brancos nas melhores escolas. E é esse sonho que eles querem enterrar”, bradou Benedita.

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Roberto Leher, levou para a posse uma mensagem sobre a produção do conhecimento novo e o futuro da humanidade. “Nós temos que pensar uma outra forma civilizatória para o mundo e a universidade é essa chave. A UFRJ é uma instituição que está aberta ao tempo histórico, comprometida com a liberdade e não vamos vacilar na defesa da democracia. Temos todas as convicção que a luta estudantil continuará a iluminar nossa história”, pontuou.

A nova gestão da UNE já prepara mobilizações nacionais contra a redução da maioridade penal e os cortes na educação. No começo de agosto haverá a primeira reunião ampliada da diretoria. A UNE pretende ainda dar início às comemorações dos seus 80 anos lembrando a defesa da democracia, além de reforçar campanhas pela reforma política, democratização dos meios de comunicação e por mais assistência estudantil.