Apesar de vazamentos, Moro critica uso midiático da Odebrecht
As contradições na Operação Lava Jato só aumentam. Apesar das investigações serem acompanhadas de uma série de vazamentos seletivos desde o início, o juiz federal Sergio Fernando Moro criticou a Odebrecht por ter publicado anúncios pagos em veículos de comunicação manifestando “indignação” com a prisão de executivos.
Publicado 25/06/2015 10:07
Em despacho emitido nesta quarta-feira (24), o Moro afirma que o texto publicado “apenas reforça a convicção deste juízo acerca da necessidade, infelizmente, da prisão preventiva”, pois a empreiteira “não tem qualquer intenção de reconhecer a sua responsabilidade pelos fatos, o que seria um passo necessário para afastar o risco de reiteração das práticas criminosas”.
Apesar de reconhecer o direito de defesa da empreiteira, Moro diz que seria “recomendável que apresentasse os fatos por inteiro e não da maneira parcial efetuada, em aparente tentativa de confundir, valendo-se de seus amplos recursos financeiros, a opinião pública e colocá-la contra a ação das instituições públicas, inclusive da Justiça”. Seria recomendável que as investigações da Lava Jato saíssem do campo midiático também
Para o juiz, a negação de delito por parte da Odebrecht seria uma "demonstração do risco de reiteração delitiva", que só seria superado com “uma mudança nas práticas empresariais do grupo”.
Na decisão desta quarta, ele determinou a prisão preventiva de Alexandrino de Salles Alencar, que está preso em caráter temporário. Ele foi apontado como operador da Braskem — petroquímica controlada pelo grupo Odebrecht.
Moro também criticou o afastamento de Salles da empreiteira. “Não reputo o mero afastamento do cargo medida suficiente para prevenir os riscos que a preventiva busca evitar, pois parte dos executivos é também acionista e, mesmo para aqueles que não são, é na prática impossível, mesmo com o afastamento formal, controlar a aplicação prática da medida”, avaliou o juiz.
Na avaliação dele, a única alternativa seria suspender todos os contratos públicos da Odebrecht e proibir novas contratações com o Poder Público. No entanto, Moro reconhece que tal “hipótese atualmente não cogitável considerando os danos colaterais a terceiros”.