Delator poderá ser punido por proteção a Eduardo Cunha
A delação premiada do empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal, poderá ser anulada. Isso porque o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e os investigadores da Lava Jato avaliam que Camargo está omitindo informações para proteger o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Publicado 24/05/2015 15:54
Janot já ouviu Camargo sigilosamente e o empresário negou que o peemedebista tenha recebido propina. A suspeita da Procuradoria-Geral da República e da PF é de que Cunha e Camargo tenham se encontrado para combinar versões. Por isso, Janot pretende ouvir Camargo uma última vez. A depender do depoimento, já está definido que Janot pedirá à Justiça que anule a delação. Neste quadro, Camargo voltaria à cadeia.
Em sua delação, Júlio Camargo afirmou que "não se recorda" de ter falado ao doleiro Alberto Youssef sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Mas Youssef, peça central da Lava Jato declarou ao juiz federal Sérgio Moro que Cunha era um dos "destinatários finais" de uma propina de cerca de R$ 4 milhões em contratos de navios-sonda da Petrobras, sob investigação. O doleiro reafirmou sua versão de que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011.
O doleiro disse que foi procurado pelo executivo Júlio Camargo após estes requerimentos. "Fui chamado em 2011 pelo Júlio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares (lobista do PMDB na Petrobras), através do Cunha , havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Júlio Camargo, através de outros deputados", disse Youssef em sua delação. "O senhor citou os requerimentos quando esteve com Youssef?", questionou o juiz. "Não sei lhe precisar", respondeu Júlio Camargo. Depois, ele voltou a dizer que "não se recorda" de ter dito ao doleiro sobre os requerimentos.
Em junho de 2011 foram apresentados ao governo dois requerimentos da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, feitos pela ex-deputada do PMDB, Solange Almeida, hoje prefeita de Rio Bonito (RJ), pedindo informações e providências sobre os contratos das empresas Toyo e Mitsui e sobre as representações feitas pelo lobista Júlio Camargo na Petrobras. Cunha nega qualquer relação com os requerimentos, mas no sistema oficial da Câmara o nome do hoje presidente da Casa consta como "autor" dos dois arquivos em que foram produzidos os requerimentos assinados por Solange.
Nova denúncia
Neste domingo (24), uma nova denúncia do jornal O Globo revela que Eduardo Cunha aparece nos registros de informática da Casa como autor de dois requerimentos protocolados oficialmente por outro parlamentar do Rio de Janeiro, o deputado Áureo Ribeiro (SD). Os requerimentos pedem cópias de todos os documentos referentes aos procedimentos licitatórios feitos pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) — ligado ao Exército — desde 2009, por conta de uma suposta fraude envolvendo duas empresas, e também uma cópia dos papéis referentes a servidores públicos que aderiram a programas de demissão voluntária entre 1993 e 2001. O caso é semelhante ao da ex-deputada Solange Almeida, que solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) documentos sobre contratos firmados entre a empresa Mitsui e a Petrobras.
Áureo propôs seus pedidos à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle nos dias 12, uma terça-feira, e 14 de julho de 2011, uma quinta-feira. Nas propriedades dos documentos registrados no sistema da Câmara, “dep. Eduardo Cunha” aparece como autor dos arquivos digitais. Áureo era filiado ao PRTB quando estreou na Câmara, naquele mesmo ano. Reeleito, ele está no Solidariedade. O deputado integra a bancada evangélica. Os requerimentos de Solange foram protocolados, por sua vez, em 11 de julho de 2011, numa segunda-feira, um dia antes do primeiro requerimento de Áureo. Os quatro pedidos com autoria de “dep. Eduardo Cunha” foram, portanto, apresentados em apenas quatro dias.