Os 120 anos do nascimento de Augusto Sandino, herói da Nicarágua

A Embaixada da Nicarágua no Brasil divulgou um texto em comemoração aos 120 anos do nascimento do general Augusto Sandino. A representação diplomática, lembra a importância histórica de Sandino, lutando contra as ingerências estadunidenses e mostrando, através de seu exemplo, que é possível lutar contra o imperialismo.

Nicarágua homenageia 80 anos da morte do revolucionário Sandino - Reprodução

O sandinismo, até hoje, está muito presente na Nicaragua e suas ideias também influenciaram movimentos em outros países da América Latina.

Augusto César Sandino

Na segunda década do século 20, a Nicarágua tinha sofrido intervenção militar dos fuzileiros navais dos EUA. Tinham vindo para intimidar e controlar os partidos políticos locais – os que mantinham o país em uma guerra civil pelo poder – e, assim, garantir que a cadeira presidencial fosse ocupada por um político adepto e submisso aos interesses norte-americanos, garantindo-lhes a continuação da exploração que esse país fazia na Nicarágua.

E tudo correu bem para eles, a maior potência do mundo. Até que começaram a aprender, da maneira mais difícil. Existia um general de uma pequena estatura física, mas gigante na consciência patriótica, apoiado por um exército de camponeses, que não estavam dispostos a permitir o sometimento de sua nação livre e soberana. Ele era Augusto C. Sandino, o General de Homens Livres, o Herói de Segóvia.

Augusto Nicolás Calderón Sandino nasceu em 18 de maio de 1895, em Niquinohomo, um pequeno vilarejo indígena do departamento de Masaya. Sua mãe, Margarita Calderón, era uma camponesa humilde, que ganhava a vida com trabalhados domésticos e agrícolas. Gregorio Sandino, seu pai, era um agricultor de porte médio, com quem foi morar aos 11 anos de idade.

A infância de Sandino foi ao lado da sua mãe, com quem ele trabalhou colhendo café. Foi lá que ele sofreu todos os tipos de miséria e privação. Já adolescente, testemunhou a primeira grande intervenção militar do imperialismo dos EUA na sua terra, que culminou com o assassinato do Herói Nacional General Benjamín Zeledón, em 4 de outubro de 1912. Sandino ficou muito impressionado com a imagem do patriota.

"Eu era um menino de 17 anos e testemunhei a chacina de Masaya, na Nicarágua e no resto da República, pelas forças flibusteiras norte-americanas. Pessoalmente, eu olhei o cadáver de Benjamin Zeledón, que foi enterrado em Catarina, cidade vizinha à minha. A morte de Zeledón deu-me a chave de nossa situação nacional frente ao flibusteirismo norte-americano; por essa razão, a guerra em que estamos envolvidos, é considerada como uma continuação daquela."

Mais tarde, Sandino deixou a casa de seu pai para cuidar de si mesmo. Trabalhava como mecânico na Costa Rica. Em 1920, viajou para Honduras. Em 1923 trabalhou na Guatemala nas plantações da United Fruit. No mesmo ano de 1923, marchou para o México, onde trabalhou para empresas de petróleo em Tampico e em Cerro Azul, Veracruz.

No México, Sandino vinculou-se a líderes sindicais, militantes socialistas, anarquistas e maçons. Conheceu as lutas da Revolução Mexicana e da classe trabalhadora; e a agressão dos EUA contra o México pelo controle dos campos de petróleo.
Em agosto de 1925, após 13 anos de ocupação, os Estados Unidos retiraram suas tropas da Nicarágua. No entanto, permaneceram os instrutores da Constabulary, a antecessora da Guarda Nacional.

Em outubro, acontece o golpe militar do general Emiliano Chamorro. Em maio de 1926, uma revolta liberal contra Chamorro ocorre reivindicando a constitucionalidade. Tropas dos EUA pousaram novamente em Bluefields, na Costa Caribe da Nicarágua.

Ao saber do início da Guerra Constitucionalista, Sandino volta para a Nicarágua, aonde chegou no dia 1º de junho.

"Tendo em vista os abusos da América do Norte na Nicarágua, parti de Tampico, México, em 18 de maio de 1926, onde eu estava servindo na empresa Yankee para entrar no Exército Constitucionalista da Nicarágua, que lutava contra o regime imposto pelos banqueiros Yankees em nossa república".

Em 26 de outubro de 1926, com alguns trabalhadores da mina de San Albino se levanta em armas e se junta à causa Constitucionalista. Em 2 de novembro, no Jícaro, durante o seu primeiro encontro com as forças conservadoras, sofre a sua primeira derrota.

Em 24 de dezembro, as tropas americanas desembarcaram em Puerto Cabezas. No dia seguinte, Sandino obteve armas e munições apoiado por prostitutas do porto, e inicia o retorno às Segovias. Em janeiro de 1927, tropas norte-americanas desembarcaram em Corinto.

Em 12 de maio de 1927, em uma carta para as autoridades locais de todos os departamentos, anuncia sua firme determinação em continuar a luta até que sejam retiradas as tropas norte-americanas da ocupação. Em 18 de maio ele se casou com Blanca Arauz. Para quem escreve em uma ocasião:

"O amor ao meu país eu coloquei acima de todos os amores e você tem que se convencer de que para ser feliz comigo, é necessário que o sol da liberdade brilhe em nossas testas."

No 1 de julho de 1927, no seu acampamento na mina de San Albino, entrega seu primeiro manifesto político dirigido ao povo da Nicarágua, que inicia dizendo:

“O homem que da sua pátria não exija nem um pedaço de terra para a sua sepultura, merece ser ouvido, e não apenas ser ouvido, mas também crido. Sou nicaraguense e sinto orgulho do que nas minhas veias circula, mais do que qualquer outra, o sangue índio americano que contém o mistério de ser patriota, leal e sincero; o vínculo de cidadania me dá direito a assumir a responsabilidade por minhas ações nas questões da Nicarágua e, portanto, da América Central e de todo o continente hispânico, não importando que os pessimistas e covardes me deem o título que a sua qualidade de eunucos lhes convém”.

Em 14 de julho, responde a proposta de rendição que foi feita pelo capitão dos fuzileiros navais, Gilbert Hatfield. “Recebi sua comunicação ontem e estou inteirado dela. Não vou me render e espero vocês. Eu quero a Pátria Livre ou Morrer. Não os tenho medo; eu tenho o ardor de patriotismo daqueles que me acompanham. Pátria e Liberdade”.

Em 16 de julho, depois de uma batalha de 15 horas, domina por umas horas El Ocotal. A aviação dos EUA bombardeia e metralha a cidade, causando 300 mortes entre a população civil. Em 2 de setembro de 1927 se constitui o Exército Defensor da Soberania Nacional da Nicarágua, EDSN.

“Nós vamos para o sol da liberdade ou a morte; e se morrermos não importa, a nossa causa vai viver. Outros a seguirão. Em um dia desses eu expressei aos meus amigos que se a Nicarágua tivesse uma centena de homens que a amasse tanto quanto eu a amo, a nossa nação restauraria a soberania absoluta, ameaçada pelo mesmo imperialismo dos EUA. Meus amigos me responderam que havia na Nicarágua esse número de homens, ou mais … "

Em 22 de junho de 1928, o líder comunista salvadorenho Farabundo Martí se junta às fileiras dos sandinistas. Combatentes internacionalistas responderam ao chamado da luta anti-imperialista na Nicarágua; intelectuais, estudantes e trabalhadores vieram de diferentes partes da América Latina para combater a intervenção norte-americana na Nicarágua; no México, El Salvador, Guatemala, Costa Rica, República Dominicana, Venezuela, Colômbia, Honduras. Alguns como soldados de linha, outros atuaram na equipe no Estado Maior como secretários de Sandino; muitos morreram lá.

Em 23 de maio de 1929, Sandino sai da Nicarágua para o México em busca, sem sucesso, do apoio do presidente do México, Emilio Portes Gil. Seus generais continuam a luta. Volta para a Nicarágua em 16 de maio de 1930. Em 15 de fevereiro de 1931, ele subscreve seu manifesto Luz e Verdade. Em novembro de 1932, Juan Bautista Sacasa foi eleito presidente da Nicarágua.

Em 1º de janeiro de 1933, triunfa a causa sandinista e os invasores norte-americanos, derrotados, se retiram. Sacasa assumiu a Presidência e o "general" Anastacio Somoza Garcia assumiu como chefe da Guarda Nacional. Sandino viaja para Manágua, em fevereiro, e assina um tratado de paz.

"A paz foi assinada para evitar o retorno da intervenção armada que apenas estava atrás da porta, esperando para retornar dentro de um ano… “.

Em 20 de maio compromete viagem de volta a Manágua para reclamar com Sacasa por conta dos constantes ataques da Guarda Nacional contra o seu povo. Retorna em 30 de novembro com a mesma reclamação sem sucesso.

Após a assinatura do acordo, Sandino viaja várias vezes para Manágua para se encontrar e discutir com Sacasa as violações que a Guarda Nacional cometia, assassinando e perseguindo membros do Exército Defensor da Soberania Nacional da Nicarágua. Das suas entrevistas não obteve nenhum resultado.

No dia 21 de fevereiro de 1934, descendo a colina para Tiscapa, depois do jantar com Sacasa, é capturado e posteriormente assassinado junto aos generais Francisco Estrada e Juan Pablo Umanzor, por ordem de Somoza García. Pouco antes, seu irmão Sócrates tinha sofrido o mesmo destino. O Coronel Santo López, que, posteriormente, participa da fundação da Frente Sandinista de Libertação Nacional, consegue escapar.

No dia 23 de agosto de 1934, o Congresso aprovou uma anistia para todos os crimes cometidos pela Guarda Nacional.

Eles acreditavam que matando Sandino morreria a ideologia. Mas eles estavam errados, o sandinismo tinha marcado profundamente a consciência do povo, visando completar o trabalho iniciado pelo Pai da Revolução Popular Anti-imperialista. Assim surge, a Frente Sandinista de Libertação Nacional, FSLN, herdeira e sucessora do programa popular e anti-imperialista do general Sandino.

Embaixada de Nicarágua na República Federativa do Brasil