Itabuna quer mudar realidade de violência contra jovens negros
O plenário da Câmara Municipal de Itabuna lotou, nesta sexta-feira (15), durante audiência pública da CPI da Violência Contra Jovens Negros, da Câmara dos Deputados. Cerca de 300 pessoas, entre parlamentares, policiais, familiares de vítimas e representantes dos movimentos sociais, sindicais e religiosos, participaram do evento. Todos em busca de soluções “para acabar com o genocídio da juventude brasileira”, resumiu o deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA), integrante da CPI.
Publicado 18/05/2015 14:13
Davidson Magalhães avaliou a importância da ida da CPI à Itabuna, “pois a cidade lidera as estatísticas de violência”, e propôs mudanças para enfrentar o drama: “Acabar com a impunidade e a cultura da violência e mudar a segurança pública do país.”
Ele sugeriu a criação de uma polícia única, desmilitarizada, e o fim dos auto de resistência. E criticou a mudança da maioridade penal, enfatizando que “temos que levar opções de vida aos jovens em vulnerabilidade social.”
O coordenador da Câmara Setorial de Juventude Território Litoral Sul, Thiago Fernandes, também enfatizou a falta de oportunidades para os jovens negros e pobres. “A falta de investimento na juventude das periferias, na cultura, lazer e educação, ajudam o aumento da violência. E tem a repressão policial. A polícia não protege o cidadão, ela faz ao contrário, reprime quando é jovem, negro e pobre”.
Causas apontadas
Muitos falaram das causas que levaram Itabuna a ser hoje uma das cidades mais violentas.
O município empobreceu ao longo dos anos, desde o declínio da lavoura do cacau, o que obrigou milhares de famílias rurais a migrarem para a cidade em busca de trabalho e pão.
A falta de planejamento e apoio dos governos facilitou o inchaço da cidade, formando favelas e gerando a exclusão social.
Coube a Nailton Almeida (foto), pai do garoto Nadson, 14 anos, assassinado em perseguição policial, um depoimento tenso e emocionado. Ele disse que “vou até o fim, cobrando justiça pela morte do meu filho. Nunca deu trabalho para a família. Trabalhava e estudava. Temos direito a justiça. Não podemos ficar refém da polícia", destacou.
O bispo de Itabuna Dom Ceslau Stanula, polonês, há 45 anos no Brasil, apontou a falta de investimento em educação de qualidade como o principal fator associado à violência contra jovens pobres e negros. “Em todo esse tempo que vivo no Brasil, jamais vi a educação ser tratada como uma prioridade”, observou o religioso.
O juiz da Vara da Infância e da Juventude, Marcos Bandeira, acrescentou que “quando as politicas públicas não são aplicadas a violência tende a aflorar”.