Augusto Petta: CES, 30 anos dedicados à formação
Em 21 de abril de 1985, o Centro de Estudos Sindicais (CES) foi fundado, no mesmo dia da morte do presidente eleito Tancredo Neves. Os anos de 1983 e 1984 foram marcados profundamente pela luta do povo brasileiro para recuperar o direito de eleger o presidente da República. Este movimento ficou conhecido como “Diretas Já”.
Por Augusto Petta*
Publicado 28/04/2015 14:50
Em abril de 1984, a emenda das Diretas foi rejeitada na Câmara dos Deputados. Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral em janeiro de 85. Adoeceu na véspera de sua posse e faleceu no dia 21 de abril.
Neste mesmo dia, sindicalistas ligados ao PCdoB e outros considerados independentes, realizaram a assembleia de fundação do CES, hoje registrado como Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho. Nos dados existentes nos acervos do Conselho de Segurança Nacional- CSN, da Comissão Geral de Investigações–CGI e do Serviço Nacional de Informações–SNI a meu respeito, constam a minha participação no evento que “ contou com a presença de cerca de 90 dirigentes e ativistas sindicais, representando aproximadamente 30 entidades de trabalhadores urbanos e rurais do Estado de São Paulo”. Esta assembleia de fundação foi realizada no Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Têxteis de São Paulo. Eu tenho orgulho de ter participado desta assembleia na condição de presidente do Sindicato dos Professores de Campinas e região – Sinpro.
A posse do vice-presidente Sarney, em 15 de março de 1985, é considerado o marco do final da ditadura imposta ao nosso país, através do Golpe Militar de 1964, e que, portanto, durou 21 anos. Nesse momento de abertura democrática, conquistada com a árdua luta do povo brasileiro, já era viável a fundação de um centro de estudos que pudesse contribuir na formação política e sindical dos dirigentes e ativistas sindicais. Sabe-se que, em função do ativismo, há muita dificuldade para os sindicalistas se dedicarem ao estudo. Os fundadores do CES tinham muita convicção da importância do processo contínuo de formação, necessário para a elevação do nível de consciência política dos sindicalistas e dos trabalhadores e trabalhadoras em geral. E tinham a compreensão nítida do papel fundamental que a classe trabalhadora exerce na luta pela transformação social rumo ao objetivo estratégico da conquista do socialismo.
Fica completamente inviável destacar todos os nomes que contribuíram nestas três décadas do CES. São muitos companheiros e companheiras que contribuíram, cada qual a seu modo, quer na organização dos eventos, quer na elaboração de textos, quer lecionando nos cursos, quer realizando planejamentos estratégicos situacionais nas entidades, quer na orientação política. Porém, não podemos deixar de destacar a contribuição de Altamiro Borges, que tomou para si a responsabilidade de, mesmo com grandes dificuldadessobretudo financeiras, coordenar e impulsionar as atividades formativas. Em 1986, foi lançada a Revista Debate Sindical, importante veículo de comunicação do movimento sindical brasileiro que o CES conseguiu mantê-lo até 2007, contando com 57 edições. E Altamiro Borges foi seu editor durante todo esse tempo. Mantemos até hoje, a esperança de que conseguiremos o retorno da veiculação da Debate Sindical, revista que consideramos necessária para o processo de formação dos dirigentes e ativistas classistas. Na orientação política, sempre estiveram presentes os sindicalistas João Batista Lemos e Nivaldo Santana, que se destacam como grandes incentivadores da formação política e sindical. Foi através de Batista Lemos que o CES passou a ter mais recentemente, participação importante na formação sindical internacional no Encontro Sindical Nossa América – Esna.
Durante estes 30 anos, as atividades de formação foram sendo realizadas, sobretudo cursos de formação básica, inclusive em nível nacional. Mas, as necessidades do movimento sindical foram sendo atendidas pelo CES, com cursos de gestão sindical, cursos de formação de formadores e formadoras, cursos de formação de lideranças sindicais, seminários de planejamentos estratégicos situacionais, oficinas, debates, palestras. Várias entidades assinaram convênios com o CES para que as atividades formativas fossem desenvolvidas.
O principal convênio foi assinado com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB – que desde a sua fundação tem dado prioridade ao processo de formação. Os presidentes da CTB, Wagner Gomes e Adilson Araújo e a secretária de Formação e Cultura, Celina Arêas têm estimulado o processo formativo. Fruto deste trabalho conjunto, atingimos mais de 7 mil sindicalistas nas atividades de formação, no período novembro de 2008 a novembro de 2014. Somando-se a estes mais de 7 mil, às outras atividades de formação realizadas, neste período, atingimos a marca muita significativa de 10 mil participantes. Também por solicitação da CTB, passamos a realizar trabalhos de pesquisas, sobretudo nos preocupando em conhecer mais o novo perfil da classe trabalhadora.
Hoje a direção do CES – que tem como coordenadora Geral Gilda Almeida – conta com companheiros e companheiras que militam no PCdoB, no PSB, no PT, em entidades de trabalhadores rurais, em entidades representativas dos trabalhadores marítimos. Além evidentemente daqueles que compõem a equipe do CES, que diuturnamente trabalham para que sejamos cada vez mais referência de formação política e sindical no Brasil e na América Latina. E, sem dúvida, contando com a colaboração de muitos professores e professoras, instrutores e instrutoras que contribuem decisivamente para que as atividades de formação sejam realizadas em alto nível.
Nossos agradecimentos a todos aqueles que, nestas três décadas, contribuíram, de uma forma ou de outra, para que o CES pudesse desenvolver de forma tão competente e qualificada esse trabalho de formação, essencial para a elevação do nível de consciência política e, por consequência, para a práxis sindical e política.
*Augusto César Petta é professor, coordenador técnico do CES, ex-presidente
do Sinpro Campinas e da Contee.