Publicado 27/04/2015 10:04 | Editado 04/03/2020 16:25
O economista norte-americano Robert Heilbroner (1919-2005) nos ensina: “Elimine-se o regime do capital, e o Estado permanecerá, embora deva se alterar; elimine-se o Estado, e o regime do capital não durará sequer um dia”. Para ele, “o capital toca a música que o Estado normalmente dança, mas tem como certo que o Estado fornecerá o teatro no qual se apresentará o espetáculo (A natureza e a lógica do capitalismo. São Paulo: Ática, 1988, p. 77).
Ora, com a 1ª Revolução Industrial, a Inglaterra partiu na frente; os outros países, para entrarem na corrida, tiveram de recorrer ao Estado. Porém, nada melhor para se entender o papel do Estado sob o capitalismo do que os Estados Unidos.
Pois bem, já na 2ª Revolução Industrial, os Estados Unidos haviam recuperado o passo, tendo crescido com vigor até esbarrar na Grande Depressão de 1929. O New Deal, no entanto, salvou a pátria e alargou ainda mais as possibilidades de seu desenvolvimento.
E, na Segunda Guerra Mundial, sobre os escombros da Europa, consolidou-se, institucionalizada pelos acordos de Bretton Woods, a liderança norte-americana. Instalou-se, então, a Pax Americana no planeta.
Os Estados Unidos construíram ao longo da história gigantesco aparelho estatal, cujos tentáculos estendem-se por todos os continentes, por meio não apenas de bases e operações militares, mas também, e de forma mais eficaz e estratégica, do audiovisual (de que Hollywood é símbolo), que propaga diuturnamente o American Way of Life.
A grande lição a tirar disso tudo é que, em todas as ações desse case de sucesso, está, desde sempre, o Estado empreendedor.
Em 2008, o Estado norte-americano mandou outra vez o liberalismo às favas e entrou em cena para evitar nova quebra de Wall Street. O intrigante é que é lá, justamente lá, em suas famosas universidades (onde a elite dos países em desenvolvimento vai buscar seus títulos acadêmicos), o grande centro de difusão do liberalismo, ou seja, da mão invisível de Adam Smith.
Em “O estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. privado” (São Paulo: Port-Folio – Penguin, 2014), Mariana Mazzucato, professora da Universidade de Sussex, demonstra quanto o Estado é responsável pela performance dos Estados Unidos.
Mazzucato mostra que (op. cit., p. 26) “a maioria das inovações radicais, revolucionárias, que alimentam a dinâmica do capitalismo – das ferrovias à internet, até a nanotecnologia e farmacêuticas modernas – aponta para o Estado na origem dos investimentos ‘empreendedores’ mais corajosos, incipientes e de capital intensivo”.
E mais: “todas as tecnologias que tornaram o iPhone de Jobs tão ‘inteligente’ [smart] foram financiadas pelo governo (internet, GPS, telas sensíveis ao toque [touch-screen] e até o recente comando de voz conhecido como Siri)”. Enfim, conclui: “Tais investimentos radicais – que embutiam uma grande incerteza – não aconteceram graças a investidores capitalistas ou ‘gênios de fundo de quintal’. Foi a mão visível do Estado que fez essas inovações acontecerem”.
*Cláudio Ferreira Lima é Economista
Fonte: O Povo