Luciano Siqueira aos amigos Marcão, Manoel Santos e Pedro Eugênio
Três combatentes que se foram no curto espaço de dez dias. Em comum, a crença de que um mundo de igualdade e justiça é possível e a determinação de lutar sempre. Lutadores da minha geração, ocupando distintas trincheiras.
Por Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Publicado 21/04/2015 09:33
Meus amigos.
Marcão, desde os idos de sessenta, quando atuou no movimento estudantil ao lado de minha companheira Luci, Tadeu Lira, Roberto Franca e muitos outros.
Pedro, desde que na minha primeira eleição para deputado estadual, ele então professor da Universidade Federal de Pernambuco, ajudou a campanha de muitas formas – inclusive conduzindo “pirulitos” no grande comício pró-Marcos Freire e Cid Sampaio, no Largo de Casa Amarela.
Com Manoel construí aos poucos e por curto período uma daquelas amizades que a gente faz a partir da luta pelo mesmo ideal. Tenho comigo isso: gosto das pessoas pelo bem que fazem – unilateralmente, sem pedir licença nem retribuição. Na Assembleia Legislativa, ele deputado pelo PT e eu pelo PCdoB, nos aproximamos mais. Já na posse eu me apresentei a ele como soldado à disposição a luta dos trabalhadores rurais.
Com Marcão e Pedro o diálogo foi mais intenso e mais frequente e percorreu várias fases de nossas vidas. Com uma boa dose de confidências.
Pedro e Manoel se destacaram como parlamentares de luta, compromissos sólidos, competência e combatividade.
Marcão foi capaz de gestos de ousadia e desprendimento ao longo de quarenta e oito anos de militância comunista. Atuou na clandestinidade. Universitário, converte-se em operário de fábrica para fugir à repressão e se ligar aos trabalhadores, em Fortaleza. Juntou-se aos que reorganizaram o PCdoB em Pernambuco no final dos anos setenta, após pesadas quedas sob a ofensiva da repressão policial. Há alguns anos, ocupou uma trincheira muito própria – a da literatura – onde interpretou o modo de ser, de lutar, de amar, de sofrer e de viver da gente simples do Recife e de outros lugares. Tornou-se o premiado escritor Marco Albertim.
Ontem, no velório de Manoel, à semelhança do velório de Marcão, os amigos me falavam da morte. Delicadamente inverti o diálogo: prefiro falar da vida. Desta curta vida de todos nós, que é preciso vivê-la intensamente – para que a aurora de cada dia nos anuncie uma verdade absoluta e inquestionável: quem luta a vida inteira viverá sempre.
Marcão, Manoel e Pedro Eugênio – combatentes de toda uma vida – estarão para sempre entre nós e inspirarão novas gerações.
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