Publicado 09/02/2015 10:26 | Editado 04/03/2020 16:26
A internet não era ainda uma das principais fontes de informação diária quando, há 53 anos, Estados Unidos e Cuba deram início ao embargo econômico que marcou a história das Américas. Era o ano de 1962 quando os dois países cortaram relações e, com isso, estabeleceram uma série de restrições mútuas. Imaginem, então, o espanto quando, em uma tarde de um dia comum de dezembro de 2014, a notícia tomou conta dos portais de notícias de todo o mundo. Os presidentes dos dois países – Barack Hussein Obama e Raúl Castro –anunciavam a retomada das relações diplomáticas.
É bem verdade que o embargo permanece. O fim do bloqueio oficial ainda será discutido no congresso norte-americano. Mas um primeiro e importante passo para virar a página deste capítulo da Guerra Fria de que tratam os livros de história foi finalmente dado. Na verdade, as ações concretas nessa retomada de relações ainda são tímidas, mas tornam inevitável o debate sobre o tema.
Em seu discurso durante o anúncio, Barack Obama reconheceu que é preciso soltar as “amarras do passado”. Foi um importante reconhecimento de que a política de ruptura não trouxe os resultados esperados. Obama mesmo afirmou que a política “rígida” adotada pelos Estados Unidos não conseguiu ter o impacto esperado sobre Cuba. Afinal, todas as restrições a que os Estados Unidos submeteram a ilha não serviram para derrubar o regime dos irmãos Castro.
De seu lado, Raúl Castro observou que é preciso abrir o diálogo. E se mostrou disposto a tratar de democracia, direitos humanos e soberania nacional.
E o Brasil? Passada a eleição presidencial, quando a então candidata – hoje presidente – Dilma Rousseff foi duramente atacada por “usar dinheiro público para financiar a ditadura comunista”, em função do financiamento do BNDES no Porto de Mariel, construído na ilha, o anúncio mostrou que nossa política econômica internacional viu para além do horizonte do imediato. A localização geográfica de Cuba coloca o país em posição estratégica para o Brasil e suas negociações internacionais.
Para o resto mundo, os demais desdobramentos não devem surgir imediatamente. Ainda há muito caminho pela frente. Ano que vem, um novo presidente assume a Casa Branca e uma nova política internacional pode se desenhar. Mas ao dizer, em espanhol, a Raúl Castro que “somos todos americanos”, Obama lembrou – especialmente aos norte-americanos – que a América não se restringe aquele país.
*Hélio Leitão é Secretário da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará
Fonte: O Povo