Sete cidades adeptas da batalha contra o carro
Depois de mais de um século convivendo com carros, algumas cidades aos poucos compreendem que o automóvel não faz muito sentido no contexto urbano. Não apenas pela poluição ou pelas mortes no trânsito: em uma cidade, carros não são sequer uma maneira conveniente de locomoção.
Publicado 06/02/2015 17:20
O trânsito de Londres, hoje, flui mais vagarosamente do que se move um ciclista amador (ou do que uma carroça). As pessoas em Los Angeles perdem 90 horas por ano presas no tráfego. Um estudo realizado na Grã-Bretanha mostra que motoristas gastam 106 dias de suas vidas procurando por vagas.
Um número crescente de cidades tem se livrado dos carros em determinados bairros a partir de multas, redesenho de suas ruas, novos aplicativos, e, no caso de Milão, foram adotadas medidas como pagar os trabalhadores para que deixem seus veículos em casa e peguem o trem.
Como era de se esperar, as mudanças acontecem mais rapidamente nas capitais europeias projetadas centenas ou milhões de anos antes que os carros fossem inventados. Nos subúrbios norte-americanos construídos conforme a lógica dos automóveis, o caminho para eliminá-los é obviamente mais desafiador (e algumas cidades “amantes” de carros, como Sydney, na Austrália, vão na contramão, tirando espaço dos pedestres em algumas ruas para dá-lo, cada vez mais, aos veículos).
Confira algumas cidades que estão trabalhando para banir os carros em alguns de seus bairros.
Madri
Madri (foto) já baniu grande parte do tráfego de automóveis de certas ruas e, neste mês, as car-free zone (zonas livres de carros, na tradução para o português) se expandirão ainda mais. Estendendo-se por mais de uma milha quadrada, tais áreas ainda permitirão que seus moradores dirijam, mas qualquer outra pessoa que nela adentrar será multada em mais de 100 dólares. Esse é mais um passo no plano de “pedestrizar” completamente o centro da cidade nos próximos cinco anos.
Vinte e quatro das ruas mais movimentadas serão reprojetadas para pessoas, e não carros. Antes que o design das ruas seja modificado, carros serão desincentivados de outra maneira: agora, aqueles que poluem mais terão que pagar mais caro para estacionar.
Paris
No último ano, quando os níveis de poluição aumentaram em Paris, a cidade realizou um rodíziopor um breve período de tempo. As taxas caíram cerca de 30% em algumas áreas, e agora o plano é começar a desincentivar permanentemente os carros. No centro da metrópole, as pessoas que não vivem em bairros próximos não poderão dirigir aos fins de semana, restrição que deve se estender aos dias comerciais.
Até 2022, o prefeito planeja dobrar o número de ciclovias na cidade, banir carros movidos a diesel e determinar que apenas veículos elétricos ou pouco poluidores circulem em algumas ruas movimentadas. A quantidade de motoristas já começou a cair por lá. Em 2001, 40% dos parisienses não possuíam carros; agora, esse número é de 60%.
Chengdu
Uma nova cidade satélite planejada no sudoeste da China poderia servir de modelo para um subúrbio moderno: suas ruas são planejadas para que qualquer local seja acessível em até 15 minutos de caminhada.
As plantas, projetadas pelos arquitetos Adrian Smith e Gordon Gill (residentes em Chigaco), não banirão completamente os carros, mas apenas metade das ruas poderão ser ocupadas por veículos motorizados. A ligação entre a cidade e a vizinha Chengdu será feita por meio de transporte público. Uma população de 80 mil pessoas é esperada por lá, e a maioria poderá caminhar até o trabalho nos bairros locais. O projeto foi pensado, originalmente, para estar pronto em 2020, mas pode sofrer um atraso – está suspenso por questões de zoneamento.
Hamburgo
Embora Hamburgo não planeje banir os carros de sua região central, como tem sido noticiado por aí, a cidade tem se esforçado para facilitar a vida de quem não quer dirigir. A Rede Verde, que será construída entre os próximos 15 e 20 anos, unirá parques ao longo da cidade, tornando qualquer lugar acessível por meio de caminhadas ou trajetos de bicicleta.
A Rede se estenderá sobre 40% da área total do município. Além disso, a rodovia A7, conhecida pela superlotação, também será coberta por parques – assim, bairros que dificilmente podem ser atravessados a pé ficarão mais convidativos.
Helsinki
Helsinki espera uma onda de novos moradores nas próximas décadas, mas quanto mais pessoas chegam, menos carros serão permitidos em suas ruas da cidade. Em um novo plano, ela será redesenhada para que seus subúrbios dependentes de carros sejam transformados em comunidades gentis a pedestres, ligadas à região central por transporte público de alta velocidade.
A cidade também contará com novos serviços de mobilidade sob demanda para agilizar a vida sem automóveis. Um novo aplicativo, ainda em fase de testes, possibilitará que os cidadãos chamem instantaneamente uma bicicleta compartilhada, carro, táxi ou encontrem, ainda, a estação de trem ou ponto de ônibus mais próximos. Em uma década, espera-se que carros sejam totalmente desnecessários em Helsinki.
Milão
A poluída cidade de Milão vem testando uma nova forma de manter os carros longe da região central. Quem deixar seus veículos em casa ganhará vouchers para utilizar o transporte público. Um aparelho conectado à internet, instalado no painel do automóvel, rastreia sua localização, para que ninguém trapaceie e dirija até o trabalho.
A cada dia que alguém deixa o carro em casa, a prefeitura envia um voucher, sempre no mesmo valor, que pode ser usado como passagem no ônibus ou trem.
Copenhague
Há 40 anos, o trânsito de Copenhague era tão caótico como em qualquer grande metrópole. Hoje, mais da metade de sua população vai ao trabalho diariamente de bicicleta.
Copenhague começou a criar zonas exclusivas aos pedestres nos anos 60, no centro da cidade, e as car-free zones se espalharam nas décadas seguintes. O município tem, atualmente, mais de 400 km de ciclovias, e novas rodovias para bikes estão sendo construídas para alcançar os bairros periféricos. A cidade tem uma das menores taxas de propriedade de automóveis de toda a Europa.
Fonte: Revista Fórum