Argentina: Presidenta comenta morte de promotor e fala de atentado

O governo argentino anunciou que vai autorizar a abertura dos documentos secretos do caso da Associação Mutual Israelense Argentina (Amia), onde um atentado a bomba matou 85 pessoas e deixou cerca de 300 feridos em 1994. A ordem partiu da própria presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, e foi anunciada na tarde desta segunda-feira (19), horas depois de o promotor da causa, Alberto Nisman, ser encontrado morto em seu apartamento no bairro portenho de Puerto Madero.

Argentina: Presidenta comenta morte de promotor e fala de atentado - Reprodução Facebook

O promotor havia denunciado a presidente Cristina Kirchner, o chanceler Héctor Timerman e o deputado Andrés Larroque. Segundo Nisman, os acusados teriam encoberto responsabilidades para facilitar um acordo de entendimento com o Irã, país de onde provém parte dos acusados pelo atentado à Amia.

No último dia 16 de janeiro, o chefe de Gabinete da Argentina, afirmou que tal denuncia tinha como objetivo “desestabilizar" o governo. Segundo Jorge Capitanich,“existe claramente uma atitude golpista de alguns membros do Poder Judiciário, uma estratégia corporativa, não do conjunto, mas de alguns integrantes”.

Nesta terça-feira (20), durante uma coletiva de imprensa, Capitanich ressaltou a decisão de Cristina Kirchner, que garantiu respaldo institucional do Estado para o esclarecimento da morte de Nisman.

Em sua fala, ele destacou ainda a necessidade de investigar “até as últimas consequências” se Alberto Nisman sofreu “extorsões” ou se recebeu “pressão” por parte de ex-integrantes do Serviço de Inteligência do país.

Declaração de Cristina Kirchner

Através de sua página pessoal no Facebook, a presidenta da Argentina difundiu uma carta aberta sobre a morte do procurador. Ela inicia o texto dizendo que “a morte de uma pessoa sempre causa dor e perda entre seus entes queridos e consternação entre os demais”.

Cristina fala da hipótese de suicídio e comenta que, neste caso,“não há apenas estupor e interrogantes, mas uma história demasiadamente longa, pesada e dura, mas, sobretudo, muito sórdida: a tragédia do maior atentado terrorista da Argentina”.

A atual chefa de Estado fez parte, como senadora nacional e como deputada, da Comissão Bicameral de Seguimento dos Atentados da Embaixada e da Amia em 1996. Sobre seu trabalho, na época, Cristina afirma:“minha participação, que se estendeu até a finalização da Comissão em 2001, esteve marcada sempre por honrar a memória, encontrar a verdade e que se faça a justiça. Em um primeiro momento fomos nos informando dos feitos, das circunstancia, da tragédia, do depoimento de familiares, de testemunhos, etc.”

A presidenta comenta ainda que com o passar do tempo, durante a investigação, “em vez de se esclarecer, tudo escurecia” e confessa que percebeu estar diante da “fabricação de um julgamento”. “Estávamos diante de uma fraude material e processual”, afirmou Cristina ao recordar a declaração de Claudio Lifschitz, que foi secretário do juiz Juan José Galeano, a quem ela acusa de cometer irregularidades no caso.

Após fazer um longo relato dos acontecimentos na época, Cristina Kirchner levanta alguns pontos de questionamento, incluindo o papel da imprensa argentina no caso e a casualidade das acusações feitas por Nisman, logo após os atentados em Paris. Da mesma forma, ela levanta a desconfiança sobre a autoria do relatório de 350 páginas apresentado pelo procurador, bem como duvida do tempo que o mesmo levou para escrevê-lo.

Cristina Kirchner conclui sua carta aberta, afirmando que “hoje, mais do que nunca, não se deve permitir que, mais uma vez, se faça com o juízo de acobertamento o que já se fez com a causa principal. Porque se descobrirá os autores do atentado quando se saiba quem os acobertou. Na Argentina, de todo modo, devemos remarcar o mais óbvio e simples”.

Théa Rodrigues, da redaçao do Portal Vermelho,
Com informações da Presidência da Argentina e do Opera Mundi