Com crise hídrica em São Paulo, Aben defende uso de energia nuclear
A nova diretoria da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), empossada nesta sexta-feira (5) na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) para o biênio 2015/2016, defendeu o papel dessa matriz energética, no atual momento de crise do sistema hidrelétrico brasileiro.
Publicado 05/12/2014 15:03
Em entrevista à Agência Brasil, o vice-presidente recém-empossado da Aben, engenheiro Marcelo Gomes da Silva, disse que os próximos dois anos serão decisivos para a energia nuclear no Brasil, em função do estresse hídrico que o país atravessa, com os níveis dos reservatórios muito baixos. “Isso está demonstrando, cada vez mais, a necessidade de que o sistema elétrico brasileiro tenha um componente forte de energia térmica de base. A usina nuclear tem esse papel”, disse.
Para ajustar a oferta de geração de energia no país, a Aben defende a construção de mais usinas nucleares e o desenvolvimento dessa matriz energética em todo país. O Plano Nacional de Energia para 2030 (PNE 2030), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, sinalizava – para um cenário de maior demanda – a construção no país de usinas nucleares que somariam mais 8 mil megawatts (MW) ao sistema elétrico nacional. O plano está sendo revisado, com horizonte para 2050.
O vice-presidente da Aben destacou que a reformulação do planejamento energético ocorre em um momento oportuno, “em que se demonstra, de forma aguda, a necessidade da presença de geração térmica no país. A gente avalia que esse novo plano que está em gestação na EPE vai, no mínimo, manter esse quadro que era previsto em 2030, com perspectiva até de ser ampliado”.
O engenheiro salientou que a Usina Nuclear Angra 1 receberá pela primeira vez, em sua recarga de combustível, programada para 2015, urânio enriquecido no Brasil. Até agora, o combustível usado nas usinas da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, situada no município fluminense de Angra dos Reis, passava por processo de enriquecimento no exterior. Na central, estão em funcionamento as usinas Angra 1 e 2 e encontra-se em construção a Usina Nuclear Angra 3.
Segundo Marcelo Gomes da Silva, esse é um fato importante, porque se trata de tecnologia nacional. “É uma questão estratégica também. O Brasil passa a deter a tecnologia de todo o ciclo do combustível, que envolve mineração, conversão, enriquecimento, beneficiamento e fabricação do combustível. Em todo esse ciclo agora, você tem tecnologia nacional”. Com isso, o Brasil participa de um grupo muito restrito de países que têm não só a tecnologia, mas também as reservas de urânio, entre os quais se destacam o Canadá e a Rússia. Outros, como a França e a China, têm tecnologia, mas não têm minério. “Esse é um diferencial muito importante para o Brasil”.
O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, cujo volume, entretanto, ainda não é conhecido em toda a sua extensão, observou Silva. “Eu avalio que se a gente for comparar a nossa reserva, por exemplo, com as reservas do pré-sal, você vai descobrir que a gente tem um pré-sal de urânio na mão”. Lembrou que apenas 30% do território brasileiro foram prospectados até o momento em termos de minério de urânio. Estimou que quando o levantamento dos restantes 70% do território for feito, “a gente pode chegar a ser uma das maiores reservas do mundo, talvez a segunda maior do mundo”.
Para o vice-presidente da Aben, o Brasil não pode abrir mão desse recurso. “Esse é um patrimônio que o país tem e seria uma irresponsabilidade não explorar e não fazer a sociedade se beneficiar disso”. Pensando na geração de energia como um todo, disse que o consumo de energia por habitante no país é muito baixo ainda. “Acesso à energia é qualidade de vida, é desenvolvimento. Você não pode privar as pessoas desse acesso”.
Segundo Silva, esse é um desafio para o setor elétrico e a energia nuclear pode contribuir de forma significativa para atender à demanda da população. Dentro da geração térmica, a energia nuclear é a fonte mais limpa, em termos de efeito estufa, garantiu o engenheiro. Não há emissão de gases poluentes no processo de geração de energia. “Isso coloca a gente em uma posição bastante interessante”.
O vice-presidente da Aben destacou que o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, do nome em inglês), divulgado este ano, cita a energia nuclear entre as possibilidades para que haja uma evolução para uma matriz energética mais limpa no mundo, em termos de gás carbônico. Isso reforça, segundo ele, a boa expectativa para o setor no Brasil, nos próximos anos.
Fonte: Agência Brasil