Rilton Primo: Bias da Cosmonáutica à Teoria do Valor Trabalho
Um eminente físico de uma conceituada Universidade Federal nordestina, cujos nomes não vêm ao caso, demonstrou suspeitar que, em repúblicas pobres, pudesse haver cientistas econômicos. Replicado sobre a necessidade de que estrênuos cientistas existissem precisamente nestas circunstâncias, atalhou com o chiste: “Cientistas?… como não!? os há em toda parte!!” Intuímos que haveria cientistas e “cientistas”, e os há in fact.
Por Rilton Primo*
Publicado 30/11/2014 10:20
Não parece ir tão longe assim o tempo em que os Rousseaus observavam como seria doce viver entre nós, se a contenção exterior sempre representasse a imagem dos estados do coração, se a decência fosse a virtude, se nossas máximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia fosse inseparável do título de filósofo! In techlonogy, cada revolução industrial cria arautos acadêmicos, meritocracias; interessados defensores da retrógrada “corrente contínua” contra a “alternada”, em cada setor da ciência, até serem superados, no mais tardar, pela revolução social. Não desceremos aqui, neoiluministas, a mérito ético; mantemo-nos à hard science.
Fala-se das 200 universidades mais "prestigiosas" do mundo, consideradas uma "Elite". Quem é o juiz? O Times Higher Education britânico. Qual o raciocínio? Combinação de riqueza e prestígio permite a países opulentos 1) atrair a equipe mais cara, 2) os alunos mais dispostos a pagar alto (mensalidades que chegam a US$ 50 mil), 3) ter suas dependências majestosas (e supostamente mais adequadas para a educação e a pesquisa), critérios pelos quais recente se hierarquizou que, no “Top 20” das universidades, 13 seriam americanas, 4 britânicas, 2 japonesas e 1 canadense. A Rússia só apareceria em 33º lugar, a China ocuparia apenas as 35ª, 42ª e 43ª posições, e a Índia estaria em 91ª colocação. Concluem alguns que, sendo assim julgados os fatos da ciência, será difícil deslocar as ilustres 40 melhores universidades do ranking, que são, em geral, estadunidenses.
Tanto quanto sejam aplicados vultosos recursos haverá mais ciência, pretende-se. Teoremas aferidos em dólares por metro quadrado, postulados estimados pela quantidade de volumes da biblioteca (Harvard tem 16,2 milhões), consistência teórica calculada pelo número de citações em publicações de prestígio das próprias 200 universidades de maior nome e seus pares institucionais em mega-redes de referenciamentos recíprocos etc.
Entre as 15 ditas primeiras, atualizando os números, hoje se contariam 11 dos EUA, três britânicas e uma japonesa. A suposta melhor alemã (Universität München) não chega à 45ª posição e a correspondente melhor da França (Sorbone) não estaria nem entre as 76 mais ‘pretigiosas’ colocações. Já excluídos da Elite, dos Brics está em curso uma hierarquização à parte, a ser divulgada em 3 de dezembro. A USP tem hoje a infâmia de ocupar a 215ª posição mundial, a Unicamp para lá da 330ª colocação; pás de cal nos nossos S. Dumonts.
Claro que as controvérsias metodológicas irão cercar tais avaliações, sempre, por mais numerosos que sejam os atores consultados para composição das estatísticas, outra ciência que, em si mesma, tem seus métodos alvo de escárnios enquanto “arte de torturar números, até que confessem”. Contraprovas podem ser apresentadas a qualquer posição adotada, inclusive a concorde com ordenações rígidas e plutocráticas, e aqui vai uma.
Ambos os fatos ocorridos em 2014, poucos meses depois que o Angara-1.2PP (primeiro veículo de lançamento, pós URSS, de fabricação inteiramente russa), fez seu bem sucedido voo através de um lançamento ecologicamente limpo, a partir do cosmódromo de Plesetsk, executando a missão por completo, nos EUA uma falha catastrófica levou à perda do foguete dos Antares e da cápsula Cygnus, da altura de um prédio de 14 andares, seis segundos após o lançamento, desabando de volta ao chão em devastadoras explosões.
O desastre foi de responsabilidade da empresa particular americana Orbital Sciences, contratada pela Nasa, agência em parceria com a qual, em 2011 e 2012, o California Institute of Technology (Caltech) foi considerado, por aquele Times Higher Education, a primeira entre as universidades do mundo. Falta de dinheiro não é exatamente o problema da Nasa. O contrato Nasa-Orbital Sciences é de US$ 1,9 bilhão para a realização de oito voos de carga para a Estação Espacial Internacional (ISS) até fins de 2016. Ninguém hoje investe tanto numerário nisto. Ao hierarquismo inglês, o Caltech comemora hoje o 9º posto, após ter despencado, já em 2013, ao 11º, um descenso sem explicação óbvia, pois sobremodo para explodir foguetes de prestígio o custo é considerável.
Observando o assunto mais de perto, é importante considerar que em 2010 Obama anunciou que o orçamento da Nasa (US$18 bilhões) seria congelado por cinco anos, mas ele encolheu, porém muito, muito pouco. Economizou-se cada vez mais, porém investiu-se muito, porém mais prudentemente: para desassociar-se dos fiascos tecno-científicos, não se socorreu do prestígio universitário, mas cancelou programas, inclusive o de retorno à Lua e repassou a criação de naves à iniciativa privada, como a Boeing (que recebeu US$ 92 milhões), a Space Exploration Technologies (US$ 75 milhões), Sierra Nevada (US$ 80 milhões) e Blue Origin (US$ 22 milhões). Já em 2011 a Academia Americana de Ciências considerou fadado ao fracasso o programa de exploração espacial tripulado da Nasa, chegando a advertir para a perda da hegemonia dos Estados Unidos no espaço. Claro que as opiniões deles sobre si mesmos não poderiam ser menos lisonjeiras, e inda há crítica de inimigos.
Trocando em miúdos, e voltando ao contexto inicial deste debate, quando vemos que uma instituição tão símplice de investimentos, como a Faculdade de Economia da Universidad de la Havana, teve uma de suas lentes distinguida, em abril de 2011, com o Premio Internacional de Investigación en Desarrollo Económico "Juan F. Noyola", por um trabalho sobre crescimento econômico e a produtividade total dos fatores, por iniciativa da Comisión Económica para América Latina y el Caribe (Cepal) e do Instituto de Investigaciones Económicas de la Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), mesma faculdade cubana que havia sido certificada em 2008 com a “Primeira Palma” pelo International Scientiffic Committee [Comitê Cientifico Internacional], na categoria “Business Schools”, “considering its International Influence” [considerando sua influência internacional], em conformidade com o Education Evaluation Sistem [Sistema de Avaliação Educacional] da conceituada Eduniversal, que obviamente nada tem que ver com os critérios do Times Higher Education (segundo o qual esta Universidade não estaria nem entre as 400 de sua lista), paremos para repensar, por um momento que seja, na fortuna científica do economista D. Ricardo, o maior de toda a escola clássica britânica, prestígio correlato ao do matemático italiano J. Lagrange, ás de seu tempo, e pasmamos com inseguranças epistemológicas como a do discípulo nordestino de Galileu, cético de seus pares, pois supor existências, mesmo naturais, é também negá-las.
Biografa-se que Ricardo dedicou-se quase que inteiramente aos estudos por ter feito fortuna antes dos 30 anos. Aqui a meia-verdade, embora a necessidade extrema não seja a maior alavanca ao desenvolvimento da ciência. O oposto não é menos verdadeiro. Cogita-se que, por exemplo, deva-se agradecer ao pai de Lagrange o fato de não ter sido rico, mas apenas ter tido um cargo importante (tesoureiro de guerra da Sardenha), levando uma vida modesta. O próprio Lagrange diria: "Se eu tivesse sido rico, provavelmente não teria dedicado minha vida à matemática".
Que fez então este homem, por assim dizer, de poucas posses? Em resumidas palavras, de fato, ombreando-se a Euler, objetivou não apenas aplicar o cálculo de Newton e Leibniz (como a maioria dos matemáticos de seu tempo) mas “revisar seus fundamentos e oferecer uma explicação mais rigorosa do porquê e de como o cálculo funciona”¹ . Estimava ter sido o primeiro a não ter recorrido a diagramas na exposição da teoria mecânica, reduzindo os fundamentos do cálculo à álgebra pura, em seu Mecânique Analytique. Demais, formalizou a noção de limite e deu à teoria das equações diferenciais sua posição como ciência universal, para bem além de uma simples coleção de estratagemas engenhosos para a solução de problemas particulares² . Um gênio.
A generalização e universalidade a que seus trabalhos invariavelmente tenderam fazem de Lagrange, na área do cálculo, um teórico semelhante a D. Ricardo na do valor. Que fez este senão, igualmente, oferecer uma explicação mais rigorosa do porquê e de como o valor econômico funciona? Daí os avanços a que chegou na teoria da renda, vantagens comparativas etc. Suas dificuldades estavam, basicamente, em ter sido ele um desbravador. Extraiu generalizações altamente sintéticas de um conjunto amplo de dados e teoremas e deduziu delas outras inferências, para as quais apresentou exemplos, contraexemplos e crítica minuciosa das contradições aparentes, resolvendo-as uma após outra, com referência aos fatos, até concluir, regressando ao processo inferencial abstrato, que “mercadorias jamais variarão de valor, a menos que maior ou menor quantidade de trabalho seja necessária para sua produção.”
Muito reexame o impelira do particular ao geral. Há quem considere que seus textos são tão densos e meticulosos quanto difíceis.
Hoje talvez o mais difícil seja desvencilhar-se do mainstream (anti-ricardiano) e seus métodos anti-teóricos.
Duas das características do sistema ricardiano manifestam-se de imediato. Ricardo pretendeu "formular leis". A economia política afirmava-se como um sistema positivo, no qual as leis são deduzi¬das (quase que com rigor matemático, como relembra Dobb) de certas hipóteses gerais. A possibilidade de conferir a essa positivi-dade um caráter normativo não decorria mais, como no caso da fisiocracia, da existência de uma "lei natural". A positividade as¬sentava-se na generalidade das hipóteses, o que, sobretudo, destaca o elevado nível de abstração a que chegara a ciência. […]. A abstração concede a possibilidade de se alçar do particular ao geral, permitindo — entre outras consequências — ter-se menos em vista os ajustamentos e aspectos particulares das questões, que as tendências e características do sistema. […]. O fato é que, por detrás de tal "teoricismo", subjaz uma sensível mudança no enfoque e no estilo de se teo¬rizar, em economia política. Os próprios contemporâneos de Ricardo perceberam essa mu¬dança. Em A Riqueza daí Nações, a teoria combina indução e dedução a todo momento. […]. Ri¬cardo, de certo modo, autonomizou a economia política em re¬lação à realidade; não no sentido de que o sistema deixasse de ter em vista os fatos econômicos concretos e mesmo as questões emergentes na conjuntura, mas no sentido de que o sistema era geral, suas leis podendo ser deduzidas de um número restrito de hipóteses. A mudança de enfoque, portanto, representou uma efetiva transformação na metodologia da economia política, com consequências que interferiram decididamente na controvérsia econômica da época e se propagaram muito além. […]. O primado da distribuição (e do valor), deste modo, trouxe consigo uma profunda inflexão. Qualquer que seja a razão, acarretou uma profunda mudança de rumo da economia política; em parte propiciada pelo fato de ter a teoria do valor […] assegurado, como veremos, o princípio de unificação para uma ciência constituída. Tal economia de meios e precisão de objetivos conferiram ao sistema ricardiano grande solidez. Ele impôs-se como verdadeiro sistema científico, o que, por um lado, expandiu sua influência e longevidade e, por outro, revelou-se eficaz (e até mesmo decisivo) num momento em que a temática do valor-trabalho vinha perdendo autoridade. […]. Ricardo, um firme adepto da proposição de que os preços são de¬terminados pelos custos de produção, via com preocupação o grau de difusão alcançado pela antiga "verdade prática" de que os preços se determinam por oferta e demanda. Retomou (em termos pró¬prios, como veremos) a distinção entre preço natural e preços de mercado e a preocupação com o "valor intrínseco" às mercadorias. Remeteu as relações de intercâmbio às condições de produção das mercadorias, recuperando, neste particular, uma das tradições da economia política inglesa. O sistema ricardiano, um dos menos filosóficos dos sistemas de economia política, cumpriu o paradoxal papel de novamente ancorar a reflexão econômica no valor-trabalho, uma categoria-síntese com marcante passado filosófico. ³
Quanto a este inegável crédito, já na polêmica com Proudhon de 1847, Marx teve a primeira oportunidade de reconhecê-lo(4) , tornando a fazê-lo até quando da sua plena maturidade científica (ver sua História Crítica do Pensamento Econômico), não sendo necessário insistir nisto. A questão decisiva para Ricardo foi, sem dúvida, esta: “quando o valor relativo das mercadorias varia, seria importante dispor de meios para averiguar com certeza qual delas diminuiu e qual aumentou em seu valor real.” Para os economistas pré-científicos o valor real é o relativo. E o valor relativo, disse J. Say, “é igual ao valor das remunerações dos serviços produzidos, que é por sua vez igual ao total dos bens e serviços comprados”, mas aí se cai em um círculo vicioso, pois qual o valor destes bens e serviços, destas remunerações? Apela à oferta e procura. Mas oferta e procura ditam preços? Estes não as condicionam? Nada aí agregam. Não admira que não tenham chegado nunca a compreender o valor em si, pois qualquer coisa que precisa ser medida tem um valor absoluto, outro relativo e este depende da unidade de medida empregada, aquele da quantidade a aferir. Quando a unidade de medida não é invariável, parece que é o aferido que varia. Mas quando se sabe em quanto a unidade de medida variou, a constante emerge.
Valores de oferta-procura são pré-científicos, contém bias(5) . É, neste caso, precisamente o viés que cientistas mais modestos investigaram e seguem esmiuçando a contrapelo, e é isto que precisa ser negado e renegado pelas novas Elites acadêmicas à inglesa, digna de outros prestígios. Não há coincidência ou surpresa que a Elite cultive-os e nos aliene do valor. Sem uma errônea compreensão do valor não há prestígio, Elite, mais-valias absoluta ou relativa, deterioração dos termos de troca. O aprofundamento das desigualdades seria revertido até o desmantelamento dos oligopólios e ruína final do sistema de acumulação privada via exploração do trabalho.
Daí que Marx tenha sublinhado, já no Prefácio à Primeira Edição de O Capital: “No campo da economia política, a investigação livre e científica encontra muitos mais inimigos do que nos outros campos. A natureza particular do assunto de que trata ergue contra ela e leva para o campo de batalha as paixões mais vivas, mais mesquinhas e mais odiosas do coração humano, todas as fúrias do interesse privado.” Claro, não é este o lugar para tratarmos das relações íntimas entre as revoluções cientifica e política, mas, em contrapartida, nos permitamos trazer a questão mais para perto dos nossos debates diários. “É natural [disse certa vez Celso Furtado] que nas ciências sociais – nas quais inevitavelmente existe ampla faixa onde se racionalizam interesses ligados à estrutura social existente – as iniciativas renovadoras encontrem maiores resistências.(6)" Nas palavras de F. Perroux: "No campo econômico é fácil comentar um frase célebre sobre nossa época em que é mais difícil desintegrar um preconceito do que um átomo."(7) Na mesma linha de raciocínio, Paul Sweezy, asseveraria que “a resistência ao abandono dos velhos paradigmas é muito mais complexa e provavelmente muito mais tenaz nas ciências sociais do que nas ciências naturais. […] o fato das revoluções nas ciências sociais andarem sempre ligadas de uma forma ou de outra às revoluções políticas e sociais constitui uma consequência disso”(8) . Sweezy esqueceu de acrescentar que o inverso não é verdadeiro, pois o fato de as contrarrevoluções sociais estarem ligadas de uma forma ou de outra às contrarevoluções nas ciências sociais não geram por consequência uma elevação de nossa inteligência, mas do nosso cinismo.
Varando pela tréplica, cada vez que a esquerda toma ar, reanuncia a débâcle teórica do mainstream, e só. Trata-se de um fenômeno pendular, alguns geômetras o traçaram. Os marxistas lembramos que estes movimentos pendulares só brotam quando já existem ou, pelo menos, estão em gestação as condições materiais para a sua realização. Sublinhamos que o modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral, não sendo a consciência dos homens que determina o seu ser, mas seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência, leia-se a sua ciência. Os matemáticos insistem em que o complexo sistema de equações que pode definir tal processo enuncia um espaço n-dimensional retroativo a si mesmo, e estão certos. Daí a querer fazer inda que uma pequena reunião de condomínio computacionalmente prevista é que são elas. A teoria da revolução estava para a maior parte de nós, viu Lênin, como matemática superior para uma criança de 5 ou 6 anos. Para os cientistas capitalistas o funcionamento do sistema de preços no socialismo era impossível, mas foi feito. Claro que a questão do mercado administrado à planificação revive.
Ser espartano não é prova contra o gênio de uma república que não goza de privilégios, nem ser sibarita elidiria as bias.
Obviamente amanhã a última verdade cientifica será a penúltima e desimporta gosto ou decoro.
Quanto ao programa espacial-militar dos EUA indo pelos ares, tal não constitui argumento contra a cosmonáutica.
Voltemos à teoria do valor trabalho, que Marx desenvolveu elidindo erros circulares remanescentes até mesmo em Ricardo, lembrando que a economia científica começou quando a análise ultrapassou o reino vulgar da relatividades mercantis dos preços e penetrou o domínio da produção do valor econômico pelos trabalhos:
O economista vulgar não faz a mínima ideia de que as relações de troca reais, do dia-a-dia, e as grandezas do valor não podem ser imediatamente idênticas. A piada da sociedade burguesa está precisamente em que a prio-ri não existe qualquer regulação social consciente da produção. O racional e naturalmente necessário impõe-se apenas como média atuando cegamente. E então o economista vulgar crê fazer uma grande descoberta quando, no que respeita à revelação da conexão interna, proclama que as coisas na aparência parecem di-ferentes. De facto, está a proclamar que se agarra à aparência e que a toma como a última palavra. Para quê então, em suma, uma ciência? Mas a coisa tem aqui ainda um outro fundo. Com a compreensão da conexão, toda a crença teórica na necessidade permanente da situação existente se desmorona antes do desmo-ronamento prático. Há aqui, portanto, interesse absoluto das classes dominantes em perpetuar esta insensata confusão. E para que outra coisa são pagos os tagarelas sicofantas que não sabem jogar nenhum outro trunfo científico a não ser que em suma na economia política não é permitido pensar?(9)
Demais, a arma da crítica jamais poderia sobrepujar a crítica das armas; o necessário é a força material superior. Tal é a contribuição que a ciência deve dar ao movimento operário internacional; ela será, sobretudo, chinesa. Quantas repúblicas mais prestarão seu aporte às derrisórias bravatas oficiais da higher education tech-militarista? Alguma pessoa alimenta ilusões sobre o papel de nossas concepções no processo de desintegração do imperialismo? Na febre desta incerteza, proferir-se-ia palavras da antiguidade, mas soaria pedante. Eis outras de só 170 verões:
Na luta contra esta situação [concluíra Karl Marx em seu Para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, escrito entre o outono de 1843 e janeiro de 1844], a crítica não é uma paixão cerebral, mas o cérebro da paixão. Não é um bisturi anatômico, é uma arma. O seu alvo não é um inimigo que ela procura refutar, mas destruir.
Pois o espírito de tal situação já foi refutado. Não é em si e por si um objeto digno do nosso pensamento; é uma existência tão desprezível como desprezada. A crítica já não necessita da ulterior elucidação do seu objeto, porque já chegou a um acordo. A crítica já não é fim em si, mas apenas um meio; a indignação é o seu pathos essencial, e a denúncia a sua principal tarefa. Trata-se de descrever a pressão sufocante que as diferentes esferas sociais exercem umas sobre as outras, o mau humor universal, mas passivo, a estreiteza de espírito complacente, mas que se ilude a si própria; incorporada num sistema de governo que vive pela conservação da indigência e que é a própria indigência no governo.
Rilton Primo* é Economista, Consultor do Ceala.
1 Sanchez D. Joseph Louis Lagrange e o Desenvolvimento da Mecânica Clássica. Unifei, 2007.
2 “O objetivo do livro é mostrar que o assunto é implicitamente incluído em um só princípio, que permite dar fórmulas gerais das quais qualquer resultado particular pode ser obtido. O método de coordenadas generalizadas que obteve é, talvez, o resultado mais inteligente de sua análise. Ao invés de seguir o movimento de cada parte individual de um sistema material, como D’Alembert e Euler haviam procedido, Lagrange mostrou que, se determinarmos sua configuração utilizando um conjunto de variáveis tal que seu número é igual ao número de graus de liberdade, e utilizando um número de variáveis cujo número é igual aos graus de liberdade que o sistema possui, então escrevendo as energias cinética e potencial do sistema nessas variáveis, as equações diferenciais de movimento se deduzem por diferenciação. Toda a análise é tão elegante que William Rowan Hamilton disse que este trabalho ‘só poderia ser descrito como um poema cientifico’. Pode ser interessante observar que Lagrange comentou que a mecânica realmente era um ramo da matemática pura análoga a uma geometria de quatro dimensões, a saber, o tempo e as três coordenadas do ponto no espaço. Em princípio nenhuma editora queria publicar o livro, mas Legendre, finalmente, persuadiu uma empresa de Paris a fazê-lo, em 1788.” (Id., Ibid.).
3 Coutinho, L. Lições de Economia Política Clássica. São Paulo: Hucitec, 1993, pp. 180-182.
4 “A teoria dos valores de Ricardo é a interpretação científica da vida econômica atual […]. Ricardo verifica a verdade da sua fórmula derivando-a de todas as relações econômicas, e assim explica todos os fenômenos, inclusive aqueles que, à primeira vista, parecem contradizê-la, como a renda, a acumulação de capitais e a relação entre salários e lucros; e é isso, precisamente, que faz da sua doutrina um sistema científico.” Cf. MARX, K. Miséria da Filosofia. São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 63.
5 Traduzido entre nós por viés, é o erro que conduz a conclusão inverídica, tendenciosa. Seus três tipos casuais principais são o viés de seleção, o viés de aferição e o viés de confundimento, mas é comum o proposital, por preconceito e interesse.
6 Furtado, C. A Análise Marginalista e a Teoria do Subdesenvolvimento. In. Contribuições à Análise do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1957, p. 163.
7 Perroux, F. A Economia do Século XX. Lisboa: Herder, 1967, p. 19.
8 Sweezy, P. Para uma Crítica da Economia Política. São Paulo: Global, 1979, p. 14.
9 Marx, K. Carta a Ludwig Kugelmann de 11 de Julho de 1868. In. _____. Obras Escolhidas. Editorial "Avante!", tomo II, pág: 455-456. Disponível em: http://www.marxists.org/portugues/marx/1868/07/11.htm. Acesso: 29 nov. 2014