EUA reconhecem ter forçado Europa a introduzir sanções contra a Rússia

A fanfarronada do vice-presidente dos EUA, Joseph (Joe) Biden, pronunciada perante os alunos da Universidade de Harvard, se assentava, como se costuma dizer, em “parágrafos mutuamente exclusivos”.

Por Igor Siletsky

EUA - Bill Greenblatt/UPI

No parecer de Biden, uma das “pedras angulares” da política de Washington reside na ideia de uma Europa “una e livre em que cada Estado tem o direito de optar por sua própria via de desenvolvimento”. Por isso, os EUA “tinham realizado múltiplos esforços para convencer os aliados a proporcionarem um apoio sério à Ucrânia”.

A frase pseudo-diplomática foi logo decifrada: os países comunitários não queriam introduzir sanções antirrussas, mas o presidente dos EUA fez questão disso, colocando a Europa em maus lençóis, impondo-lhe ainda sérios riscos econômicos.

Curioso notar que a mídia europeia não tem comentado a declaração de Biden: não é a primeira vez que a “Europa livre” se vê numa situação ambígua dessas, opina o politólogo, Serguei Mikheev.

“É uma bofetada cínica para que a UE (União Europeia) saiba bem o seu lugar ao Sol. Joe Biden, usando expressões normais e cívicas, repetiu as obscenidades de Victoria Nuland, ditas em contatos telefônicos em relação a UE e divulgadas, mais tarde, pela comunicação social.
Resumindo: a Europa irá fazer aquilo que dissermos. Sozinha, ela não pode tomar decisões autônomas, por isso, vamos agir como nos der na cabeça, mesmo que isso venha prejudicar os interesses dos europeus”.

Se refira ainda à reação europeia às denúncias de Edward Snowden, quando se revelou como a NSA havia vigiado os líderes da Europa, “indignada” com o fato de escutas telefônicas. Mas a apreensão e a indignação iniciais passaram e os dirigentes europeus retomaram o apoio das “iniciativas democráticas”, avançadas pelo irmão mais velho, Washington.

Há quem diga que a União Europeia, à semelhança da Rússia, se tornou alvo da política demolidora dos EUA, constata Andrei Manoilo, da Universidade Estatal de Moscou (MGU).
“Washington está conduzindo um jogo duplo. Para os EUA, a UE é um adversário não menos perigoso que a Rússia, sobretudo, no plano econômico, sendo seu concorrente colossal. Por isso, Washington, usando a crise ucraniana, pode lançar uma ofensiva simultânea contra esses dois concorrentes”.

O vice-presidente dos EUA foi muito fraco em suas avaliações: os governos europeus são vassalos de Washington. Sem a segunda intenção, ele veio provocar a Europa, fazendo que ele proteja a sua independência em relação aos EUA, salienta o economista norte-americano, antigo funcionário da Administração Reagan, Paul Craig Roberts. Quanto à Rússia, essa acabou por ganhar com a “história de sanções”.

Em seu discurso, Joe Biden repetiu uma frase que se usa hoje com muita frequência pela Casa Branca. “Não queremos ver um colapso da Rússia, queremos que ela alcance sucessos”. Seria interessante perguntar que sucesso terá sido esse diante de uma nova guerra fria, desencadeada por Washington.

Fonte: Voz da Rússia