ONU critica condução das operações militares contra o leste na Ucrânia

A ONU demonstrou, na terça-feira (5), uma grande preocupação com a situação dos territórios localizados no leste da Ucrânia e com os números crescentes de refugiados. Ao todo, ao menos 118 mil pessoas já se deslocaram internamente e 740 mil fugiram para a Rússia durante a atual crise.

Ucrânia - Reuters/Sergei Karpukhin

"O que nós temos medo é em relação a forma como as operações militares estão sendo conduzidas. O que vai acontecer se tivermos intensos combates dentro de grandes centros urbanos como Lugansk e Donetsk? As lutas em áreas urbanas altamente demográficas podem levar a um êxodo maciço e a uma destruição maciça ", afirma o alto comissário da ONU para refugiados, Vincent Cochetel.

“Quase quatro milhões de pessoas vivem na região que foi a mais atingida pela violência, e as ameaças iminentes a segurança também provocam muitos na infraestrutura do local, a interrupção de energia e do abastecimento de água”, relata John Ging, chefe do escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários.

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Em Donetsk e em Lugansk, onde vivem aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, o abastecimento de água diminuiu e está disponível apenas durante algumas horas por dia. Os suprimentos médicos também estão perigosamente em baixa. Outra grande preocupação é que cerca de 70 por cento dos médicos deixaram a região.

Das 118 mil pessoas que se deslocaram internamente na Ucrânia, em 87 por cento dos casos, a região abandonada foi o leste do país, segundo os dados da ONU. Mais de 1.000 pessoas por dia deixam a zona de conflito.

Esses números podem ser ainda maiores, já que "muitos ucranianos deixaram suas casas sem se registrarem oficialmente com as autoridades locais." Na Rússia, 740 mil refugiados já chegaram desde o início deste ano, de acordo com estimativas do governo russo e da ONU.

Alguns antigos moradores – e agora refugiados – contam o que passaram

"Eles nos bombardeavam sem parar, dia e noite. Eles atingiram a casa do nosso vizinho, mataram nosso vizinho. Como podemos viver neste país? ", conta Tatyana Belyaeva, moradora de Lugansk.

"Minha casa foi destruída, não sobrou nada … Não existiam alvos estratégicos em nosso bairro para atacarem”, diz Pyotr Seletsky, um médico residente em Lugansk. Já a esposa dele, Elena, relata o desespero vivido pelo casal. "Eu não tenho nenhuma ideia de que tipo de bomba pode transformar uma casa em um inferno em questão de minutos. A temperatura era tão alta que os tijolos desmoronaram".

Pelo menos 1.367 pessoas, civis e militares, morreram e 4.087 estão feridas no leste da Ucrânia desde abril. O representante da ONU chamou a atenção para a questão da evacuação civil das áreas afetadas pelo conflito militar. “Corredores humanitários são abertos durante várias horas por dia, mas estes são regularmente bloqueados pelos combatentes e a evacuação de pessoas através destes canais é impedida."

Ging denunciou que Kiev cobra taxas sobre a ajuda humanitária que chega ao país, e exigiu que o governo simplifique a entrada de funcionários das Nações Unidas na Ucrânia. Além disso, "um sistema unificado é necessário para registrar as pessoas que se deslocam internamente, para permitir a análise e a compreensão plena das necessidades do povo", explicou.

O chefe do escritório da ONU disse ainda que "a ajuda humanitária deve ser livre de pagamentos alfandegários. É necessário acelerar o processo de assinatura e ratificação do acordo entre a ONU e o governo sobre a simplificação da entrada no país de trabalhadores humanitários.”

O componente-chave dos planos da ONU para fornecer a ajuda humanitária é a preparação para o inverno, quando as temperaturas baixas podem provocar grandes problemas para a população. "Precisamos assegurar que sejam tomadas todas as medidas para enfrentarmos as consequências da chegada do inverno".

Desde abril, o governo ucraniano tem investido militarmente contra a população do leste do país. Isso porque, em fevereiro deste ano, vários grupos não apoiaram o golpe impetrado pelos atuais detentores do poder, com respaldo dos Estados Unidos e da União Europeia.

Da redação do Vermelho,
Com informações da emissora Russia Today