Brasil compensou nove vezes emissões diretas de carbono da Copa
O Brasil compensou mais de nove vezes a quantidade estimada de emissões de carbono geradas diretamente pela realização da Copa do Mundo 2014, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (11) no Centro Aberto de Mídia João Saldanha no Rio de Janeiro. Segundo ela, o país parte agora em busca de um recorde: ser o primeiro do mundo a compensar 100% das emissões, diretas e indiretas, de gases de efeito estufa emitidos durante o Mundial.
Publicado 11/07/2014 15:36
Até agora foram neutralizadas 545,5 mil toneladas de carbono equivalente (tCO2eq – unidade de medição de gases que interferem no aquecimento global). Trata-se de um volume significativamente superior às 59,2 mil tCO2eq previstas para obras, energia gasta nos estádios, deslocamento de veículos oficiais e outras atividades ligadas diretamente à organização da Copa. O total de 545.500 créditos de carbono equivale a evitar o desmatamento de 1.124 hectares de Floresta Amazônica, o que representa uma área de 1.124 campos de futebol.
Além de compensar as emissões diretas da Copa, o Brasil buscará mitigar também 100% das emissões totais do evento – estimadas em 1,4 milhão tCO2eq – disse a ministra. As emissões indiretas decorrem principalmente do transporte aéreo internacional para o evento. O Brasil é o primeiro país do mundo a buscar, de forma voluntária, compensação de tudo que foi emitido por uma Copa do Mundo da FIFA, disse a ministra. As 545,5 mil tCO2eq já neutralizadas correspondem a 39% do total das emissões diretas e indiretas.
O objetivo agora é transmitir a tecnologia para os Jogos Olímpicos de 2016, disse a ministra. “Esperamos agora dialogar com pessoal das Olimpíadas e traduzir esse ganho, também com o intermédio do Ministério do Esporte, para poder certificar tudo ambientalmente”, antecipa a ministra.
Os números são resultado do programa Iniciativa Baixo Carbono na Copa, lançado pelo Ministério do Meio Ambiente para estimular empresas que atuam no Brasil a doar créditos de carbono e, assim, ajudar a compensar as emissões geradas pela realização do Mundial. A ministra disse que 16 empresas aderiram voluntariamente até agora à chamada pública de doação de créditos de carbono, mas salientou que o prazo para entrada de novas entidades continua aberto até 18 de julho.
A adesão não envolve qualquer transação financeira e as companhias que participarem da iniciativa recebem o Selo Baixo Carbono. Ainda nesta área, a ministra destacou ações desenvolvidas pelos estados e cidades-sede voltadas à mitigação das emissões, como a Certificação das Arenas, os Planos de Gestão de Resíduos e Reciclagem, iniciativas de mobilidade urbana, como as ciclovias, e o uso de combustíveis menos poluentes (biodiesel e etanol).
Entre as iniciativas de destaque está o Programa Gol Verde, em Salvador, que instituiu que cada gol da Copa na Arena Fonte Nova equivaleria ao plantio de 1.111 mudas da Mata Atlântica. Com 32 gols feitos na Fonte Nova, mais de 35 mil novas árvores serão plantadas em um parque da capital baiana.
Outra iniciativa sustentável de sucesso durante a Copa é o Passaporte Verde, coordenada pelos ministérios do Meio Ambiente e do Turismo e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que incentiva a população local e visitantes a participarem de um futuro mais sustentável, com padrões mais adequados de consumo e produção. Tendo como alvo imediato a Copa do Mundo, mas com uma visão de longo prazo, a ação engajou empresários e turistas, brasileiros e estrangeiros.
Com o slogan “Eu cuido do meu destino”, a campanha Passaporte Verde tem tido cerca de 1.000 novos acessos por dia na website, no aplicativo móvel e nas mídias sociais. Estruturados com os governos estaduais e municipais das 12 cidades-sede, os roteiros trazem mais de sessenta opções de passeios que estimulam vivenciar a sustentabilidade em momentos de lazer.
“A campanha Passaporte Verde no Brasil é pioneira no trabalho internacional do Pnuma”, disse o diretor executivo do programa, Achim Steiner, na coletiva de imprensa. Steiner acrescentou que espera que o País se torne um modelo para o consumo e a produção sustentáveis, e no desenvolvimento dessa ferramenta de informação.
Essas são duas das ações do Plano Operacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Copa 2014, coordenadas pelos ministérios do Meio Ambiente, do Esporte, do Turismo, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do Desenvolvimento Agrário (MDA), e pelo PNUMA, em parceria com os estados e cidades-sede.
Outra dessas ações é a Gestão de Resíduos e Recicláveis, que possibilitou a inclusão de 2.400 catadores e a coleta seletiva de mais de 182 toneladas de materiais recicláveis nos estádios nas 12 cidades-sede.
Na Copa de 2014, o Brasil lançou também a Campanha de Consumo Consciente, com o objetivo de promover produtos orgânicos e a produção da agricultura familiar do País. A campanha atuou em duas frentes: os 18 mil voluntários participantes do Programa de Voluntariado do Governo Brasileiro (Brasil Voluntário), que atuam fora das arenas, receberam um kit de alimentos orgânicos não perecíveis, adquiridos pelo MDS em uma modalidade inédita de compra institucional; as cidades-sede receberam Quiosques de Comercialização de Produtos Orgânicos e da Agricultura Familiar, com a participação de cerca de 60 grupos e associações de produtores, que representam 25 mil famílias agricultoras de todo o País. O objetivo, além da comercialização, é que a campanha deixe como legado uma cadeia produtiva cada vez mais organizada e estruturada.
Esta também será a primeira Copa do Mundo em que todos os estádios seguiram modelos de construção e gestão sustentável capazes de obter certificação internacional. Das 12 arenas, seis já obtiveram o selo Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), reconhecido internacionalmente: Castelão, Fonte Nova, Arena Pernambuco, Arena da Amazônia, Maracanã e Mineirão.
“Nosso legado para a área ambiental é tremendo legado”, disse a ministra. “Sairemos da Copa em outro patamar em termos de certificação e de gestão sustentável de eventos esportivos, que vai ser usado por organismos internacionais como metodologia para eventos globais.”