CV do Rio manda documentos a Amorim sobre tortura em prédios militares
A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) vai encaminhar ao ministro da Defesa, Celso Amorim, um ofício com documentos que comprovam a utilização de instalações militares como locais de tortura no período da repressão. O presidente da CEV-Rio, Wadih Damous, disse nesta sexta-feira (27) que a comissão não aceita a nota do ministro da Defesa, Celso Amorim, indicando que não houve desvio de finalidades nas instalações militares.
Publicado 28/06/2014 09:48
“Vamos mostrar o nosso inconformismo com essa declaração do ministro, e vamos anexar depoimentos e atestados de óbitos que segundo as certidões ocorreram na Rua Barão de Mesquita, número 425, onde funcionava e funciona até hoje o Batalhão de Polícia do Exército”, contou.
De acordo com Damous, a nota do ministro não se sustenta em confronto com fatos históricos, e caberia indagar se a presidenta Dilma Rousseff não foi torturada e não passou por dependências militares. “Até as pedras sabem que centenas de brasileiros foram barbaramente torturados, assassinados e desaparecidos; dentre os quais, a própria presidenta da República. Gostaríamos que o ministro refletisse melhor sobre aquilo que declarou”, disse.
Wadih Damous informou que os atestados de óbito são de dois militantes mortos em 1971. No local de falecimento, na Tijuca, zona norte da cidade, indicado no documento, funcionava também o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Além disso, segundo ele, é possível comprovar o uso das instalações militares nos depoimentos de ex-prisioneiros políticos e dos próprios agentes do Estado que confessaram as práticas de tortura.
O presidente da CEV-Rio deu as declarações depois de criticar a nota de Amorim, durante audiência da comissão para apresentar relatório parcial das atividades durante um ano de funcionamento. No encontro foram apresentadas as cópias das certidões de óbito de Gerson Theodoro de Oliveira e de Maurício Guilherme da Silveira. Para Damous, a única frustração é não ter sido esclarecido ainda a autoria da carta-bomba que explodiu na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em 1980, que vitimou a secretária da presidência da entidade, dona Lyda Monteiro da Silva.
Durante a audiência, o presidente disse que por mais que os trabalhos da comissão tenham avançado, os arquivos das Forças Armadas continuam nos porões. “Isso não nos impedirá de reconstruir, com rigor, a verdade histórica, às vezes em uma dimensão individual e limitada, outras com fatos que nos aproximam da visão integral da verdade até hoje negada pela repressão”, completou.