Helenira Rezende, presente! Agora e sempre!
Com o anfiteatro de Engenharia Elétrica da Poli USP lotado neste último sábado (31) a noite, estudantes de todo o país prestaram homenagem à líder estudantil, vice-presidenta da UNE em 1968, Helenira Rezende.
Publicado 02/06/2014 12:20
Nascida em Cerqueira César, São Paulo, a estudante de letras da USP era uma tida como aluna nota 100 entre professores, era conhecida como “Preta” entre os amigos, e sonhava em se tornar crítica de arte “quando tudo acabasse”, com a retomada da redemocratização do país.
Helenira foi morta por militares em 29 setembro de 1972 no Araguaia, região amazônica brasileira, ao longo do rio Araguaia, no Pará e Tocantins. Até hoje não se sabe a respeito dos seus restos mortais.
Todas essas informações foram levantadas pela Comissão da Verdade da UNE, que já passou a limpo a história do seu ex-presidente, também morto na ditadura, Honestino Guimarães.
Agora no seu relatório preliminar sobre sua vice-presidenta, a Comissão esclarece que a estudante não “desapareceu”, mas foi barbaramente torturada, metralhada nas pernas, e assassinada à golpes de baionetas.
“Por trás desse termo ‘desaparecido’ se oculta uma séria de crimes que a ditadura cometia contra os lutadores pela liberdade. Através do resgate da memória e da verdade, nós vamos seguir o seu legado. Todos aqueles jovens, lutavam para que o Brasil fosse além e não que voltasse a ser o que era em 1964. É esse legado, para que a gente possa seguir na luta, para que nosso Brasil seja um verdadeira democracia”, destacou a presidenta da UNE, Virgínia Barros.
A UNE planeja em seu próximo Congresso, lançar um livro da sua Comissão da Verdade,
que contenha os dossiês dos investigados e também um relatório sobre a perseguição que a própria instituição sofreu nesse que foi um dos períodos mais nefastos da nossa história.
Ato
Compuseram a mesa junto a presidenta da UNE, Amelinha Teles, da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo; o representante do Secretário Nacional de Justiça Paulo Abraão, Fábio Balestro; o presidente do Grêmio Politécnico da USP, André Simmonds; a presidenta da UEE-SP, Carina Vitral; e a pesquisadora da Comissão da Verdade da UNE, Raisa Marques.
Amelinha foi militante e perseguida política. Hoje participa também da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos. De acordo com ela só na USP são 47 estudantes mortos e desaparecidos.
“A Helenira militou nessa luta, aqui nessa universidade e viveu na clandestinidade devido a escolha política. Todos que tombaram por ideias de liberdade e justiça, tem que ter destaque na nossa sociedade. Ela em especial porque traz o seu compromisso revolucionário, a sua cor, a sua consciência que não deveria ser submissa a figura masculina”, destacou.
De acordo com ela é muito importante que a UNE, com seu papel político destacado, se reúna para fazer um homenagem para essa mulher que ainda não teve seu lugar de justiça, lembrar da luta pela qual ela morreu, sua opção em defender o operariado e os camponeses. “A UNE só existe graças a luta de pessoas como Honestino e Helenira”, afirmou.
O representante do Secretário de Justiça afirmou que uma ditadura não se mede pela pilha de corpos que ela deixou, mas por quanto ela se entranhou nos organismos da sociedade.
“E a nossa foi tão terrível que até hoje discutimos e estamos nos tentando livrar de seus resquícios. Como uma Polícia Militar para cuidar de uma população civil”, exemplificou.
O presidente do Grêmio da Poli disse ser uma honra receber a realização do 62º Coneg e que a ideia do Grêmio é se aproximar cada vez mais do movimento estudantil e voltar vanguarda de resistência e de luta como já foi no passado.
A presidenta da UEE-SP, declarou que é muito importante “falar da nossa história, mas também em uma outra perspectiva, a da luta heroica que os militantes realizaram”.
A VERDADE
Para concluir o ato, a pesquisadora da Comissão da Verdade da UNE, Raisa Marques, leu o relatório preliminar que trouxe várias informações sobre a investigada Helenira Rezende.
“Fizemos um raio x de como se deu a militância dela e a prisão. E como os arquivos públicos tratam desse assunto”, explicou.
Após a leitura, Raisa afirmou que “a Comissão da Verdade da UNE e todos aqui presentes, tenho certeza, não vamos sossegar enquanto não soubermos onde estiver Helenira. Onde está seu corpo?”, questionou.
A presidenta da UNE destacou que é necessário concluir a transição inacabada da ditadura. “Cabe à nossa geração e no ano de 2014 em especial [ 50 anos da ditadura militar] barrar os autoritários do poder. Lutar pela abertura dos arquivos da ditadura, pelo fim dos autos de resistência, revogação da lei da anistia, pela desmilitarização da polícia. E principalmente precisamos superar esse instrumento que é a lista tríplice na universidade, reafirmar a luta por uma reforma universitária, para que se torne democrática”, ressaltou.
Ela compartilhou com todos também a rematrícula simbólica da estudante Helenira Rezende na USP. “Solicitamos que a USP a rematriculasse e ontem o pedido foi aceito. Vamos prestar esta homenagem a essa grande lutadora que teve sua condição de estudante cassada pela ditadura”, comemorou.
O ato finalizou com uma grande saudação dos estudantes em coro: Helenira Rezende? Presente agora e sempre!
Fonte: UNE