Edmilson Valentim: Copa do Mundo – Dialogando com o povo
Com a proximidade da Copa do Mundo encontramos entre o povo diversas afirmações sobre o evento que, de tanto serem repetidas pela mídia, transformaram-se em chavões que as pessoas replicam sem refletir.
Edmilson Valentim*, especial para o Vermelho
Publicado 01/06/2014 11:20
Tenho observado que mesmo companheiros consequentes e que entendem a importância do evento, muitas vezes ficam na defensiva quando surge a questão de se posicionar diante do debate sobre a Copa. Evidente que alguns debates, quando feitos com pessoas claramente identificadas com bandeiras políticas da oposição (seja a oposição conservadora seja a dita “de esquerda”) podem ser apenas perca de tempo, pois neste caso o que importa para o interlocutor não é a verdade ou o interesse popular, mas apenas o objetivo político de desgastar o governo.
Mas isto é uma minoria, e em minha opinião devemos, de peito aberto e sem qualquer receio, travar o debate com a população na internet, nas ruas, no bar, em conversas com parentes. Sempre com paciência e espírito aberto a críticas pertinentes – mas também com destemor e convicção, pois de qualquer ponto de vista a Copa do Mundo é uma importante vitória que foi construída e protagonizada com grande contribuição dos comunistas. Por maiores que sejam a mentira e o oportunismo político, eles não podem triunfar diante da verdade. Segue uma rápida compilação das dúvidas sobre a Copa com que tenho me deparado.
1) Como realizar a Copa em um país que não oferece Saúde e Educação para o seu povo?
– O Brasil passou 64 anos sem Copa em seu território (a última foi em 1950), e durante este período a saúde e educação públicas foram deteriorando, ou seja, a Copa nada tem a ver com isso (ou alguém acha que saúde e educação eram maravilhosas antes de 2007, ano em que o Brasil foi escolhido para sediar o mundial?).
2) O Brasil é muito atrasado para realizar um evento deste porte.
– Já realizamos uma Copa do Mundo, em 1950. E na década de 50 a mortalidade infantil era dez vezes maior do que a que temos hoje, mais de 40% das crianças não frequentavam qualquer sistema de ensino, as contradições sociais eram bem mais agudas, o país era bem mais pobre e mesmo assim fomos capazes de realizar uma Copa que encantou o mundo. E muita gente também foi contra, na época, inclusive contra a construção do Maracanã. Hoje alguém imagina o Rio sem o Maracanã?
3) Os gastos com a Copa do Mundo foram absurdos.
– Gastou-se, exclusivamente com a Copa, para a construção e reforma de estádios, cerca de R$ 8 bilhões de reais. Obras de construção de estradas, viadutos, ampliação de aeroportos, se forem considerados gastos da Copa, somam mais 20 bilhões. Estas obras, atrasadas ou não, ficarão como legado para a população quando estiverem prontas. Mas não é só isso: qualquer análise despida de paixão política mostra que o Brasil vai ganhar muito com o evento em termos econômicos.
Levantamento da Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP, mostra que a Copa das Confederações acrescentou R$ 9,7 bilhões ao PIB. A expectativa é de que a Copa do Mundo movimente três vezes esse valor, ou seja, quase 30 bilhões. Isto sem falar no retorno com a divulgação para bilhões de pessoas ao redor do mundo da imagem do país, o que certamente alavancará o turismo e tem valor inestimável.
4) O dinheiro gasto com a Copa deveria ter sido usado em saúde e educação.
– Desde 2010, quando se intensificaram as ações e obras para sediar a Copa, o governo brasileiro investiu R$ 825,3 bilhões em Educação e Saúde. Ou seja, infinitamente mais do que se gastou com as obras da Copa. Isso quer dizer que temos uma saúde e uma educação de qualidade? Não. Mas quer dizer que existe um falso antagonismo entre os investimentos na Copa e os investimentos na saúde e educação. O próprio jornal Folha de São Paulo, que faz parte do consórcio de oposição ao Governo Federal, teve que admitir que todo o gasto do governo com a Copa corresponde a apenas um mês de gasto com a educação. Além disso, mesmo parte do que foi gasto com os estádios (4,7 bilhões) voltará com juros aos cofres públicos, pois foram empréstimos do BNDES a entidades privadas.
Um amigo me perguntou: você tem certeza de que este dinheiro voltará? A questão aí não é ter certeza ou não, mas sim a de que o dinheiro tem que voltar, e a sociedade deve estar vigilante para que isso aconteça, pois se trata de dinheiro público.
5) Houve muito roubo nas construções para a Copa do Mundo.
– Se você for construir um hospital e não houver vigilância da sociedade, haverá roubo e desvio. No entanto, assim como os problemas na saúde e na educação, a corrupção não começou no Brasil a partir de 2007. É um problema antigo e sério. Se o Brasil deixar de fazer obras sobre o argumento da existência da corrupção, o país para. A corrupção existe, é grave e deve ser combatida cada vez com mais eficácia e rigor ao mesmo tempo em que o país deve continuar crescendo, se desenvolvendo e gerando empregos.
6) A Copa serve para desviar a atenção do povo dos problemas da nação.
Muita gente, inclusive de esquerda, alega – e não é de hoje – que a Copa serviria para amortecer as consciências e impedir o povo de se revoltar (Pão e Circo). Sempre fui contra este pensamento. Afinal, levando este raciocínio as suas últimas consequências, toda manifestação cultural – e o futebol está arraigado em nossa cultura como nação – pode servir para amortecer consciências. Assim, a pessoa “consciente” não veria cinema (em boa parte produzido pela indústria cultural imperialista), tv, não pularia carnaval… Ora, agir assim é se isolar da sociedade e o que devemos fazer é travar a luta em todos estes campos pela elevação da consciência política, o contrário é ir para o gueto.
Para finalizar, sem a mínima pretensão de esgotar o assunto, pois este debate é muito rico, quero pedir a seguinte reflexão: porque os países disputam acirradamente a primazia de sediar uma Copa? Seriam todos burros? Não, a Copa é boa para qualquer nação. Mas, na verdade, em boa parte o saudável debate sobre a Copa foi contaminado pela luta política dos que, de olho na eleição, tentam convencer os brasileiros que nosso país não tem condições de sediar uma Copa.
Na avançada Alemanha, um dos estádios prometidos para a Copa de 2006 sequer chegou a ficar pronto (e se fosse no Brasil?). Na França, o governo acabou de comprar trens novos para o metrô e só depois de comprados se descobriu que eles eram muito largos para algumas estações, resultado: estações com valor histórico estão passando por obras caríssimas (e se fosse no Brasil?). Exemplos como estes encontramos aos borbotões ao redor do mundo, mas querem nos convencer de que no Brasil nada presta, que corrupção só existe aqui, atraso em obra também, etc.
Podemos e devemos encarar nossos problemas abertamente, afinal são muitos e profundos, mas não vamos nos deixar manipular por uma mídia sem princípios que pretende incutir no povo um complexo de vira latas tão grande que possa ser facilmente transformado em arma para seus fins políticos. Eu já escolhi meu lado. Vamos Brasil! Não existe contradição: Quero Copa, saúde e educação!
*é metalúrgico, ex-deputado federal e estadual, membro do Comitê Central do PCdoB