França: Partido Socialista cumpre plano neofascista contra imigração

Um contingente de polícia de choque atacou e desmantelou três acampamentos improvisados de imigrantes indocumentados na zona de Calais, no Noroeste de França, apenas três dias depois da vitória dos neofascistas xenófobos nas eleições francesas. Foram detidas 280 pessoas.

Por Sylvie Moreira, de Calais para o Jornalistas sem Fronteiras

França - AFP/Getty Images

“Hollande, Manuel Valls e os socialistas continuam lendo os resultados eleitorais ao contrário”, segundo Jeanette Lipari, funcionária da administração pública em Calais, que se declarou “revoltada” com os acontecimentos ali vividos nas últimas horas.

“É uma vergonha que a primeira ação visível do governo depois da catástrofe eleitoral seja atacar pessoas indefesas que apenas querem sobreviver, tomando a seu cargo aquele que foi o programa eleitoral dos fascistas”, continuou.

O ataque foi executado com o pretexto de “evitar que uma epidemia de sarna se propagasse entre os imigrantes”, segundo fonte oficial. “Mas nem sequer aqui foram instalados os chuveiros prometidos na perspectiva da deportação”, lamentou Marlene Silva, enfermeira que prestava voluntariamente apoio a estes seres humanos fora do seu horário de trabalho.

“É uma vergonha que se recorra a pretextos sanitários quando estão em causa questões de fundo humanitárias”, segundo Dominique Leschamps, que colabora com a organização Médicos do Mundo. “Estes imigrantes”, explicou, “vieram sobretudo da Síria, do Afeganistão e de países africanos do Sahel que vivem situações de conflito. Ou seja, a França ataca no seu território seres humanos que fugiram das suas terras por causa de guerras que a própria França promove e apoia. É o cúmulo da imoralidade, da desumanidade”.

Nos campos estavam cerca de 800 pessoas espreitando a oportunidade de atravessar o Canal da Mancha para Inglaterra, a maioria delas convictas de que as espera a deportação. Ainda assim enfrentaram as forças policiais e a maioria conseguiu fugir. Poucos foram os imigrantes que aceitaram tomar lugar nos ônibus postos à disposição pelo governo, por não saberem o destino imediato e anteverem o destino seguinte – o repatriamento.

“Três pessoas aqui recolhidas morreram nos últimos tempos, vítimas de acidentes quando tentavam saltar para caminhões que iam tomar o túnel da Mancha”, afirmou Dominique. “Um jovem afegão foi retirado já morto das águas do Canal, vitimado por hipotermia, quando se lança ao mar numa pequena e precária jangada”, acrescentou.

“Sarkozy chamava de ‘a selva’ estes acampamentos, que mandou atacar várias vezes em 2009. Posteriormente, as operações repressivas foram retomadas pelo socialista Manuel Valls, enquanto ministro do Interior e agora como primeiro ministro. Valls também se distingue por ordenar o desmantelamento de acampamentos de ciganos.

“A Frente Nacional ganhou as eleições mas nem precisa fazer o trabalho sujo que reclama”, diz Jeanette Lipari. “Os socialistas apressam-se a fazê-lo, como se não lhes bastasse o desmoronamento eleitoral nas regionais, seguido pela redução a menos de 14% nas europeias. Além de insensíveis do ponto de vista humano, são politicamente suicidas”.

*Título original: "Hollande e Valls cumprem programa neofascista contra imigração"

Fonte: Jornalistas sem Fronteiras