Estados Unidos incrementam pressões militares contra a Rússia
Os Estados Unidos realizam vários exercícios militares de grande envergadura na Europa e outras regiões, ao menos um deles com seus artefatos nucleares, como parte das pressões contra a Rússia depois do agravamento da crise em Ucrânia.
Por Roberto García Hernández*, na Prensa Latina
Publicado 16/05/2014 08:21
O Comando Estratégico (CE) do Pentágono, cuja chefia está em Offut, estado de Nebraska, leva a cabo de 12 a 16 de maio as manobras Global Lightning 2014 (Relâmpago Global), com a participação de duas dezenas de bombardeiros estratégicos B52 e B2, capazes de portar armas atômicas.
De acordo com meios de imprensa estadunidenses, o resto dos componentes de suas unidades nucleares em toda a órbita cumprem algumas dinâmicas para o evento.
"Este exercício proporciona oportunidades únicas para incorporar as tecnologias mais recentes em apoio às missões de nossas forças com o fim de enfrentar ameaças atuais e futuras aos Estados Unidos e nossos aliados", declarou o chefe do CE, almirante Cecil Haney.
Segundo o anúncio oficial, o objetivo é "demonstrar a flexibilidade e capacidade de resposta", ainda que o comando militar se esforce em declarar que as manobras não têm nenhuma relação com acontecimentos da "vida real".
No entanto, sua realização coincide com outras atividades similares de grande envergadura do Pentágono.
Outro anúncio oficial do Departamento de Defesa assinalou que em 15 de maio começariam em território europeu as manobras Combined Resolve II, (Resolução Combinada) com a participação de mais de quatro mil militares de 13 países, entre eles Romênia, Bulgária, Geórgia e Lituânia.
O tenente-coronel Carter Price, porta-voz das unidades de cavalaria com sede em Fort Hood, estado do Texas, que participam nas manobras, disse que "esta é uma forma de duplicar nossas capacidades na área com vistas a reagir diante de qualquer contingância, quando seja necessário", em alusão à crise ucraniana.
Os exercícios Combined Resolve incluem ações com o uso de fogo real, o que complica a situação diante da possibilidade de qualquer incidente com as unidades russas que protegem as fronteiras terrestres e marítimas dessa nação euroasiática, opinam especialistas.
Sua realização tem lugar em momentos em que "os aliados de Washington estão nervosos" frente à resposta do Kremlin ao golpe de Estado na Ucrânia que derrocou o presidente Viktor Yanukóvich, e em particular após a adesão da Criméia a Rússia, assinala um artigo publicado em 12 de maio no diário “Stars and Stripes”. Como parte destas intenções de Washington para incrementar as pressões contra a Rússia, as Forças de Operações Especiais (FOE) estadunidenses começaram um Treinamento de Intercâmbio Conjunto e Combinado (EICC, na sigla em inglês), que durará ao menos até julho próximo, em cinco nações do Leste europeu.
O EICC tem como objetivo reforçar as ações dos Boinas Verdes do Exército, os fuzileiros navais e outros elementos que integram ditas unidades de elite do Pentágono.
Também, outros agrupamentos das FOE realizarão no final de maio o exercício Flaming Sword 2014 (Espaga flamejante) na Letônia, do qual participarão sete nações e tem por finalidade familiarizar as tropas com suas homólogas locais.
Unidades alocadas ao Comando Europeu das FOE (Soceur, na sigla em inglês), com sede em Stuttgart, Alemanha, iniciaram em 7 de maio o exercício Spring Storm (Tempestade da Primavera) na Estônia, como parte do plano para manter uma presença persistente na região, assinala uma nota de imprensa do Pentágono.
Segundo um porta-voz de Soceur "sempre temos feito este tipo de exercícios, mas o que há de novo é que estas unidades agora estarão ali de forma ininterrupta", como resposta à posição da Rússia com respeito ao conflito na Ucrânia.
No final de abril passado, os Estados Unidos enviaram à Letônia, Lituânia e Estônia cerca de 600 paraquedistas da 173ª Brigada Aerotransportada, com sede em Vicenza, Itália, para participar em exercícios bélicos.
O Pentágono deslocou, também, 18 aviões caça F16 para a base de Lask, na Polônia desde Spangdahlem, Alemanha, com o objetivo de participar em manobras militares conjuntas e combinadas Baltops, no mar Báltico.
Nas últimas semanas, o comando militar estadunidense também enviou aviões de combate F15 e aeronaves cisterna KC135 para incrementar as missões de patrulha nas proximidades das fronteiras de nações da Europa Oriental com a Rússia.
Desde finais de abril, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enfrenta fortes pressões de grupos conservadores que exigem uma postura mais agressiva contra Moscou diante do agravamento da crise na Ucrânia.
Os republicanos no Congresso pedem ao presidente que adote ações concretas para implementar a estratégia de Washington e seus aliados ocidentais em apoio às autoridades estabelecidas em Kiev, depois do golpe de Estado de fevereiro.
Para a senadora republicana Kelly Ayotte, as medidas punitivas da Casa Branca contra Moscou, depois da adesão da Criméia à Rússia, "são insuficientes" e não produzem os efeitos desejados.
Por sua vez, seu correligionário Luke Messer, membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmara de Representantes, sugeriu que Washington deve se preparar para enviar ajuda militar à Ucrânia, incluindo armas antitanques.
Os aliados europeus preferem não impor medidas punitivas de grande envergadura no plano financeiro, pois temem que a Rússia interrompa o fluxo de gás natural a seus respectivos países ou que ditas represálias molestem os empresários russos que vivem e gastam seus capitais em bancos europeus, assinala um artigo recente do diário “The Hill”.
O debate sobre a crise ucraniana também atinge o Pentágono, em particular o chefe das tropas estadunidenses na Europa, general Philip Breedlove, que é partidário de elevar a níveis sem precedentes a presença militar no velho continente.
De acordo com um comentário do sítio de internet The Daily Beast, a atitude do general rebate as expectativas de Obama e do secretário de Defesa, Charles Hagel, que preferem o envio limitado de tropas a esse teatro de operações.
A publicação dimensiona que alguns membros do Congresso, seus assessores e funcionários do Pentágono disseram que Breedlove propôs em um encontro com os legisladores, um intercâmbio mais extenso de informação de inteligência com o governo de Kiev a respeito dos planos e movimentos das forças armadas russas.
Enquanto isso, Hagel intensificou nas últimas semanas os contatos com seus aliados do Leste europeu, diante do que porta-vozes de seu gabinete qualificaram como a "ameaça" da presença de tropas russas na fronteira leste e sul da Ucrânia.
*Jornalista da redação estadunidense da Prensa Latina.