Moradia estudantil: É preciso avançar nas políticas de permanência
Segundo dados do Censo, realizado em outubro de 2013, o Brasil tem mais de sete milhões de alunos no ensino superior. Com a facilitação do ingresso dos candidatos, por meio de programas como o Universidade Para Todos (Prouni), o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa de cotas, fica cada dia mais fácil escolher o que e onde estudar.
Publicado 14/05/2014 09:39
Mas se a vida de universitários já não é fácil, a daquele que sai de sua cidade, ou até mesmo de seu estado, é mais complicada ainda. Por isso, junto ás novas vagas, cresce também a necessidade de projetos de assistência estudantil.
Estudar em uma universidade de renome é o objetivo de muitos de nossos jovens. O desafio de iniciar um novo ciclo leva muitos deles a saírem de suas cidades e se adaptarem a uma nova rotina. Muitas vezes a grade horária, com aulas em diferentes períodos do dia, não permite que o estudante trabalhe, ficando assim dependente da família. Quando se trabalha o dinheiro até vem, mas o tempo para estudar fica escasso. Morar longe da universidade também é um desafio, pois ficar após as aulas para fazer trabalhos ou discutir as aulas com os colegas fica complicado pra quem tem horário apertado.
O programa de moradia estudantil ajuda no fortalecimento da organização dos estudantes, propiciando um espaço de debates políticos e pedagógicos, acesso ao esporte, lazer e cultura. Morar em uma M.E. significa ter, o tempo todo, estudantes ao seu lado, contribuindo no desenvolvimento acadêmico, partilhando ideias, estudando junto.
A diretora de assistência estudantil da UNE, Flávia Hellen, afirma que “as moradias estudantis ainda não conseguem atender a demanda. Os estudantes precisam estar mobilizados na luta pela ampliação de verba no Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) para garantirmos mais casas de estudantes, creches e política de permanência [na universidade] e assistência estudantil”. Flávia esclarece também que “para a UNE a assistência estudantil é estratégica não só para garantir a permanência, mas como instrumento de emancipar os estudantes para que eles participem da universidade e sejam críticos à realidade na qual estão inseridos”.
Casa do Estudante do Paraná
A Fundação Casa do Estudante do Paraná (CEU) tem 63 anos de serviços prestados aos estudantes. A casa, que fica próxima à Universidade Federal do Paraná (UFPR), oferece um quarto (espaçoso) que deve ser dividido entre dois colegas, cozinha comunitária, biblioteca, salão de jogos, quadra poliesportiva e até uma capela que é utilizada para apresentações artísticas.
A administração fica por conta de seus próprios moradores, por meio de doações, trabalho voluntário e um rateio, realizado todo mês, para cobrir gastos de água, luz, manutenção, etc. Apesar desta autonomia, quando solicitado, os administradores devem prestar contas à universidade.
Esta é a principal moradia estudantil da América Latina. São 365 vagas, porém, devido a uma reforma que já dura cinco anos, o número de vagas disponíveis é de 183 atualmente.
“Temos a finalidade de ajudar quem vem de longe. Os quartos são divididos em dois, por isso fazemos uma avaliação psicológica. Isso é um fator determinante, pois zelamos pelo bom convívio. Somos uma família de 180 pessoas e nossas vagas são muito concorridas”, afirma o estudante do segundo semestre de engenharia elétrica da UFPR e 1° Vice Presidente da Casa, Fabrício Camargo Maciel.
Moram nesta residência apenas homens, porém, foi aprovada no início deste ano a disponibilização de vagas para mulheres. Isso deve acontecer quando a reforma for concluída, no meio do ano.
Os moradores do local fazem com que o lugar funcione de maneira que todos beneficiem o colega e também sejam beneficiados. “Um ponto importante é a integração [entre os moradores]. Sempre terá alguém que pode te ajudar, inclusive na gestão. Temos inglês, francês, espanhol, teoria musical, aula de violão e até artes marciais. Se o cara fala bem ou sabe algo, ele dá o curso”, esclarece Fabrício.
A Casa do Estudante do Paraná está expandindo seu processo de divulgação. Para maiores informações acesse o blog da CEU.
Corredor Vergueiro
Em São Paulo, o corredor Vergueiro concentra mais de 100 mil alunos de diversas universidades em uma única rua, porém não conta com nenhum tipo de assistência aos alunos. Comer nesta região é caro e as opções são muito limitadas. Morar, só em república, com média de 700 reais por quarto.
A presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), Carina Vitral conta que foi iniciada uma discussão junto à prefeitura para estabelecer um projeto para o corredor: “Fizemos uma reunião com o prefeito [Fernando] Haddad, onde a gente apresentou a situação do estudante paulistano. Nossa ideia é conquistar uma praça universitária que tenha política de restaurante universitário, creche e também espaços de integração para cultura e ocupação da cidade. Examinamos o corredor Vergueiro e apontamos diversos prédios abandonados que podem virar moradia para os estudantes. A prefeitura se posicionou com bastante interesse. Dentro do Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg) debateremos junto à prefeitura esta questão. Por isso achamos que é uma questão de médio prazo”, completa.
Fonte: UNE