CTB repudia exclusão da questão de gênero do PNE
No mês de abril, a comissão especial que analisa o Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados foi marcada pela discussão de gênero. Grupos religiosos pedem que a questão seja retirada do texto do plano.
Publicado 06/05/2014 10:20
A CTB emitiu uma nota em repúdio a esta postura que “tenta impor um retrocesso ao texto do PNE”, diz o documento.
Leia abaixo a íntegra da declaração:
Apesar dos avanços significativos na educação brasileira, ainda detectamos um atraso educacional, comprovado pelos dados da pesquisa Unicef de 2010 que revelam que no Brasil há 3,7 milhões de crianças e adolescentes fora da escola. Dos 1,6 milhão de jovens (15 a 17 anos) que deveriam estar no ensino médio abandonaram o estudo. Portanto, consideramos que há necessidade de se construir políticas públicas que assegurem a construção do Estado laico.
Durante quase quatro anos, nos posicionamos em defesa de um PNE (Plano Nacional de Educação) democrático, que contribuísse para a superação das desigualdades no nosso país. Entre as propostas está a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública e/ou privada.
No entanto, um ponto fundamental entre as propostas é a inclusão da ideologia de gênero, que pode ser introduzida já nos primeiros anos de ensino das crianças em escolas brasileiras.
O PNE foi enviado ao Congresso Nacional, em 15 de dezembro de 2010, composto por 10 diretrizes e 20 metas para as políticas voltadas à educação no próximo decênio. Após tramitar no Senado e muita batalha, o texto retorna à Câmara dos Deputados com significativas alterações no relatório final. Após ser avaliado pela Comissão Especial, o Plano deve ir à plenária e a expectativa é que seja aprovado até o fim do mês de abril.
Contudo, como se não bastasse as alterações do Senado, a educação brasileira sofre mais um golpe desferido por setores religiosos contrários o que chamam de “ideologia de gênero”.
Grupos reunidos no Congresso, principalmente na bancada cristã formada por deputados do PSDB, PMDB e PSC, exigiram a mudança no texto do relator Ângelo Vanhoni (PT-PR), do artigo 2º inciso III, que adotava em seu texto o conceito de gênero, superando o generalismo do “masculino e feminino”.
O relator acrescentou o seguinte texto “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”. Os grupos religiosos: evangélico, neopentecostais e católicos conservadores, que se intitulam “pró-vida”, vão contra o texto e defenderam o seguinte: “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação”.
Dos 26 deputados presentes na votação da Comissão Especial, 15 votaram a favor da retirada da questão do gênero no artigo 2º, e 11 contra. Uma decisão que representa grave retrocesso ao processo educacional brasileiro.
A CTB e demais entidades educacionais ligadas à defesa da educação de qualidade para a superação das desigualdades, repudia essa postura que tenta impor um retrocesso ao texto do PNE.
Isso significará o avanço do fundamentalismo numa área estratégica, que é a educação. Uma atitude equivocada do ponto de vista pedagógico, conceitual, político, e, no mínimo, homofóbica.
Promover a igualdade de gênero é abrir o diálogo e criar espaços para se trabalhar todas as dimensões das desigualdades, problematizando a exclusão e o preconceito. Significa realmente promover a cidadania com a inclusão de todos e todas, “com vistas à superação das desigualdades sociais, étnico-raciais, de gênero e de orientação sexual bem como atendimento aos deficientes. (Conae2010)”.
A CTB conclama o movimento sindical a se mobilizar para barrar esse retrocesso. Pois a votação termina na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, mas continuará no plenário dessa casa. Será necessário alertar a sociedade para os perigos que estarão embutidos em atitudes como essas.
O PNE pode se constituir em mais um instrumento que poderá cercear aqueles que insistem em discriminar. Para tanto, é fundamental entender que a relação entre educação e gênero se constitui em elemento que contribuirá para a perspectiva da superação do machismo, com a garantia de direito para todas as pessoas e na qualidade da Educação, independente do gênero ou da orientação sexual do estudante.
Não ao retrocesso. Por um PNE democrático, laico e inclusivo!"
Fonte: CTB